Capítulo 16 - Jesus

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Melhor capítulo de toda a trama!♡

Capitulo Dezesseis

— Quando eu tinha seis anos, meu padrasto casou com minha mãe. — Minha voz estava tremula, mas Deus me dava força para continuar, era isso que Ele queria, queria que eu contasse meu testemunho para que alguém viesse a ser salvo, possivelmente. — Eu não tinha noção do que me estava acontecendo. Meu pai tinha sumido e minha mãe apareceu com outro homem. Outro que era legal, me dava presentes e sempre saía comigo pros lugares que eu queria. Com o passar dos anos eu tive um sonho. Na verdade aquilo foi um pesadelo. Eu via o Henrique, Henrique é o meu pai, é que eu não o chamo de pai — Alex assentiu e eu continuei: — Eu vi o Henrique em cima de mim. Ele me acariciava e parecia se divertir com isso. — Agora era a minha vez de chorar silenciosamente. — Eu não me lembro de estar chorando ou não. Eu me lembro de estar com medo, muito medo.

"Estávamos sozinhos em casa, nada conseguiria detê-lo. Minha mãe conta que eu tinha quatro anos. Quando eu achava que aquilo nunca mais iria parar, minha mãe chegou em casa com o tio João e acabou vendo aquilo tudo. Meu pai fugiu. Minha mãe disse que por ora não o denunciou porque eu o amava muito, sempre queria vê-lo, se ele fosse preso por abusar de uma criança, talvez fosse morto dentro da cadeia. E Henrique é rico. Na verdade, a família dele é. A casa que nós moramos hoje foi um presente dele para mim nos meus treze anos. Ele me deu uma quantia de dinheiro e comprei o terreno e construí a casa."

"Mas, voltando ao sonho, eu o tive quando tinha dez anos. Perguntei para minha mãe se aquilo era verdade e ela disse que sim. Aí sim que eu sofri. Até então eu não tinha contato com meu pai, mas o achava um cara legal, mesmo deixando sua família, eu o achava um cara legal. Eu quis denuncia-lo. Mas não falei nada para ninguém. Só que antes de denuncia-lo eu precisava de um norte. Meu coração estava dilacerado. Se o meu próprio pai fez aquilo comigo, quem me garantia que outro não faria?"

Quando eu fechei minha boca, percebi que haviam algumas pessoas prestando atenção em nossa conversa. Pessoas das mesas vizinhas. Eu não me incomodei. Deus poderia falar com algumas delas. Alguém poderia precisar do amor de Deus que eu também precisei.

Beberiquei um pouco de suco para tirar o gosto amargo da boca por causa de algumas lágrimas que caíram ali dentro. Alex me ofereceu um guardanapo e eu me sequei. Ele também tinha algumas lágrimas.

— Eu corri para a casa da Patrícia. — Alex assentiu. — Eu disse pra ela que estava com medo e que a qualquer momento eu poderia me jogar na frente de um ônibus para me matar. Eu não queria mais viver com aquele medo que tomava conta de mim. Eu tinha medo de sair na rua e ver outro homem que poderia me machucar de novo. Tinha medo até mesmo de um mosquitinho que fizesse barulho perto de mim. Isso tudo durou uma semana. A Patty não sabia como me ajudar, eu não contava para minha mãe e então decidi, numa manhã de terça feira, que iria me matar. Eu nunca soube nadar, eu sequer cheguei perto de um lago ou uma piscina, então eu resolvi pular da Ponte JK.

"Catei o dinheiro da minha passagem da escola, faltei aula esse dia e fui. Nós morávamos no Riacho Fundo I, então eu precisava pegar dois ônibus. No segundo ônibus eu encontrei alguém. Uma mulher. Ela era sorridente e alegre, eu fiquei com raiva dela, eu estava triste e morrendo por dentro e ela feliz. Quando ela se sentou ao meu lado, eu virei a cara para não olhar para ela. Mas ela falou comigo."

"Ela dizia: 'você é muito linda pra morrer, sabia?' Eu me questionei como ela sabia daquilo, eu não tinha contado para ninguém. Nem mesmo para a Patty. 'Sabia que há alguém que pode tirar essa dor de você?' ela tornou perguntar. 'Moça, não fala o que não sabe!' eu reclamei com ela. Ela não estava respeitando meu espaço pessoal. 'Posso te contar sobre alguém que pode te ajudar?' e pra que ela calasse a boca, eu deixei. Meu ponto já estava chegando, seria fácil parar a conversa e descer da condução."

"Ela começou a me falar de Jesus. Sim, Jesus! Ela disse que ela tinha síndrome do pânico e Jesus curou ela. Jesus tirou aquela dor e aquela angústia que tinha no peito dela. Eu comecei a chorar por que eu sabia que aquela era minha única opção. Quando ela disse que Jesus me amava e não gostaria de me ver triste e sem vida, eu chorei até me acabar. Não percebi que o ônibus tinha passado da ponte a muito tempo e nem que aquela mulher me ajudou de alguma forma. Eu havia entrado no ônibus de um jeito e sairia de outro. Ela sorriu e me abraçou. Disse que Jesus me amava. Naquele momento eu senti aquela dor sair, sabe? Meu coração ficou mais leve e aquele desejo de morte tinha saído."

Meu sorriso estava enorme.

— Quando cheguei em casa aquele dia, eu parecia outra pessoa! Eu corria, pulava, brincava e não tinha medo. Medo de nada. Jesus tirou minha dor, Alex, Ele pode tirar a sua também. Minha mãe tem catara a muitos anos. Já era para ela ter ficado cega a muito tempo, mas ela ainda enxerga muito bem para alguém com a doença. Ele pode curar teu pai. Jesus disse que só nEle achamos a vida verdadeira. Sem Ele nós não vivemos, nós existimos, e viver de verdade é tão bom! Viver de verdade não é sorrir todo dia ou achar que vai ser feliz a todo momento. Viver de verdade é saber que mesmo passando por momentos difíceis, teremos alguém que nos ajuda e nos segura as mãos.

"Jesus é bom! Ele nos quer bem e eu tenho certeza que Ele pode fazer alguma coisa por tua família e por você. Esse vazio e essa tristeza vai sair daí quando Ele chegar. Deixa Ele tomar teu coração ao ponto de você querer viver com ele eternamente. — Eu me calei por uns segundos e ouvi Deus falar ao meu ouvido. Eu simplesmente repetia aquilo que Ele dizia: — Deixa de lado os traumas do passado. Ela se foi para que novas coisa viessem em sua vida. — Eu não fazia ideia do que estava falando mas Deus sabia. E parecia surtir efeito porque Alex chorava como uma criança. — A vida dela era crucial pra você naquele momento, mas agora não é mais. Se permita sentir a Deus. Sentir Jesus te ajudando. O coração precisa ver o quão bom Ele é. — Deus se calou e eu entendi o que era para eu fazer ali. E o fiz: — Alex, você quer que Jesus preencha o seu coração?

***

Beijo,
  Suully

♡26/11/2018♡

A Vizinha Cristã (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora