Sacrifício

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Capitulo IV

"Se nós fossemos nos importar com todas as pessoas que estão sofrendo nesse planeta, a vida iria parar."

Dr. House




O clima fora da nave havia mudado, e a neblina havia se tornado mais densa. A porta da nave começa a abaixar, e de dentro sai Matias, segurando em seus braços o corpo do capitão Ivan, atrofiado em posição fetal.

Ele desce devagar as escadas da nave, e deixa o corpo de Ivan a alguns metros dali, e o  frio era quase insuportável, mesmo com as roupas especiais. 

_Ande logo com isso garoto. Não podemos ficar aqui fora por muito tempo. – Diz o piloto enquanto desce as escadas logo atrás de Matias, segurando o corpo do outro recruta.

A luz havia diminuído, e todos já haviam perdido suas noções de tempo.
A neblina escondia qualquer coisa que pudesse se mover, o que tornava o lugar ainda mais amedrontador.

Tudo estava quieto e calmo até então, com exceção de algumas luzes que surgiram de repente no horizonte, vindas da direção da segunda nave.

_Abaixe-se garoto, olhe aquilo. Diz o piloto apontando em direção as luzes. 

E devagar, aparentemente com cautela, as luzes se aproximam cada vez mais deles. 

_ Alguém por aí? – Grita uma voz vinda da neblina enquanto se aproxima mais, até que o uniforme da equipe que estava na nave fica aparente.

Eram quatro dos recrutas que haviam ficado presos na nave Dois.

_Isso será nossa salvação. – Diz Matias se levantando.

Os quatro apertam o passo, e pareciam estar muito bem.

_ Achamos que estivessem mortos! Algo por aqui não deixa que a nave emita nenhum tipo de sinal. – Grita um deles.

Algo no chão, em meio a neblina, brilhava bem perto dos pés daqueles homens. Já não era possível enxergar com clareza o que estava acontecendo.

_Venham conosco até a nave Um! – Matias grita em tom de felicidade. Até que algo inesperado faz com que todos parem.

_AAAAAHHHHHHHH ! – Um grito vindo da nave Um faz os corações pararem por alguns segundos.

Todos os recrutas então param, e olham fixamente na direção da nave, e o terror toma conta deles.

Andando com passos curtos, algo que parecia um humano, descia as escadas. Ele parecia ser bem maior, por volta de dois metros e meio de altura, e formas circulares marcavam seu peito e cabeça. Em sua mão direita ele arrastava o corpo de um recruta, enquanto na sua outra mão, ele segurava a lâmina, que posteriormente havia sido encontrada pelo capitão. Jogado em seus ombros estava outro corpo, porém, sem capacete, e Matias logo o reconhece. O recruta com quem havia conversado por toda a viagem, estava lá, morto junto à criatura.

Ele caminhava lentamente, e só se ouvia o barulho do capacete de sua presa batendo nos degraus da escada da nave. Seu olhar era profundo, e todo seu globo ocular era branco. 

Algo nesse sujeito fazia com que calafrios tomassem conta de todos.

_ O que é aquilo? – Resmunga um dos recrutas do grupo enquanto recuava arrastando os pés para trás.

A criatura se aproximava cada vez mais de Matias, e o garoto, sem reação, apenas conseguia se lembrar do sonho que tivera no avião. Sua mão no bolso segurava firme o colar.

Passo por passo, ele chegava mais perto. Seus pés enormes agora, se encontravam a poucos centímetros de Matias. O sangue que pingava da boca do recruta em seu ombro, se misturava as formas vermelhas em seu peito.
Em seu rosto pálido não havia expressão, e ele mantinha seu olhar para frente.

Sem mesmo olhar para os Matias, ele prossegue seu caminho, ignorando os dois que permaneciam imóveis. O clima de tensão aumentava a cada segundo.

_Ele vai nos matar! – Grita um dos recrutas, e se voltando para trás, ele tenta correr, mas pisa em algo que brilhava no chão.

Nesse mesmo instante, a criatura para de andar e apenas observa.

Uma grande rede vem na direção dos recrutas, prendendo dois deles, e os outros dois conseguem pular para outra direção.

Os gritos de desespero tomam conta do ambiente, e o silêncio que havia a alguns minutos atrás já não existia.

Os outros dois recrutas correm em direção a nave Dois, que ficava a mais alguns metros de distância, e desaparecem na névoa.

A criatura volta a andar, com os mesmos passos curtos e lentos, e ignora a rede, até desaparecer na névoa.

_Filho, o que foi isso? – Resmunga o piloto se sentando ao chão, tomado pelo terror.

Matias olhando para a rede diz:

_Precisamos pegar as mochilas com provisões dentro da nave e sair daqui o mais rápido possível.

Os recrutas presos na rede gritam e se debatem no chão, desesperados por ajuda.

_Temos que tirá-los dali. – Resmunga o piloto enquanto se levanta, olhando para Matias.

_Não podemos nos preocupar com isso agora. Infelizmente isso pode ser uma armadilha. Não sabemos o que são essas criaturas, e o que querem de nós! – Responde ele inquieto.

Então depois de se levantar, ambos se dirigem a nave para pegar o que precisam.

_ Precisamos de comida e água, ou morreremos. – Diz o piloto enquanto andam.

_A propósito, qual seu nome? – Indaga Matias enquanto olhava desconfiado para os lados.

_Alex, meu nome é Alex. Essa foi minha primeira vez como piloto. Primeira e última, pelo que estamos vendo. – Responde ele. – E por que você resolveu vir garoto? – Continua ele.

_Meu pai está em Marte. Ele foi junto das primeiras naves, e o sonho dele era que eu me tornasse como ele. Então não quis decepcioná-lo. – Diz Matias abaixando a cabeça e tirando o colar de seu bolso.

_Eu entendo. Mas você ainda vai reencontrá-lo, tenha certeza. Mas enfim, vamos pegar tudo o que precisamos e sair daqui.

A nave estava escura por dentro, e o rastro de sangue de um de seus companheiros se estendia de dentro da nave, até as escadas, como num filme de terror.
Algumas caixas de suprimentos, e algumas roupas especiais extras estavam num compartimento de emergência. Elas não eram grandes, mas guardavam o necessário para os dois.

_Isso vai nos ajudar. – Diz Alex entregando uma caixa a Matias, e segurando a outra.

_E faz ideia de para onde vamos? – Pergunta Matias ajeitando uma mochila para levar consigo.

Alex responde negativamente com a cabeça e começa a andar em direção a saída da nave. Dali era possível ouvir com clareza o grito dos recrutas.

_Pobres jovens. Não podemos deixá-los ali – Diz ele.

_Devemos nos preocupar com a nossa segurança Alex, não podemos nos arriscar para salvá-los. – Resmunga Matias colocando a mão sob o ombro do amigo.

Ambos descem cuidadosamente a escada, e se dirigem a direção contrária da nave.

Em meio a neblina, as formações rochosas se tornavam assustadoras, e nenhum dos dois sabiam o que poderiam encontrar. Isso fazia com que o medo tomasse conta da imaginação deles.

_Acha que aquela coisa vai voltar? – Pergunta Alex olhando para o céu.

O silêncio de Matias responde sua pergunta enquanto andam em direção ao horizonte alaranjado. 

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