Origem

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"É mais fácil mudar a natureza do plutônio do que mudar a natureza maldosa do homem."

Albert Einstein



Um pouco antes da queda da America do Sul, muitas famílias que possuíam bens preciosos, financiaram vidas novas fora do planeta terra, garantindo uma chance de vida para seus filhos, como aconteceu em todo mundo antes da grande crise.


Nos noticiários, nos jornais, sites... Tudo era referente a colonização espacial. Nas ruas, mães imploravam com seus filhos nos braços por uma vaga dentro dos aviões que levavam as pessoas para os abrigos na Europa, até que chegasse o dia de partida. A criminalidade nos países vinha crescendo, e a violência por parte das forças militares também se notava. Leis Marciais determinavam o rumo do planeta. Os grandes lideres já haviam partido, e Marte foi o primeiro lugar escolhido por eles depois de anos enviando tropas batedoras para diferentes lugares do espaço.

Estados Unidos e Rússia haviam feito uma aliança e dominavam a política da terra, e fixaram suas bases militares e espaciais em território Russo, onde os aviões posteriormente pousariam com os futuros tripulantes.

Barulhos incessantes de motor cobrem qualquer outro som que pudesse ecoar nos grandes campos de uma base em Moscou. O trafego aéreo naquele dia estava superando os limites permitidos, e um avião acabara de pousar.
Nele, havia algumas famílias, e em sua cauda estava estampada a bandeira brasileira.
Ao todo, 130 famílias desembarcaram e se direcionaram à um grande galpão onde ficariam alojadas, e receberiam o treinamento necessário para quando fossem partir.

Os jovens de quinze a vinte e cinco anos foram chamados para um lugar diferente. Um galpão para formação de soldados, onde eles eram selecionados por oficiais para servirem como militares nos planetas que lhes fossem designados.

Filas e filas de garotos iam se formando. O bater de coturnos era quase mais alto que o som dos motores.
Gritos dos generais ecoavam nos galpões, onde eles dispensavam os que aparentavam ser mais fracos.

Um a um, os recrutas diziam em voz alta seus países, idade e nomes, e de acordo com as respostas, formavam-se grupos que se identificavam pela nacionalidade, até que chega a vez de um dos garotos.

Seus cabelos eram escuros e ralos. Estatura média e magro. Ele aparentava ser jovem, e não falava muito.

Assim que o oficial parou em sua frente ele logo falou em tom de surpresa


_Matias, Dezessete, Brasil, senhor.

O oficial então, com o dedo, apontou sua equipe, que não era das maiores, colocando no peito do jovem, um adesivo de identificação.

Matias, em passos curtos se dirigiu até o lugar que lhe fora ordenado, onde perto de uma das paredes, dispersos, estava sua equipe.
Havia em média 40 recrutas, o que era um número bem inferior se comparado a outros grupos.

Passando a mão sobre os cabelos quase que raspados, ele caminhava como quem caminha para um abismo, olhando para baixo, sem expressão. A luz fazia com que as gotas de suor em sua testa brilhassem. Seus dedos não paravam de mexer, como uma mania, ou nervosismo.

Algo era notável nesse garoto.

Chegando frente ao aglomerado, ele percebe uma porta logo atrás de alguns deles, e logo acima dela, uma Bandeira de seu país de origem.
Devagar, ele se senta ao lado da porta, onde alguns garotos conversavam, e tira do bolso um colar que mostrava uma foto de seus pais.

_Levantem-se recrutas. – Diz uma voz firme enquanto a porta ao seu lado abre rapidamente.


Dela sai um homem, vestindo fardas como a dos oficiais, porém, em seu braço direito, era claro ver sua nacionalidade.

_Hoje vocês irão dar início a parte mais importante de suas vidas, tornando-se homens, e defendendo seus companheiros, seja onde for. – Gritou o oficial para os garotos.

Ele caminhava firmemente frente a linha formada, com as mãos para trás, e um bigode que parecia ter sido feito às pressas. Seu olhar era profundo, e emanava orgulho.
Nenhuma arma fazia parte de seus equipamentos, o que chamava a atenção. Na cintura apenas um transmissor, e um coldre vazio.
E parando lentamente de frente ao seu pessoal, ele continua:

_ Vocês serão os primeiros, e se certificarão de que tudo dê certo. Partiremos amanhã de manhã, então, quem quiser desistir, que diga agora.

Dito isso, o sangue quente subiu pelo corpo de Matias. Poderia ele mostrar ser valente, ou voltar para os braços de sua família que ele nunca tivera ficado longe. Ele era um jovem pacifico. Nunca havia se envolvido em brigas, não tinha a menor noção de sobrevivência, e nunca empunhou sequer uma arma.

Alguns jovens então, deram seus passos para trás.
O grupo ia diminuindo gradativamente, provavelmente pelo medo do desconhecido.

Matias escorrega um de seus pés para trás, mas pensa em tudo que poderia aprender, e no orgulho que traria a sua família. Então ele hesita, e permanece, mesmo que trêmulo, junto aos outros.

_ Isso é só? – Diz o oficial seguido de uma risada sarcástica.

Todos permanecem em silêncio. E ele indaga:

_ Imagino que estejamos livres dos covardes agora. Já não se fazem mais homens como antes. Mas enfim, venham comigo, vou lhes mostrar seu alojamento. – Disse ele se direcionando à porta enquanto a fila o seguia.

Lá dentro, camas para oitenta pessoas, alguns armários, e em cima de cada cama, duas mochilas.
O oficial então, para por um minuto, se vira aos garotos e com o dedo começa contar um a um.
O silencio toma conta de todos, até que ele com uma risada o interrompe.

_ Vocês agora são vinte e seis. Esperava que meu pelotão fosse um pouco maior, mas tudo bem. – Disse o oficial com tom de surpresa e com as mãos na nuca.

_ Eu sou o capitão Ivan, e fui escalado para seu treinamento. Espero ter uma boa convivência com cada um de vocês para sermos uma equipe.
Aonde vamos já residem outras equipes, a cerca de dois meses. Temos feito progresso nesse tempo, e para que marte possa ser o lar para nossas pessoas, precisamos de mais segurança.

O silencio prevaleceu no local. Até que o capitão se vira e diz com voz mais baixa:

_ Escolham suas camas, peguem suas mochilas, e se aprontem. Vejo vocês amanhã de manhã.

Sendo assim, mais aliviados, os jovens se espalham pelo alojamento, cada um sentando-se em suas respectivas camas.

Matias então se sentou numa cama próxima da parede da porta. Observou os outros a sua volta, e depois de um minuto de hesitação, e mais tranquilo, pegou uma das duas mochilas e a abriu. De dentro, ele tirou um uniforme de cor preta fosca, que aparentava ser emborrachado, parecido com um macacão, um par de botas, e um bracelete, que parecia pesar em torno de três quilos.
Nele, havia alguns botões e uma tela, que eram quase do tamanho de um antebraço inteiro.

Já na segunda mochila algumas quatro ou cinco camisetas regatas brancas, e três calças de moletom pretas.
Mais ao fundo, ele encontrou um cinto com alguns bolsos, mas todos vazios.
Enquanto ele analisava o que havia encontrado, na cama ao lado ele ouve um de seus companheiros:

_ Droga, nenhuma arma, nada além desses uniformes ridículos... – Quando é interrompido por outro deles que diz:

_ Talvez não precisemos delas, ou receberemos algo depois.

_ Vocês querem armas sem ao menos saberem atirar! – Diz algum outro garoto ao fundo, dando inicio à uma confusão.

Matias ainda recluso, arruma suas coisas em sua mochila e deita em sua cama, enquanto na única janela do lugar, era possível ver a lua começando seu trajeto pelo céu alaranjado.


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