O quarto estava escuro, mas eu sabia onde estava o pequeno frasco de comprimidos de tarja preta. Meu corpo já desistira da luta, mas lá estavam os comprimidos. Já perdi a conta de quantas vezes perguntei o motivo por eu estava passando por todo esse sofrimento, mas meu corpo padece e me sinto tão fraco para continuar que vejo a morte como a solução definitiva.
As lembranças da minha vida me acompanham dia após dia, não consigo acreditar no sorriso do meu pai quando ele diz que esta tudo bem, quando sei que ele chora a noite e se pergunta por que Deus está fazendo isso com ele.
O despertador avisou que era seis da manhã, havia uma luz fraca que atravessava a janela de vidro do meu quarto. Eu podia ver o guarda roupa branco com preto, a escrivaninha com meu computador, o criado mudo do lado esquerdo da cama, com a luminária.
Quando o despertador marcou seis e dez e soou um pequeno alarme, estava na hora. Abri a gaveta do criado mudo e peguei o frasco de comprimidos, o abri, o virei na palma da mão e deixei um comprimido cair na minha mão. O joguei na boca, e o mastiguei. Fechei o frasco e coloquei em cima do criado mudo e o fitei.
– Lucy – meu pai me chamava.
– Já estou indo – o respondi.
Levantei-me e fui ao banheiro. Meu rosto estava visivelmente cansado, dei uma olhada rápida e fui para o chuveiro. Liguei o chuveiro e deixei que a água quente relaxasse todos os meus músculos, só debaixo daquela água eu poderia esquecer os meus problemas.
Tudo havia mudado desde que... Bem, desde que descobri que tenho uma doença rara em meu "peito". Exames periódicos são feitos na esperança – do meu pai – que minha expectativa de vida fosse alongada.
Para o meu pai foi à pior coisa que aconteceu desde que a minha mãe morreu. Ele demorou a se recuperar foi muito difícil para nós, mas me perder era algo que ele não podia suportar e muito menos aceitar. Os remédios eram idéias dele, eu francamente sabia que eles não faziam efeito e ele também, mas dizer isso a ele era lhe tirar as poucas esperanças que ele possuía.
Desliguei a ducha e voltei para o quarto, abri o guarda roupa, e peguei a farda, uma calça vinho e uma blusa branca com a insígnia do colégio Elite.
– Lucy esta na mesa! – gritou meu pai.
– Já estou indo.
Sai do quarto devidamente fardado, vou para a cozinha e sento-me em cima da mesa de vidro que fica ao lado da parede, a minha frente a pia ao seu lado a geladeira do lado oposto o fogão e um balcão que divide as áreas cozinha e sala.
– Sente-se na cadeira.
John me olhou com ternura, mas seus olhos verdes estavam cansados, o cabelo preto naturalmente desalinhado.
– Como foi sua noite?
Ele me olhou levemente enquanto eu me sentava e pegava uma xícara.
– Bem tranqüila – ri, tentando dar a impressão que eu realmente dormira bem.
O segui com os olhos enquanto ele colocava na mesa uma jarra de suco de laranja, a leiteira e a garrafa térmica com café.
– Tome seu café – ele me olhou com um meio sorriso.
Eu me via como um fardo para meu pai e mentir para ele era e é errado – eu sei –, mas nestas circunstâncias eu tenho que fazer o máximo para que ele possa pelo menos uma vez dormir sem verificar se não preciso de nada a cada quatro horas. O café da manhã foi silencioso como sempre, meu pai evitava me olhar nos olhos para não desabar e como todos os dias úteis da semana ele me levou paro colégio.
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Avernal
Teen FictionOBRA REGISTRADA NA FUNDAÇÃO DA BIBLIOTECA NACIONAL. PLÁGIO É CRIME! "Já perdi a conta de quantas vezes perguntei o motivo por eu estar passando por todo esse sofrimento, talvez para puro divertimento do diabo que não se cansa de me ver em um e...