Capítulo 12 - Uma breve conversa

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O choque correu por cada centímetro do meu corpo, o preenchendo. A dor se instalou em meu peito e aos poucos as lagrimas brotavam e escorriam pelo meu rosto inerte, preso em um estado vazio sem vida ou emoção.

Desde o dia em que eu soube que...

Meus olhos estavam fixos em um vazio, minha alma estava presa em um cemitério gelado, morrendo aos poucos e não havia nenhum motivo para lutar.

A chuva caia do lado de fora, lavando o chão, esfriando o meu corpo. A água caia lentamente, mas com uma força avassaladora ela teimava em tentar limpar o chão sujo de sangue que permanecia ali, intacto.

Quanto tempo fazia desde aquele dia?

Eu havia perdido a noção de tempo presa no meu quarto, a porta estava trancada e esta só era aberta três vezes ao dia para a entrega e retirada de alimentos, em horários específicos já que eu não estava falando com meu pai e muito menos recebendo a visita de Math.

Uma brisa rompeu a janela, inundando o quarto com o cheiro de areia molhada ao mesmo tempo tranquilizadora e inquietante.

Como eu poderia suportar viver?

Como?

Porque eu devo estar nesse calvário?

Eu devia desistir de tudo? Só para poder velo, ficar com ele e estar ao seu lado eternamente.

As coisas funcionariam assim não é?

Um vento forte invadiu o meu quarto em resposta ao meu pensamento me fazendo lembrar dele. E da promessa que fiz em nome dele. Eu jamais iria tentar me matar novamente, por ele e pelas pessoas que eu amo.

Meus olhos se encharcaram novamente, a dor era insuportável, então eu desabei no chão frio do quarto que agora estava mal iluminado, a noite chegara.

Eu podia ouvi-lo em meu peito.

Pulsando.

Bombeando.

Enviando vida ao meu corpo, mas para que?

Não havia uma vida sem Lucas, não havia nada além da dor que sufocava o meu peito e machucava o "nosso" coração.

Quando dei por mim eu estava deitada no chão frio, meus olhos estavam encharcados e inchados – eu havia chorado durante a noite toda – me levantei devagar olhando para a janela aberta e me sentei no chão,

– Bom dia – disse Math.

Ele estava do meu lado, seu cabelo cacheado esta maior, seus olhos azuis estavam ternos e seus lábios mostravam um singelo sorriso.

– O que faz aqui? – disse rispidamente.

Ele me olhou brevemente, abaixou a cabeça e se sentou na cama, ele voltou a me olhar, não diretamente, mas eu sabia que ele me olhava.

Houve um suspiro.

– Ainda não me perdoou? – ele disse com a voz arrastada.

– Vocês não tinham o direito de me enganar. – olhei para o chão.

– Você não imagina o quanto eu pensei nisso. – havia dor em sua voz – Eu sempre me perguntei se me perdoaria, se nos perdoaria pelo o que fizemos. – Ele olhou pela janela para a luz do sol que ilumina as arvores do lado de fora. – Só fizemos, porque pensamos que era o melhor.

– O melhor? – disse ela ultrajada – Não tomem as minhas decisões.

Ele ficou pensativo por um momento, olhou para as arvores que balançavam tranquilamente do lado de fora em uma dança majestosa ao som da mais doce melodia do vento matinal. Ele ficou distante por um momento.

– Eu a amo e você sabe disso. Só fiz o que me parecia ser certo, eu posso conviver com a raiva que tem de mim contanto que você esteja bem. É somente isso que me importa. – ele esboçou um leve sorriso quase imperceptível.

Houve um silencio.

– Eu queria que ele estivesse aqui – sussurrei.

– Todos nós queríamos – ele tocou o meu ombro, me reconfortando – Eu queria agradecê-lo algum dia.

– Pelo que?

– Por você esta viva. – ele deu o mesmo sorriso apagado, se levantou e pulou a janela do quarto deixando um leve aroma cítrico como sinal de sua estada ali.

O céu estava azul, nuvens brancas de todas as formas e tamanhos valsavam no céu. Os passarinhos voavam no ar indo e vindo em um passeio ou a procura por alimento.

A neve sumira há algumas semanas atrás e não havia mais nenhum vestígio de sua estadia. As flores começavam a desabrochar na praça e no canteiro central das avenidas que havia na cidade.

Essa era a primeira vez em muito tempo que eu saia do meu mundo, o All Star rasgado e velho estava em constante atrito com o chão, eu vestia uma calça jeans e uma blusa preta, em uma das minhas mãos havia um ramalhete de rosas brancas.

O enorme portão de ferro enferrujado rangeu quando eu o empurrei, caminhei pela pequena trilha de tijolos retangulares por entre os vários túmulos.

O ambiente era frio, mas era estranhamente acolhedor, a melancolia fazia com que meu peito se aperta-se como se o meu coração não quisesse que eu estivesse ali.

Caminhei por entre as sepulturas, mausoléus e uma estatua de um anjo esculpida a mão em uma rocha ate encontrar o tumulo de Lucas.

Coloquei o ramalhete em cima e li a inscrição entalhada no tumulo:

"Aqui jaz Lucas Eithan Amell filho amado, namorado, irmão e amigo incomparável."

"Enquanto o meu coração pulsar eu estarei com você... E com as flores morrem com a chegada do outono... Elas renascem com a chegada da primavera"

Lagrimas escorriam pelo meu rosto.

– Ele a amou até o fim. – a mão de Math tocou meu ombro.

– O que? O qu... Que você faz aqui? – o olhei surpresa.

– Você não é a única que "gosta" dele. – ele riu brevemente mais abertamente como não fazia há algum tempo.

Só aí percebi que eu sentia falta do velho Math, mas logo ele retraiu o riso.

– Eu sei que é difícil de entender, mas agradeço a ele por você esta viva. – continuou ele.

– Eu preferia esta morta. – sussurrei.

– Não diga isso. Ele te deu a vida porque a amava e prometeu a você que nunca a deixaria não foi? Eu imagino que ele tenha dito isso. Não quero parecer precipitado, mas ele te amou ate o ultimo segundo e acho que no final de tudo, talvez ele soubesse que a salvaria.

– Mas...

– Shh! – indicou com o dedo indicador sobre os meus lábios – Só tente entender que qualquer um de nos daria a vida para manter a sua. – ele colocou um ramalhete de orquídeas no tumulo de Lucas – Ate Amanhã Lucas. Eduarda. – e caminhou em direção a saída do cemitério sem presa alguma olhando para o céu azul.

Uma brisa atravessa o cemitério, fazendo com que o meu cabelo dança-se no ar e enxuga-se minhas lagrimas.

– Eu sempre o amarei. Sempre. – sussurrei por fim.

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