Capítulo 10 - Uma visão da morte

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Eu estava parada em frente a uma enorme porta de pedra no meio do nada. O céu estava cinza, uma nevoa cobria o chão. Montanhas negras surgiam através do solo o rasgando, parecia destruir suas entranhas para se libertar de sua prisão, a água começou a brotar da terra rachada, seca e morta e em meio a tantas montanhas eu estava em frente entre duas onde havia uma enorme pedra de mármore branco e nela uma serpente preta de mármore - que parecia ser a tranca - cravada à uma enorme porta. Olhei em volta em busca de uma saída ou por um sinal de vida além da minha. Dei as costas para a enorme porta.

Houve um ruído.

Virei-me bruscamente para olhar para a porta que rangeu e uma trilha de areia branca surgiu em direção à gigantesca porta. A cobra de mármore negro começou a ganhar vida, estalos se sucederam então ela se curvou em minha direção.

- Há quanto tempo... – disse a cobra em meio ao sibilo.

- O que disse?

Ela sibilou, mas parecia que ela estava sorrindo, seus olhos se focaram em mim e eles brilharam.

- Vejo que ainda não recuperou o que perdeu.

- E o que eu perdi?

Um novo sibilo

- Esta é a questão criança, nem mesmo você sabe o segredo que guarda em seu coração.

Minhas mãos em modo automático se aproximaram de meu peito. Eu podia ouvi-lo, pulsando em um ritmo tranquilo. Eu deveria esta com medo da enorme cobra que me olhava com aqueles enormes olhos de rubis vermelhos, mas ela me parecia familiar. Como se eu...

- Você não deveria esta aqui para começo de conversa. - disse a cobra novamente.

- E aonde eu deveria estar?

- Em casa. O lugar mais resplandecente onde apenas seu coração pode guia-la de volta. Mas cuidado...

- Com o que?

Então a porta se abriu lentamente fazendo com que a cobra se retraísse e voltasse a sua posição original, presa e sem vida. Quando a porta finalmente ficou totalmente aberta em meio a uma imensidão negra de dentro saiu uma voz doce e ao mesmo tempo melancólica.

- Venha - disse a voz.

Em meio à escuridão do seu interior surgiu uma mulher de pele alva, olhos azuis e de um doce sorriso, vestida de branco.

- Venha aqui. Quer ver sua mãe não quer?

- Minha mãe? Ela esta aí? - olhei surpresa para a dona da voz.

- Sim - disse-me em meio a um sorriso.

Eu estaria morta? Aqui é o céu? Eu iria ver minha mãe? Eu merecia vela? Eram tantas perguntas em minha mente, mas desisti de tentar processar toda aquela informação naquele momento, me pus a correr ate o portão quando esbarrei em alguém e cai no chão branco.

- Me desculpe - disse ele.

Eu conhecia aquela voz, ela era estranhamente familiar. Levantei o meu rosto e o vi. Seu rosto trazia um sorriso esboçado, sua pele parecia mais clara, seus olhos estavam cristalinos, sua pele estava macia como sem igual, ele estava quente e aconchegante e atrás de si parecia que havia mil estrelas brancas cintilantes.

Um flashback.

Como uma fita cassete toda a historia da minha vida passou nos meus olhos, como um lápis que preencheu todas as folhas em branco em minha mente. Ele me estendeu a mão e eu o abracei em meio a lagrimas em meu rosto.

- Eu a feri? - ele me olhou preocupado.

- Não. - eu disse em meio ao meu choro. - Não me deixe, por favor.

Houve um breve silencio.

- Eu sempre vou estar com você. - disse-me ele.

E mesmo que eu não pudesse ver seu rosto por causa das minhas lagrimas estúpidas eu sabia que ele estava sorrindo.

- Onde estava indo? - perguntou-me.

- Ver minha mãe... Eu acho...

Ele se virou e olhou para a enorme porta de pedra e gritou:

- Não vai levá-la!

- Não se intrometa... - guinchou a mulher.

- Ela não vai com você...

A porta rangeu e a mulher o olhou com ódio nos olhos - como se ele tivesse lhe tirando um premio ou algo do tipo - e gritou, seu grito ricocheteou no ambiente ferindo meus ouvidos, ate que a porta se fechou novamente. Então a terra começou a engolir a enorme porta, a cobra virou levemente sua cabeça em minha direção e sussurrou, eu não sabia como, mas eu pude entender o que ela estava dizendo então ela se posicionou e virou apenas uma rocha presa a uma enorme porta de pedra.

- Quem era ela? - virei-me para olha-lo.

- Ninguém importante. - ele riu despreocupadamente.

- Pra onde ela queria me levar? - perguntei.

Eles e virou e me deu um breve sorriso.

- Depois eu explicarei isso. Agora você precisa acordar, seu pai e Math estão preocupados.

- E você não estava? - o olhei.

Ele deu um breve sorriso otimista.

- Não. Eu sabia que você estava bem, um pouco perdida talvez... Eu sei que a minha garota sabe se cuidar sozinha.

- E você não vem?

- Quando abrir os olhos eu estarei lá.

- Promete?

- Prometo.

Então tudo ficou escuro e a ultima coisa que vi foi o rosto de Lucas me olhando dizendo: Eu amo você.

Eu podia ouvi-lo em meu peito pulsando. A escuridão dominava os meus olhos, mas eu podia ouvir o bip dos aparelhos que marcavam os batimentos do meu coração, o suspiro cansado e exausto, da porta que se abria devagar e de passadas quase inaudíveis. O "aparente" silencio do ambiente fora rompido por um ruído irreconhecível. Eu me lembrava claramente do sonho que tiver a poucas horas ou minutos.

Suspirei.

Juntei forças para abrir os meus olhos cansados que teimavam em ficar fechados por mais algum tempo e quando finalmente consegui abrir mesmo que por um breve instante, minha visão estava embasada e o máximo que pude ver foi uma sombra que parecia ter asas.

- Você é um anjo ou um demônio?

Houve silencio.

- Nem eu mesmo sei...

Foi ai que me perdi em meio à escuridão da minha mente.

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