Terminamos de escutar aquela música em silêncio. E as próximas três também. Pensei em como as coisas estavam indo rápido. Não faz nem uma semana que nos conhecemos e eu já estou gostando dele. Mas ele faz com que eu me sinta bem, e isso me dá tanta paz... Eu queria que a gente continuasse assim, tranquilamente, e que eu não tivesse todo um drama familiar pra atrapalhar.
- Tá tudo bem? Você ficou tão quieta de repente.
- Aham. Eu tô pensando, só isso. E você?
- Eu o quê?
- Você também não falou nada.
- Ah. Eu estou pensando também. Navegar faz isso comigo. Eu olho todo esse mar, ouço os sons do barco e das ondas batendo no casco e isso me relaxa, me ajuda a acalmar as ideias. Geralmente eu faço isso sem música, mas como você está aqui eu não quis te deixar entediada. Tá gostando do passeio?
- Tô adorando. Nunca tinha andado de barco e estava com um pouco de medo, mas seu avô tinha razão. Nem estou sentindo o balanço do mar com muita força, parece que eu estou numa cadeira de balanço.
- Bom saber disso. O tempo também está ajudando, já que não está ventando muito. Quer tentar pilotar um pouco?
- Tem certeza que não tem problema? Você não vai perder a carteira ou coisa do tipo? Não quero te prejudicar. – falei olhando pra ele.
- Não se preocupe, estamos longe do posto de vigilância da baía e não há patrulha marítima constante aqui. Essa é a área em que eu trabalho e eu conheço os horários das rondas. Estamos seguros, ninguém vai pegar a gente aqui. – ele respondeu dando um sorriso travesso.
- Só eu, seu pestinha. Não posso sair por 5 minutos e você apronta. – disse o Nonno dando um leve puxão na orelha de Rafael e sorrindo, continuou. – Às vezes eu acho que você só cresceu no tamanho, porque tem horas que age como um bambino de 12 anos.
Ele tinha acabado de chegar pra nos avisar que o almoço estava praticamente pronto e ele queria ajuda pra arrumar a mesa. Rafael disse que ia deixar o barco mais perto da costa pra ancorar e já descia pra almoçar.
- Então seremos só nós dois, mia cara. Gostaria de acompanhar este velho homem e conversar um pouco? – e se inclinou num gesto galante.
- Seria um prazer.
- Dê-me sua mão querida. - ele encaixou-a no braço, da mesma maneira que Rafael, e enquanto descíamos as escadas, disse - Tenho uma ou duas histórias sobre seu namorado e te garanto boas gargalhadas. Ele era um menino muito levado, se metia sempre em confusão.
- E o que ele aprontava?
- De tudo. Quando ele veio morar comigo, tinha só dois anos e meio. Sempre foi muito esperto. E sempre que a casa ficava em silêncio eu rezava “Dio mio, dai-me paciência”, porque eu sabia que ele tinha feito alguma besteira.
Seu Enzo fingiu uma expressão de desespero tão grande que não consegui segurar uma risadinha. Ele me entregou os pratos e talheres e apontou pra mesa, continuando:
- Ele era muito levado, mas com o tempo foi se acalmando. Mas me deu muita dor de cabeça quando era pequeno. Quando minha filha morreu junto com o pai dele, meu mundo parecia ter desabado. Eu estava tentando me recuperar da morte da minha donna, e um irresponsável bêbado tirou a vida da minha filha e do marido dela. Por pouco Rafael sobreviveu. Se não fosse esse menino, eu não teria vivido muito tempo. Eu vivi pra criá-lo, e agora que ele tá um homem feito só posso me orgulhar dele.
- Não posso nem imaginar como deve ter sido difícil pro senhor.
- Foi difícil me acostumar com um menino pequeno em casa, mas não podemos ficar mais separados. Quando ele está de serviço e precisa ficar no mar pra fazer a patrulha, eu sinto muito a falta dele. – acabamos de arrumar a mesa e nos sentamos lado a lado.
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O Marinheiro
RandomAisha não acredita que um dia possa ser amada, Rafael procura alguém a quem ele possa dar todo o seu amor. Coube ao destino fazer com que seus caminhos se cruzassem, de uma forma que nenhum dos dois esperava. Poderá Aisha mergulhar no amor de Rafael?