Continuação...
O telefone do André tocou alguns minutos depois que Jorge havia começado a rebolar sem cueca sobre o seu colo enquanto o beijava. Era Ariel.
-Oi André, tá na casa do Jorge ainda?
-Tô.
Jorge gesticulava pedindo que André colocasse a ligação em viva voz, após uns segundos confirmando algumas coisas o André colocou.
-Cuidado pra não cair nas mãos desse safado.
-Ai Ariel, assim você me fode. - disse Jorge caindo na risada depois.
-Não da forma que quer.
-Ei, você me conhece mesmo, hein.
-Tá, só não agarra o André.
-Já é tarde querido, a gente tava se pegando quando você ligou.
André corou levemente com aquelas palavras como se o Ariel fosse se sentir enciumado e triste por ele traí-lo, embora não fosse de maneira alguma uma relação monogâmica. Ariel do outro lado da linha soltou uma respiração forçada como se tivesse ficado realmente muito puto.
-Ei, Ari. Cê vem? - perguntou Jorge fazendo uma vozinha parecida com a que se faz quando se fala com bebês.
-Não. Vou direto pra casa, fazer torradas.
-Torradas? Deixa disso, fica de ciuminho, vem pra cá, depois a gente vai. Só comprar.
-Jorge, eu não quero ir.
-Ai, ok, tá bom. Desculpa.
-Tchau.
Ariel desligou o telefone um pouco irritado e deu pra se notar isso. André ficou um segundo paralisado observando o que Jorge falaria. Depois de um tempo pegou o celular que já desligara a luz e guardou na mochila, foi se retirando pra ir embora.
-Você já vai?
-Já, você viu, o Ariel tá emputecido. Você não deveria ter dito aquilo.
-Mas não tem lógica, pô. Ele que começa essa história de poliamor e orgia e fica enciumado.
-Ele não é insensível não;
-Mas só se ele tá gostando só de tu agora.
-Não, é só que a gente nunca fez nada.
-Nada tipo?
-A gente nem se beijou de verdade. E agora ele deve estar pensando que eu que não quero.
-Mas...
André olhou um pouco em seus olhos esperando o que quer que fosse que ele falasse, mas ele só não falou nada e virou-se; indiretamente o dizia para ir. A porta se fechou quieta atrás de si e Jorge ficou em pé ali, olhando pra baixo o seu pênis que amolecia lentamente.
...
Horas depois na casa do Ariel...
Jorge chegara na guarita do prédio por volta das nove e meia da noite e o porteiro estava assistindo televisão pelo celular com a antena bem a mostra. Passou acenando e como velho conhecido se dirigiu ao bicicletário onde prendeu sua bicicleta ao ferro com uma corrente coberta por um cano que trouxera dentro da pequena mochila.
O condomínio do Ariel era enorme e Jorge se lembrava de antes todos eles iam nadar na piscina, ou jogar vôlei na quadra, e tudo lhe parecia bastante longínquo. Destravou a porta digitando a senha dos moradores que Ariel lhe dera depois de um mês que fazia parte do grupo. O saguão de entrada estava bem iluminado e uma garota estava sentada em uma das poltronas lendo um livro com as pernas cruzadas, movimentava os óculos sempre que lhe escorregavam pelo nariz pontudo.
Jorge usava uma calça jeans e uma camisa abotoada preta que ganhara do Alexandre. Cheirava bem e carregava um buquê de rosas que esperava que fossem bem aceitas pelo Ariel. Precisava pedir-lhe desculpas; mexia os pés nervosamente enquanto o visor indicava que demoraria um pouco até o elevador chegar ao térreo.
Quando chegou, soltou um som característico; uma senhora saiu do elevador se apoiando na porta que logo foi aliviada pelo Jorge segurando-a, ela sorria e o cachorro em seu colo deu um leve latido. Entrou sozinho e seus pés continuavam tremendo e inquietos, era como se fosse a primeira que ia conhecer alguém e tinha exatamente de causar uma boa impressão.
Suas mãos suavam e deixavam a marca dos dedos no papel que cercava o buquê; chegou em frente a porta de seu apartamento, já deveriam estar comemorando o aniversário da Laura. Apertou a campainha e ficou movendo os pés. Ninguém atendeu. Tentou de novo. Mais nada.
Ficou procurando a chave extra dentro de sua carteira quando ouviu a porta se abrir um pouco. Esguicho estava do outro lado e quando reconheceu o homem que adorava chamar de seu, abriu a porta com tamanha velocidade e pulou em seus braços dando-lhe um beijo caloroso.
-Amor, então finalmente veio. André contou sobre mais cedo, tava ficando triste.
-Ai esguicho, você sabe que pode ir lá em casa qualquer hora, só aparecer. Ainda tá me devendo uma noite.
-Tenho planos pra isso, querido. Relaxe. Agora vem, entra.
-Não, não. Vou ficar aqui fora, pede pro Ariel vir aqui, por favorzinho?
Esguicho olhou rapidamente para as flores que Jorge carregava e deixando a porta aberta se dirigiu até a sala acústica que era um antigo quarto onde estava todos deitados assistindo filmes e por sorte Esguicho só tinha ouvido a campainha quando veio pegar mais refrigerante.
Minutos depois chegou Ariel, que se encostou na porta e mandou Jorge entrar.
-Não quero demorar, eu só...
-Pera, vamos pra cozinha, tenho de tirar sorvete.
A mesa estava cheia de guloseimas e com um quarto do bolo 'floresta negra' que era o favorito da Laura. Jorge encostou-se no balcão e pôs as flores. Ariel abriu a geladeira pra pegar o sorvete, era um pote grande.
-Pra quê essas flores?
-São pra você, um pedido de desculpas.
-Não sei por que trouxe, sabe que prefiro vivas.
-É, desculpa, esqueci. Então, me perdoa?
-Não é a mim a quem deve desculpas. Você sabe o que faz? Você deixa o Esguicho te idolatrando, sabe, se você o pedisse em namoro, ele não pensava duas vezes e largava todos nós; ele é apaixonado por você e só você não vê isso. Só quer transar. A gente é mais que isso Jorge, ou pra você a gente não passa de suas putinhas?
-É, eu...
-Imaginei. Não precisa pedir desculpas não. Já sabemos a resposta.
Ariel saiu carregando uma coluna de copos descartáveis rasos, um pote de sorvete e segurando colheres e uma calda de menta que pegou no armário. Jorge ficou sem saber o que dizer, paralisado. Viu-o ir embora e não foi capaz de dizer nada.
Saiu devagar enxugando as lágrimas que lhe escorriam, deixou a chave que recebera em cima da mesa entre os pratos cheios de comida e foi saindo, fechou a porta e quando entrou no elevador, este se fechava, viu Esguicho correr pra perto dele.
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O garoto do 304
RomanceJorge vive sozinho em um apartamento sem muito luxo na área da UFPE em Recife. Sua vida é dividida entre os estudos da faculdade e seus passatempos, arrumando um pouco de tempo entre suas obrigações e se derrama em casos avulsos com homens aleatório...