Jorge se sentia bem todas as vezes que o seu grupo de amigos marcava alguma coisa juntos, embora raramente ele saísse com os outros; havia quase um ano que começara a se relacionar de verdade com eles e sempre que dava ia à casa do Ariel - o ponto de encontro - e raras vezes pegava alguém.
Naquela manhã de sábado ele acordou com um toque na porta. Um toque insistente. Depois que pensou que a pessoa havia saído resolveu se levantar e deslizar os pés cansados pelo piso envelhecido até a cozinha e fica encostado na pia tomando seu café frio, que era como gostava de tomar pelas manhãs.
Seu telefone tocava, mas era como se o som que ouvisse estivesse vindo do mais longe possível, nem se quer se deu o trabalho de olhar em direção a sala, estava focado em algum nada. A campainha tocou novamente quando estava sentando-se no sofá; talvez fosse realmente hora de ver quem era.
Chegou perto da porta e sentiu-se nu; mais nu do que já estava. Sentia que a porta era de vidro e a pessoa podia ver-lhe. Pelo olho mágico observou que havia um garoto mais baixo que ele, e de costas aparentemente parecido. Colocou a trava na porta e abriu uma fresta de cinco centímetros escondendo o corpo por detrás da porta.
-Oi?
-Oi.
-Quem é você?
-Ariel me mandou.
-Ah, Ariel. O que ele quer?
-Hoje é o aniversário da Laura. Pediu que eu viesse aqui saber se você vai.
-Quem é você?
-Sou o André.
-Novo?
-Hã?
-Novo integrante do grupo?
-Pode se dizer que sim, faz umas semanas.
-Semanas? Faz muito tempo mesmo que não os vejo. Entrou mais alguém?
-São 13, pelo que me dizem.
-Daqui uns dias isso aumentará mais?
-Acho que já é suficiente;
Jorge riu.
-Você quer entrar?
-Estava para encontrar o Ariel lá no laguinho, mas acho que posso ficar um pouco.
-É que eu estou nu, me deixa ir colocar alguma coisa.
-Certo.
Deixou a fresta ainda aberta e correu para o quarto sentindo o olhar cabisbaixo do André pela fresta enquanto via sua bunda movimentar-se. Voltou em menos de um minuto com apenas uma cueca box inteiramente justa, não chegou a se preocupar muito por que não estava com ereção.
-Pronto; - falou enquanto tirava a trava e fazia movimento para ele entrar, notou logo o olhar que soltou em direção as suas pernas.
André sentou-se na poltrona de estampa de jornal que Jorge ganhara de presente da tia e cruzou as pernas encostando a mochila nos sapatos. Jorge, sentado no sofá, estudava-o.
Suas pernas cruzadas não estavam unidas inteiramente; sentado parecia ainda mais baixo e mexia nos cabelos mais longos que caiam por sobre os olhos. Eram castanho claro, claríssimo, se fossem vistos de longe pareciam verdes. E sua boca era fina. Passava a maior parte do tempo aberta mostrando os dentes em um sorriso levemente bobo que não tirava da cara.
-Como conheceu o Ariel?
-Quando fui levado lá, na casa dele. Faz um tempinho.
-Quem te levou?
-Honey.
-Aquele fofo, conheceu onde?
-Num curso de inglês, ele era de outra turma, faz mais de um ano, mas a gente pouco se falou, só quando consegui um contato dele foi que a gente passou a se falar mais; marcamos um encontro e foi quando conheci Antoniete, e Esguicho.
-Amo o Esguicho.
-Foi ele que me falou de você, mas não tinha foto sua, então ficou só na visão dele.
-Boa, eu espero.
-Sim, sim;
-Melhor que pessoalmente?
-Não tenho opinião formada sobre isso.
-Por quê?
-A maioria das lembranças dele eram sexuais.
-Nossa, feliz em saber disso. Se lembrar de mim pelo sexo.
-Desculpa, não deveria ter falado isso. Não conta pra ele.
-Não, relaxa. É o que eu precisava ouvir. Raramente os encontro e sempre que ocorre só rola sexo mesmo.
-Ah.
-Então, eu vou para a festa da Laura sim.
-Que ótimo.
-Vai ser só de noite, né?
-Uhum, até lá eu e Ariel vamos comprar um presente.
-Parece que existe um casal dentro do grupo.
-Não, não - ele ria - é que moramos próximos e sempre nos vemos. Não rola nada demais entre a gente, apesar de eu estar no grupo.
-Você não aproveita?
-Não, não. Nunca cheguei a ficar de fato com nenhum deles.
-Non creio, vinhado.
André soltou um risinho pelo que Jorge falou, mas também um riso pouco envergonhado.
-Ainda não entendo. - Jorge disse quebrando o gelo que ficou após o risinho.
-O quê?
-Você passar horas com o Ariel e não terem ficado. Bem, até entendo um pouco; ele é mais de apenas beijar mesmo. Passei quase dez meses pra conseguir ficar de verdade com ele.
-Parece muito tempo, pela sua voz.
-Foi muito mesmo; é raro eu correr atrás de alguém assim.
-Ah entendi.
Mais um gelo se formou, até Jorge deslizar um pouco mais pra perto do braço do sofá na direção que André estava. Fez um sinal com os olhos para ele sentar ao seu lado e quando o olhou nos olhos só lembrou-se da primeira vez que estivera a sós com Ariel, numa situação parecida.
Encostou seus lábios no dele e com as duas mãos segurou a sua cabeça enquanto sentia a língua quente dele penetrando-lhe a boca e tocando toda a sua dimensão interna. Ainda antes de soltar do beijo sentiu certa sucção que nunca havia experimentado até terminar em uma mordida e leve puxada no beiço inferior.
Sentiu a mão do André tocar seu peito nu e enroscar os dedos finos e as unhas leves nos pelos de seu peito perto dos mamilos. Jorge atirou-se sentando por sobre ele com uma perna em cada lado e prensou-lhe contra a madeira do sofá rebolando em seu colo enquanto sentia a melhor sensação que já lhe proporcionaram na boca.
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O garoto do 304
RomanceJorge vive sozinho em um apartamento sem muito luxo na área da UFPE em Recife. Sua vida é dividida entre os estudos da faculdade e seus passatempos, arrumando um pouco de tempo entre suas obrigações e se derrama em casos avulsos com homens aleatório...