capitulo três

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(17:00)

-Elliot

O carro anda lentamente, o que tem piada porque sempre que ando a pé os carros parecem correr para bem longe e desaparecem no horizonte. A clínica que frequento é no meio do nada, o que facilita muito mais a vida da minha mãe, e honestamente a minha também, não corro o risco de ver alguém conhecido ou lá da escola e ter que explicar o porque de estar aqui. Olho para a paisagem lá fora, as árvores em vez de serem nítidas eram apenas borrões a passarem ao lado do carro. Avisto o edifício branco, "clínica de reabilitação" está escrito no topo do edifício branco, ao menos podiam ser mais subtis mas pronto, o carro da minha mãe pára e eu tiro o cinto. Odeio vir cá, fazem sempre as mesmas perguntas "Sentes-te bem?" "Como tens estado?" "como te sentes em relação à tua irmã?" sei que a minha mãe faz isto por mim mas ela espera que eu diga o quê? Nem eu sei o que caralho se passa comigo, como é que eu vou explicar a outra pessoa?

Entro no edificio e caminho em silencio até à sala habitual, ali estava ele, o doutor Irwin, ele é um bom terapeuta, é simpático comigo e respeita-me porém odeio vir cá, é uma constante lembrança do que aconteceu.

-Olá Elliot!-sorriu-me, sento-me no sofá escuro da sua sala e pouso a mochila no chão, respiro fundo e olho para o homem.

-Olá. - saúdo o homem, este sorri-me, permaneço calado a olhar para ele.

-Como é que estás hoje? E como foi a semana?- pergunta, encolho os ombros e tento evitar olha-lo nos olhos.

-Sei lá, é sempre a mesma coisa, a mesma rotina, nada muda, sempre os mesmos programas na TV, sei lá, estou cansado.- digo, o homem anui e gesticula para eu continuar.- Eu, eu nem sei, sinto-me tão exausto mentalmente eu só queria poder não existir, não sentir nada, ser um sim sei lá. - digo frustrado, tento acalmar-me e olho para o Dr. Irwin.

-E voltaste a velhos hábitos...?- pergunta, reviro os olhos à sua pergunta eu sei que ele tem que perguntar, afinal a razão pela qual estou aqui são os meus "velhos hábitos".

-Não, comecei a desenhar para me abstraír dos ataques de panico.- confesso, o homem sorri com esta informação e anui.

-Folgo em saber isso, fico feliz por ti Elliot, e os teus pais? Como está a tua relação com eles? Principalmente depois da conversa que tivemos todos.- pergunta, sinto um arrepio a percorrer a minha espinha e brinco com os meus dedos, a conversa que tivemos todos, quer dizer o dia em que o meu pai admitiu achar que a culpa é minha da Elisa ter tido um acidente de carro? Como é que a culpa é minha? Eu não posso controlar todas as pessoas que bebem e conduzem, e porém a culpa é minha por lhe ter pedido para me ir buscar a casa do Luke.

-Uhm, está bem, corre tudo bem, estamos bem.-minto, é vergonhoso ter que admitir que o meu pai me bate, apesar de ser mais vergonhoso para ele, mas não consigo deixar de me sentir envergonhado por não ter coragem de me defender.

-Elliot, eu sei quando me estás a mentir, tu não és um bom mentiroso.- o homem diz, sinto-me a ficar mais nervoso e irritado, normalmente ele não me força a falar sobre as coisas, porque é que desta vez é diferente? Será que ele viu alguma marca? É impossivel eu escondo-as sempre bastante bem, não, não pode ser.

-Com licença.- levanto-me e saio do escritório dele, pego na minha mochila e casaco e ando a passos largos até ao exterior, sei que o Dr. Irwin não me vai seguir, até porque temos terapia de semana sim semana não, por isso mesmo que queira, não vou poder fugir dele.

Heaven - 1ª temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora