Logo o primeiro dia não correu bem, tinha os miúdos a olharem para mim de lado, não sei se era por ser magrinha, ou por ter cabelo curto, mas o que é certo, é que eu não me estava a sentir bem, perante aquelas personagens.
A primeira semana até que foi mais ou menos... Eu andava sozinha, e não falava com ninguém, não sabia socializar. Porem... Na segunda semana, eu levei gomas para a escola, e aí tinha todo mundo à minha volta, pareciam meus amigos e eu não tinha a noção de que era falsidade.
Aqueles dias tornavam-se repetitivos e eu sorria, era um sonho. Só que com o passar do tempo eu comecei a deixar de levar gomas, porque o dinheiro já faltava em casa, e ai começou o pesadelo.
Tornei-me a "menina das gomas", e depois quando começou acabar aquele ritmo, as coisas começaram a ficar cinzentas. Foi a partir daí que o bulliyng começou.
Tudo começa com empurrões, depois chapadas, pontapés, murros, ... até que aconteceu o mais radical... Cortaram me o cabelo :(
Assim se passaram 2 anos e já estava no 3º ano de escola, sempre permaneci em silêncio e guardei aquele segredo. Agora vocês pensam: "e os teus familiares não notavam?" - eu respondo que sim, mas a desculpa era sempre a mesma: "caí, escorreguei, tropecei..." e quanto ao corte de cabelo, eu disse que foi na brincadeira de uma aposta...
A minha mãe ainda me bateu (pela primeira vez) mas depois passou. Aquele assunto ficou esquecido, embora me tenha marcado imenso porque eu tinha que cortar o cabelo mesmo curtinho. Foi um dos piores momentos da minha vida :$
O tempo foi passando e a revolta começou a crescer. Sentia-me sozinha, como o mundo me odiasse. Estava a viver um verdadeiro inferno, mas tentando sempre enfrentar aquilo, como uma rotina.
Até que...
No final do 3º ano, eu me revoltei à séria. Numa 6ª feira, manhã de inverno estava sol, e como de costume eu ia para a escola, a pé com a minha mãe. Naquele dia eu não levava gomas e sabia que ia "levar no focinho", e eu tinha que me safar de alguma maneira...
Fiz o meu percurso normal, cheguei à escola (já passava 10 minutos da hora), e lembrei-me que ia ter teste. Fiz grande birra porque não queria entrar, até que uma funcionária chamou a professora e ela veio-me buscar. Mal coloquei o pé dentro da sala, comecei agitar-me (porque a professora estava agarrar-me) de modo que ele me soltasse.
Ela fazia ainda mais força, e eu comecei-lhe a bater, dando-lhe estalos, pontapés, até que lhe rasguei a bata. Depois disso, eu acalmei-me e sentei-me. Tinha o teste à minha frente e quando dei por mim, estava a riscá-lo. A professora trancou a porta da sala, para que não me desse na cabeça e eu tentasse fugir.
Tocou para intervalo e eu saí. Sentei-me nas escadas e esperei pelo toque de entrada. Ouvia imensos comentários. Mas desta vez ninguém se dirigiu a mim. Fiquei tranquila e assim o dia se passou.
Passou o fim de semana, e iria começar uma nova. O medo começou a surgir. Naquela altura, pensava eu que as coisas estavam mais calmas depois do que se passou, mas afinal enganei-me. Tudo continuava igual - as ameaças, os segredinhos, as bocas,... todo o bullying.
(...) No inicio do 4º ano, as coisas continuavam as mesmas, as férias não mudaram nada. O ritmo voltou e eu já estava farta, já não aguentava mais com aquele ambiente. Até que resolvi fugir da escola, mais uma vez. Não me recordo do dia, só sei que foi uma 5ª feira. Fui para a escola contra a vontade e tentei fugir pelo caminho mas não consegui. A minha mãe não me largava a mão.
Cheguei à escola, atrasada. Tornei a fazer birra, porque não queria entrar na escola. Desta vez estava uma funcionária ao portão. Eu entrei muito sossegadamente, deixei com que a minha mãe falasse com essa tal, apanhei-as desprevenidas e ia fugir. Aquela velha (funcionária) apercebeu-se e ia para me agarrar quando eu lhe dei uma enorme chapada na mão que estava a segurar o portão.