Só faltava essa.

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Eu sempre achei que fosse extremamente difícil conviver comigo mesma, mas o Lucas está aprendendo. Durante um tempo a gente percebe que o medo é só insegurança, e de insegurança ninguém morre. Hoje definitivamente é o meu pior dia, hoje é meu aniversário e eu não sou lá muito fã de envelhecer ou comemorar datas. Talvez, seja pelo fato de que um tempo atrás uma pessoa em que eu gostava muito, uma amizade, em que eu confiava que jamais acabaria e por fim ... É, esse garoto, o Thomas no caso, um amigo de infância que morava no fim da rua em que eu morava, nós íamos para escola juntos, éramos da mesma classe e chegavamos até dividir o mesmo lanche no intervalo. Eu e o Thomas éramos melhores amigos de sempre e sempre no dia-a-dia, íamos um na casa do outro, comemoravamos aniversários juntos e compartilhavamos a nossa vida. Até que um dia, Thomas foi convidado para participar de uma das chapas de grêmio da escola que literalmente mudou sua vida. Thomas se mudou da casa no fim da rua em que eu morava e passou a me ignorar por todo lugar em que nossos olhares se cruzavam, até que um dia eu resolvi perguntar a ele o porquê dele ter se afastado tanto de mim e por outros diversos motivos, Thomas me respondeu que "Nós somos completamente diferentes Maitê, e minha reputação não sugere andar com pessoas fora do comum e sem status profissional como você",exatamente com essas palavras. A partir daquele dia, eu decidi excluir o Thomas da minha vida, fazer eu me colocar a cabeça que ele jamais existiu, até porquê, era isso que ele queria deis de o começo. Parece até uma inútil historinha de criança, mas por essas simples coisas, que aos poucos, eu vou me fechando para com os outros.

Bom ... Hoje é o meu aniversário, e eu prometi não sair de casa de jeito nenhum. Sorte a minha que só o Nicollas e o Matheus sabem que hoje é o meu aniversário, então eles nem ousariam contar a alguém. Hoje eu nem fui para a escola, acordei tarde, tomei café e fui assistir aos meus seriados como de costume. Eu pensei que hoje eu poderia fazer algo diferente, eu sei lá, dezessete anos quase dezoito, é um número tão meu. Mas não fazer algo comemorativo, mas sim sair, curtir, zoar, fazer o que eu sei bem fazer com os meus amigos.
Mas a verdade é que hoje, é também o aniversário do Lucas, o novo Lucas (preciso reposicionar o nome dele, estou ficando confusa) e talvez ele vá comemorar com os garotos também. Decido ligar pra ele;

Ligação on;

-Lucas?
-Oioioi lindona, o que há de bom hoje?
-MEUS PARABÉNS SEU ZÉ MANÉ!!! -Gritei ao telefone.
-Nossa Maitê, meu Deus, meus queridos tímpanos.
-Seu mal agradecido.-Disse eu invocada.
-Obrigada minha linda, obrigada mesmo por ter lembrado.
-Eu sou única né meu bem, memória aqui funciona maravilhosamente bem.-Ele bufou do outro lado da linha.-Mas me diga, não foi pra escola hoje então, o que faz aí?
-Ah ... -Respirou fundo.-Nada.-Pude ouvir risadinhas do outro lado da linha, mas não seria possível Lucas ter faltado a escola para ficar de esfrega-esfrega com menininhas, não era de seu feitiço.-Mas é ... Então que tal você dar um pulo aqui?-Perguntei com ar debochado.
-Ah, sabe o que é Maitê, eu estou um pouco ocupado, agora não vai dar.-Respirei fundo para não entrar em colapso e respondi-Tudo bem Lucas! Bom aniversário pra você nesse belo dia.
Desliguei o telefone antes de ouvir qualquer ar vindo dele. Mas como pode? Eu sei, eu sei, ele não sabe que hoje também é o meu aniversário e mesmo que soubesse, hoje também é o dele e mais que merecido ser o dia dele, eu não tenho nada haver.
Então, como eu não estou fazendo nesse dia "tão importante", vou dar uma corrida.
Me arrumei e saí.
Fui correndo pela orla da praia e depois de uma meia hora, sentei em um banquinho para descansar. Pedi uma água de côco e peguei o meu celular para ver as horas, já eram 11h40, quase na hora da saída da escola, acho que vou buscar os meninos. Paguei o moço da água de côco e fui correndo em direção a escola.

Chegando lá eles estavam saindo;

-Eeeeei!! -Gritei para eles.-Eiiii, meninos?-Gritei de novo. Mas sem sucesso.
Vi eles saindo, conversando e rindo com uma garota do cabelo curto preto, toda maquiada. Mas o que está acontecendo? Pensei.
Eles nem se quer pararam, não me ouviram, aaah mas isso não vai ficar assim.
Quando eu fui correr em direção à eles, tropecei no pneu de alguma bicicleta e acabei caindo em cima de um garoto.

-Ai! Desculpa.-Disse ao garoto, me levantando.
-Tudo bem! Eu que peço desculpas por não ter te visto.

Nos encaramos durante uns segundos e meu Deus, que garoto lindo! Ele tinha cabelos loiros bagunçados, uns olhos cor de esmeralda, usava uma bermuda cinza e uma blusa preta que mostrava seus "tipo músculos", ele era perfeito!

-Oiii? - O garoto me desperta do transe.

-Ah, oi. Desculpa. - Digo balançando a cabeça.

-Qual o seu nome moça?

-Maitê, prazer. -Estendo minha mão direita em um ato de cumprimento. -E o seu nome, Sr?

-Lucas, prazer!

Ah não, sério? Tá de tiração com a minha cara. O que está acontecendo com o mundo meu Deus, quantos Lucas existem nessa face da terra? Céus ... É castigo comigo? Só pode!

-Eu mereço .. -Disse em voz alta.

-O que disse? -Ele me olhou confuso.

-Nada, nada. 

-Ah bom. -Ele sorriu. E meu Deus, que sorriso! Eu nunca vi um sorriso como esse. -Você é daqui dessa cidade, Maitê?

-Sim sim! E você, é ... Lucas?

-Sim, me mudei a pouco tempo. Não conheço muita coisa por aqui.

-Entendi.-Parece mesmo não ser daqui, perfeições como você não aparecem muito por aqui.

-Você poderia me ajudar? Quer dizer .. Esquece.

-Não, não. Diga. -Eu sorri.

-Ah, você sabe. Me mostrar os lugares mais frequentados por aqui. Isso se não for muito ruim pra você, porque eu sou meio que um estranho e ....

-Tudo bem!

-Oi? Tudo bem? -Ele disse surpreso.-Essa não era a resposta que eu esperava-Ele sorri.

-E por que, qual a resposta que você esperava? 

-Um não, sabe. Eu sou um estranho, isso seria perigoso.

-Então .. Não.

-Nãaao! Eu não estava falando sério, quer dizer, seria mesmo perigoso, mas eu não sou tão estranho, só por enquanto.-Ele se enrolou tanto nas palavras que eu emiti uma risada tão alta que as poucas pessoas que estavam ao nosso redor nos olharam com os olhos arregalados.

-Moça, tudo bem, eu entendi. Você está me zoando. -Ele riu ao meu gesto.

-Já gostei de você estranho Lucas, você é engraçado.

E novamente nos entreolhamos e ficamos nos encarando, nos conhecendo por olhar, por cores dos olhos. Ele parecia sentir o que eu sentia, ele parecia estar dentro de mim pois me olhava tão fundo. E então nós saímos dali a conversar, a rir e chorar de rir por nossas histórias de vida. E ele parecia mesmo me entender, ele parecia mesmo me conhecer antes mesmo de nos conhecermos. Esse Lucas pode dar certo na minha vida ...

ODEIO ESSE TAL AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora