MOTOQUEIRO MISTERIOSO

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Apesar de achar aquilo meio excêntrico, Kadu deu três passos até ela e deu um beliscão de leve

no braço da menina. Ane Elise usava uma blusa de crochê azul, bem grossa. Após beliscá-la falou da dúvida se realmente a tocara ou se atingira apenas a blusa.
Caraca, não estou sonhando - ela parecia meio perdida. Os olhos arregalados. Os pensamentos distantes...

- Você foi assaltada?

- Não.

- Desculpa, não é da minha conta.

Após 6 meses estudando juntos, esta foi a primeira vez que trocaram mais que três palavras.

- Perdão, qual o seu nome mesmo? - disse ela, agora de pé.

- Pode me chamar de Kadu - ele estendeu a mão.

- Ane Elise - ela o cumprimentou. - Mas pode me chamar de Ane.

- OK. Você está melhor, Ane?

- Não, acho que não. Preciso sair daqui. Não estou com cabeça para assistir às próximas aulas.

Era sexta-feira. Aquilo poderia ser uma cantada? Pensou Kadu. Não, com certeza não era. Garotas
como ela não dão em cima de garotos como ele. O rapaz não é feio, mas Ane é uma boneca. Baixinha ,coxas grossas, nem gorda nem magra, cabelos lisos, longos e escuros feito petróleo. Sua pele é
levemente morena, de um bronzeado natural. Seus olhos castanhos são enigmáticos, apesar de hoje estarem meio tristonhos. O nariz não é grande, mas é pequenino e proporcional ao seu rosto. Os lábios ainda trêmulos são carnudos e Kadu ficou gamado neles.
Como só petisca quem arrisca, ele tentou uma investida.

- Eu também não estou com muita paciência para as aulas hoje. Gostaria de ir a algum lugar ?

Conheço um barzinho novo ótimo.

- Desculpa, tudo o que eu preciso é de um banho quente e da minha cama. Só quero esquecer esta noite - ela ficou olhando para o vazio, como se estivesse tentando recordar de algo.

- Espero que o final de semana seja bem melhor.

- Obrigada - ela finalmente sorriu. Um sorriso bem tímido, mas sorriu.

Silêncio por alguns instantes. Kadu não conseguia parar de olhar para ela. Sua calça manchada e apertada no corpo era um arraso.

- Bom, até segunda então - cumprimentou-a uma última vez e deu as costas para ela, decepionado.

- Espere, disse a ela ,abriu um sorriso e virou de volta. - Quero dizer, só enquanto eu telefono para o meu namorado vir me buscar.
O sorriso murchou rapidamente. Kadu não conseguiu esconder a frustração ao ouvir aquilo. Mas
afinal de contas, que frustração? Uma garota linda como aquela já era de se esperar que estivesse com alguém.
- Tudo bem, eu espero, sua voz saiu meio desanimada .
- Muito obrigada! - e sacou o celular da bolsa. - Faz tempo que estou tentando falar com ele, mas só dá caixa postal. Justo quando eu mais preciso.
- Hummm, então é por isso que você estava tão chateada?

- Não. Quero dizer, isso também me estressou bastante, mas o motivo real não foi esse. Posso
parecer frágil, principalmente hoje, mas não sou daquelas que choram por causa de homem. Afinal eu sempre deixo isso bem claro quando começo um relacionamento. Pisou na bola comigo não tem segunda vez.

- Desculpa, mas você não parece ser assim tão durona.

- Não me provoque - ela sorriu, mas logo em seguida mudou sua expressão, bem irritada.

Caixa postal outra vez. - Sei lá, mas isso não está me cheirando bem. Vou ligar para a minha sogra.

Kadu fez uma cara de quem estava interessado, apesar de não estar.

- Está chamando - disse ela, esperançosa. - Alô? Dona Marta? Oi, boa noite, aqui é a Ane,
tudo bem com a senhora? Que bom, a senhora sabe se o Well está fazendo hora-extra hoje? Estou
ligando para ele faz quase meia hora e nada.

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