MOTOQUEIRO MISTERIOSO

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- Filho da puta! - xingou Kadu, puxando a porta de volta.


- Cuidado! - gritou Anelize, apontando para o motoqueiro.


Aproveitando-se do vidro aberto, o motoqueiro en+ou sua mão direita dentro do carro e


grudou no pescoço de Kadu. A mão dele era tão branca que parecia usar luvas de cirurgião. Kadu


tentou afastar o braço do agressor, mas o outro era mais forte. Anelize tentou ajudá-lo, mas também


não conseguiu mover 1 centímetro a mão esbranquiçada do motoqueiro. O cheiro dele era terrível,


parecia ter saído de um esgoto ou algo pior.


- O que quer de nós? - gritou ela, desesperada.


O motoqueiro nem se mexeu, continuou com a mão no pescoço do estudante de Publicidade.


A velocidade do Uno caía e estava quase parando. Incrível como a estrada estava movimentada


naquele trecho. Um ônibus acabara de passar no sentido contrário. Carros iam e vinham normalmen-


te, mas ninguém reduzia a velocidade para ver o que estava acontecendo.


- Jacques - disse Ane em voz alta - , por favor me ajuda! - e olhou para trás, procurando o


carro dele. De repente ela avistou sua sombrinha no banco de trás. Esticou-se toda por entre os


bancos e agarrou o objeto pontiagudo. Sem pensar ela desferiu um golpe certeiro no capacete do


motoqueiro, como se fosse uma baioneta.


O que aconteceu a seguir +caria na memória dela para o resto de sua vida. O capacete voou


longe, caindo na estrada. O motoqueiro, sem a cabeça, continuou apertando o pescoço de Kadu.


Anelize vomitou todo o almoço e o café da tarde ao ver aquilo. Estresse o escambau. Mas não


dava tempo para pensar em mais nada, seu companheiro de turma precisava dela, estava sufocando e


prestes a perder a consciência - ou a vida! - Ane agarrou a sombrinha com todas as forças que


ainda lhe restavam e desferiu diversos golpes no braço do motoqueiro sem cabeça. Golpeou uma,


duas, três, quatro ... a sombrinha entrava cada vez mais fundo no braço dele, rasgando uma carne que


parecia podre. Mas somente no décimo segundo golpe o motoqueiro +nalmente largou o pescoço do


rapaz. Em seguida perdeu o equilíbrio da moto e caiu na estrada, rolando umas três vezes.


Kadu estava zonzo, o rosto vermelho, o coração acelerado, as mãos trêmulas. O carro foi paran-


do aos poucos, até que Ane pegou no volante e o conduziu até o acostamento. Jacques parou logo


atrás deles.


- Kadu, fala comigo, você está bem? Consegue respirar bem?


Ele fez que sim com a cabeça e fez um jóia com a mão direita. Jacques apareceu na janela e


quase matou a garota de susto.


- Obrigada pela ajuda, viu? - ironizou ela, irritadíssima.


- Mas o que houve? - disse Jacques, assustado. - Está passando mal, brother?


- Cara - sussurrou Kadu, quase sem voz. - , por que não ajudou a gente?


- Ajudar como? Do que vocês estão falando? - e olhou para Anelize. - A outra me liga


desesperada, dizendo que tinha um motoqueiro atrás de vocês.


- Ora, e não tinha? - ela queria voar no pescoço do gordinho. - Quem você acha que fez


isso com ele? - apontou para o Kadu, que passava as mãos no pescoço vermelho e todo machucado.


- Eu não vi motoqueiro nenhum, gente! Ainda não entendi qual é a pegadinha.


- Pegadinha? - Anelize olhou para a estrada atrás deles, ainda era possível ver o corpo do


motoqueiro caído no meio da estrada, e a moto uns seis metros mais pra frente. - Lá! - ela apontou.


- Se não tinha motoqueiro nenhum, então o que é aquilo?


Jacques +cou olhando na direção que ela apontou, sem entender nada.


- Estrada, estrada, mato e mais mato. Não estou vendo motoqueiro nenhum - e voltou o


olhar para dentro do carro. - Vou perguntar de uma forma bem elegante: vocês fumaram algum


baseado?


- Não fumamos nada - a voz de Kadu estava melhorando, mas ainda falava com di+culdade.


Anelize saiu do carro, irritada com o que Jacques falou. Foi tirar satisfação com ele.


- Você me chamou de maconheira?


- Se este lance do motoqueiro não for zoeira de vocês, então só pode ser maconha.

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