MOTOQUEIRO MISTERIOSO

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Eu sei disso, acha que eu não sei? Eu tento me lembrar exatamente de


tudo o que aconteceu naquela hora, para eu mesma me desmentir. Mas não dá, foi isso que eu vi. Não


tinha nada. Estava ...vazio.


- Calma, tudo tem uma explicação. Ele poderia estar com uma máscara preta, o que daria a


sensação de que o capacete estava vazio por dentro. É normal.


- Foi a primeira coisa que eu pensei quando vi aquilo. Mas não havia máscara alguma, Kadu,


eu juro. Quando o capacete se mexeu e mirou para frente a minha teoria foi por água abaixo. Não


havia máscara alguma, pois simplesmente não havia uma cabeça sobre aquele corpo. Quando eu falo


em voz alta eu pareço ainda mais doida. Vão me internar num hospício, não vão? Kadu, você não


pode contar isso para mais ninguém, pelo amor de Deus!


- Calma, é perfeitamente explicável - disse ele, passando a mão na cabeça dela. - Isso se


chama estresse. Perdoe-me tocar nesse assunto mais uma vez, mas faz quanto tempo que o seu pai


morreu mesmo?


- Ontem completou 11 meses.


- Então, é isso. E se o seu pai morreu na Dutra, provavelmente foi num acidente de carro,


certo? - ela assentiu com a cabeça. - Tá explicado, você chegou num nível de estresse tão grande


que te fez enxergar coisas. Você não foi a primeira nem será a última a passar por experiências bizarras


como essa. Acontecem com frequência.


- Além de publicitário, você é médico e psicólogo?


Ele riu.


- Minha mãe é psicóloga, então ela me conta algumas histórias. Lógico que ela não cita


nomes, seria antiético. Ciné+lo com certeza. E para ser publicitário ainda me faltam muitos semestres.


- Sabe de uma coisa? Acho que você conseguiu me acalmar. E olha que era para eu estar


super hiper mega nervosa agora.


- Por quê?


- Porque estamos chegando no trecho onde tudo aconteceu. Foi quando eu passava ao lado


do CDP que ele apareceu, do nada.


CDP é o Centro de Detenção Provisória Dr. Félix Nobre de Campos, presídio que recebe presos


que aguardam julgamento em regime fechado.


- Bom, os arranhões no seu carro são reais. Isso eu vi.


- O motoqueiro era bem real. Se ele tinha cabeça ou não eu não sei. Você me deixou mais


confusa do que eu já estava. Mas o +lho da mãe era real. Seu amigo Jacques também concorda que


foram arranhões causados por uma moto, lembra?


- Falando nele ... meu celular está tocando. Aposto que é ele. - Kadu puxou o celular do


bolso e deu nas mãos da garota. - Odeio dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo. Isso me irrita,


além de ser totalmente errado.


- Alô? Sim, sou eu. Ah, é? Obrigada.


- Obrigada? O que ele te disse?


Ela colocou a mão sobre o microfone do celular e contou o que ele disse a ela:


- Ele falou que prefere ouvir a minha voz à sua.


- Que idiota. Isso até eu que sou mais besta.


De repente Anelize derrubou o celular. Kadu olhou para ela. Suas mãos tremiam novamente,


bem como o restante do seu corpo. Ela estava paralisada de terror.


- Você também ouviu? - sussurrou ela, quase chorando.


- Ouvi o quê?


- O som ... da moto.


No celular caído no assoalho do carro ainda se ouvia a voz de Jacques, gritando:


- Estou ouvindo vocês. Por que não falam comigo? O que houve? Estão se beijando? Acho


que estão se beijando.


- É ele outra vez, Kadu! - agora a voz dela parecia desesperada. - Ele voltou, é o maldito motoqueiro

Motoqueiro Misterioso Onde histórias criam vida. Descubra agora