♫ Prólogo

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Estava tudo tão quieto e tranqüilo, seu coração parecia ter sido pisado, aqueles documentos em cima da mesa a sua frente fazia-a sentir-se apreensiva, não queira de fato que estivessem ali, mas Rogério tinha que estragar tudo, seu sonho de ter uma família feliz, ela era feliz, sua filha era linda, um pouco mimada, mas linda e estudiosa; seu filho, o mais novo, era um grude com a irmã, adorava-a, admirava-a, chorava sempre que a irmã fazia as mesmas birras e brigas, só para ficar ao lado dela.

Pegou novamente os documentos, lembrando-se das palavras de seu advogado:

– Basta assinar, senhora Alice. Não precisa mais se preocupar, pois seus problemas acabarão assim que o divórcio finalizar.

Ela tinha medo.

Medo de Rogério querer a guarda das crianças, sabia que era quase impossível, mas nunca tinha certeza do poder de seu marido, também sabia que ele, nem que os seus filhos fossem pintados de ouro, iria querê-los, não entendia o porquê, eram crianças maravilhosas.

– Não se preocupe normalmente a guarda das crianças só ficam com o pai, quando a justiça procura sobre a vida da mãe e acham que ela não poderá sustentar. – Disse ele como se lesse sua mente. – No seu caso, senhora Alice, pode ter mais seis filhos que não haveria problemas. A pensão que ganha por causa de seus falecidos pais é muito maior do que o seu marido vai te pagar em sete anos de pensão.

Ela sorria aliviada, era gentil da parte dele lembrar que conseguiria sozinha. Olhou novamente os documentos e depois a sala, deserta e aconchegante, gostava da sua casa, achava grande demais, um pouco exagerada, mas era aconchegante.

Diversas vezes tentava pensar “por que comigo?”, sua família era tão feliz, colocou os papeis na mesa e pegou uma caneta dentro de um pote de vidro, apertou em cima e viu a ponta da caneta, respirou fundo, era agora! Olhou a porta com o sonho de Rogério vir correndo, gritando seu nome e dizendo que era tudo um grande engano, que não amava aquela jovem loira bonita, era dela: Alice cabelos pretos, finos, lisos de franja de quem ele realmente gostava. Dois anos atrás, seu cabelo era lindo, comprido, chegando até sua cintura, fortes, grossos, brilhosos, depois de alguns meses que descobriu o câncer eles começaram a cair, a quimioterapia os fazia ficar cada dia mais fracos. Se o câncer não tivesse nela com certeza Rogério não olharia para mulher alguma.

Voltou a olhar os documentos, sua mão segurando a caneta, pousou demoradamente sobre uma linha grossa onde no começo estava uma espécie de “x” mal feito.

Ouviu passos correndo, era Rogério!

– Mamãe, é a Lisa! – Veio correndo um menininho, magrelo, sorrindo.

É claro que não era ele, Só em sonho ele voltaria. Ela viu o pequeno, todo sorridente entrar segurando um telefone sem fio. Pelo sorriso, já até saberia quem era sem ele ter lhe falado o nome. Ela pegou o telefone dele, os olhos verdes redondos dele brilhavam seu sorriso ingênuo, enrolava uma mecha do lado esquerdo que era maior do resto do cabelo, esperava que Lisa dissesse que já estaria voltando.

– Oi querida. – Disse finalmente colocando o telefone no ouvido.

– Mãe, é o fim! Isso não pode estar acontecendo comigo! –Dizia Lisa, desesperada, parecia estar chorando, conhecia sua filha e sabia que viria exagero, era uma boa mãe, boazinha demais, era como dizia suas amigas.

– O que aconteceu, Li? –Escreveu a primeira letra do seu nome no documento, esperando sua filha falar.

– Sabe a Fernanda? – Começou fazendo uma pergunta, como se fosse óbvio a resposta.

– Não, querida.

– Como não?! É aquela magricela sem graça! Ela e suas incríveis amigas derrubaram suco de uva no meu vestido novo Prada!

♫ Passos PerfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora