Mona's POV
Nunca tinha passado tanto tempo no quarto do John, mas eu sabia que a atmosfera no quarto da Lola estava diferente. Quando entrei ali o cheiro era muito mais parecido com o que eu havia sentido a noite toda. Por alguma razão era mais "confortável" e limpo.
Lola ainda estava no banho, o que significava que eu podia procurar uma roupa por mim mesma. Sim, é isso que significa. Peguei uma camiseta amarela que eu adorava dela, e uma calça jeans e me troquei ali mesmo. Minha cabeça doía um pouco, mas não tinha bebido o suficiente pra ter uma ressaca difícil de lidar. Só precisava de uma xícara de café e, talvez, alguns litros de água.
- Mona, o que aconteceu com você? – Lola saiu do banheiro enquanto eu terminava de abotoar a calça e me olhava com um desespero eminente, mas sua pele quase verde e o seu tom apenas me mostravam que ela não estava nada bem, que não passara tão bem pela experiência de beber até perder a consciência. Só Deus sabe o que ela fez ontem.
- Sinceramente?! Nem eu sei. – Não era totalmente mentira, mas também não era totalmente verdade.
Ela riu fraquinho. Em outra situação, ela com certeza estaria me zoando sobre ter parado na cama do irmão dela, ou por tudo que aconteceu, e ela se lembra, na noite anterior. Porém o seu estado era deplorável. Acho que depois de tudo que ela está passando agora, não vai voltar a beber tão cedo. Ou assim eu espero.
- Mas o que aconteceu com você? Meu Deus Lola, você tá horrível. Parece que comeu 10 quilos de camarão estragado e um caminhão passou em cima de você. – Agora era o momento de rir. E ela riu junto comigo.
Alguma coisa tinha acontecido na nossa vida passada, ou sabe se Deus o que, mas eu e a Lola tínhamos uma ligação. A gente se odiava e se amava ao mesmo tempo. Uma fazia a outra passar vergonha na frente de todo mundo, nós duas nos batíamos e nos xingávamos o dia i n t e i r o, mas nada era feito por mal. E no final da tarde, ou alguns minutos depois, estávamos nos abraçando e dizendo que nos amávamos mais do que qualquer outra coisa. E o pior, ou melhor, era que falávamos a mais pura verdade.
- O que passou em cima de mim foram uns bons dois litros de álcool e açúcar. Juro que não sei como vou dar conta de ficar depois da aula hoje. Vou precisar de muito café, e muita água também. – Ela riu no finalzinho, mas voltou correndo pro banheiro como se fosse vomitar.
Não foi o que aconteceu, graças a Deus, mas percebi que ia ter que passar o dia todo com ela.
- Lola, dá pra passar na minha casa pra pegar as minhas coisas? – Falei alto o suficiente pra que ela conseguisse me escutar.
- Dá, se a gente for no nosso carro, vou falar com a minha mãe. Dá pra você escolher uma roupa pra mim? Eu to com medo de abaixar muito. – Ela "gritou" de volta e riu no fim da frase.
- Dá princesinha. – Escolher uma roupa pra Lola era fácil. Short, camiseta, all-star. Pronto. Quando fui colocar a roupa dela em cima da cama vi a camisa que o John tava usando jogada no chão. Aquilo fez meu coração gelar, mas passei por cima. Como acontece com a maior parte das coisas que eu sinto na vida.
- Lola, John e Mona, café!!! – Tia Jenny vai ficar muito brava com a nossa aparência.
- Lola, aaaanda logo! Sua mãe tá chamando e você ainda nem trocou de roupa! – Não sabia se ria ou se ficava preocupada, por que a situação era engraçada, mas poderia dar muito problema. Quem liga pra mais problema na situação que a gente tá, não é mesmo?
Lola's POV
Eu parecia um zumbi na mesa do café. Minha mãe não abriu a boca pra falar alguma coisa, ou o meu pai, mas eu sabia que eles não iam deixar passar tão facilmente. Fui concedida duas doses extras de café e uma garrafa de água maior, sem pedir. Mamãe deixou que fossemos de carro contando que o John dirigisse e eu me mantivesse o mais longe possível do volante.
Além do short, da camiseta e do all-star que a Mona tinha separado pra mim também peguei um par de óculos escuros dentro de uma gaveta de coisas que eu não uso com frequência. A verdade era que eu odiava óculos escuros. A ideia de não poder olhar as pessoas nos olhos me era extremamente conflitante. Com os olhos tapados não dava para saber se havia sinceridade, emoção, ou qualquer outra coisa. Os olhos são o espelho da alma não é verdade?
Porém, só de sair do quarto meu cérebro parecia fritar com a claridade, precisava dos meus maiores inimigos hoje.
- Lola, diz pra mim que não tinha nada pra aula da Sra. Williams hoje. Pelo amor de Deus. – Mona não lembrava muito bem dos compromissos, bem, eu também não, mas eu tinha uma agenda onde tudo que eu precisava fazer era anotado. E, bem, modéstia parte, funcionava.
- Não, Mona, não tem nada. Mesmo que tivesse, é a nossa última aula do dia. Daria pra fazer o mundo nesse meio tempo – falar fazia a minha cabeça doer mais. Precisava de uma música calma e relaxante pra controlar toda a dor que eu estava sentindo.
A situação dentro do carro não parecia das melhores, e nem era por causa do meu próprio cérebro que parecia fazer tudo girar descontroladamente. Mona estava sentada no banco de trás fissurada em seu próprio celular, John não pronunciava uma palavra sequer. E não havia música.
O que está acontecendo aqui? Em que dimensão eu estou pelo amor de Deus? Não foi aqui que eu estava a umas 10 horas atrás.
John's POV
Lola parecia um cadáver e a Mona não me olhava nos olhos desde que saíra do meu quarto. Eu tentava ao máximo não olhar, mas com um retrovisor que reflete exatamente o rosto que você quer ver é difícil manter a atenção na pista.
Quando chegamos à casa de Mona ela soltou um "já volto" e saiu correndo pra pegar as coisas dela.
- O que tá acontecendo entre você e a Mona? – Lola disse baixo, mas o suficiente pra me fazer levar um susto. Não pelo tom dela, mas pelas palavras.
- O que?! Como?! Eu e a Mona? Nada. O que poderia acontecer? – Defensiva não era nada bom, não nessa situação.
- Eu posso estar quase estourando meu cérebro, mas eu sei quando tem alguma coisa estranha. Principalmente quando não tem música no carro e parece que um fio de alta tensão tá dentro da engrenagem da cabeça de vocês. – Por que ela tinha me conhecer tão bem?
- Pera. De vocês? – Acabei de me entregar e nem percebi. Maldito sejam os hormônios. Pareço uma menina agindo desse jeito.
Ela riu da minha cara, mas soltou um "ai" muito forte e colocou a mão na cabeça.
A essa altura Mona já tinha voltado pro carro, e pra mesma posição que estava antes, só que agora com um all-star preto, ao invés do chinelo da minha irmã, e uma mochila preta de caveira que tinha escrito "I fucked Mick Jagger". Era pequeno, mas era visível. Lola tinha uma camiseta com a mesma frase, mas raramente a usava por motivos de precaução, nossos pais podiam ser muito legais e liberais, mas tudo pra eles tinha um limite.
Talvez eu devesse ter aprendido a ter limites também.
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Waiting For My Sun To Shine
FanfictionArizona, 2007. Adolescentes querendo fazer música, a qualquer custo. Lola, Mona, Michelle e Annie são uma banda, John, Patrick, Kennedy, Jared e Garret são outra, todos com a exclusiva vontade de serem realmente felizes fazendo aquilo que gostam. Am...