Nós estávamos no corredor, seguindo até a saída do colégio. Obviamente eu não entraria no carro dele pra ir a qualquer lugar, mas não entendia absolutamente nada do porque ele estava me carregando pelo colégio inteiro.
- Será que você pode me dizer pelo menos por que você precisa de mim? Sabe? Um único motivo? – Ele olhou pro lado, como se não tivesse prestando atenção em mim, mas ele prestava, porque eu percebia que tentava era despistar.
- Eu só... preciso falar com você. – Continuava olhando de um lado pro outro, como se procurasse um lugar vazio.
A verdade, mesmo, mesmo, a maior verdade de todas é que eu tive um longo e interminável amor platônico por ele quando éramos mais novos. Daqueles de quando você tá descobrindo a vida e se depara com uma paixonite grotesca e infantil. Até que eu cresci um pouco, ou o suficiente pra perceber que ele era babaca e galinha demais pra mim. Mesmo que eu não ligasse para como os caras me tratassem, porque eu deixaria de ver eles logo, logo. E depois de passar tempo demais com um irmão mais velho, todos os meninos tem medo de chegar perto de você.
- Ok, essa parte eu entendi. Quero saber sobre o que. – Minha voz era mais imposta agora. Atravessamos a porta de saída e ele parou. Sentou no murinho. Olhou pra mim. Coçou a cabeça, nervoso. Eu estava em pé na frente dele. – Você vai demorar muito? – Disse nervosa.
- Não. – Ele foi firme, mas isso não significava que ele estava menos nervoso. – Eu... – e travou. Olhou pra mim, de novo. Coçou a cabeça, de novo. Respirou fundo, e continuou. – Eu tentei, das piores formas possíveis mostrar pra você que eu estava interessado. Eu sei que foi das piores formas possíveis, porque você só conseguia me olhar com desprezo.
Ele olhou nos meus olhos pela primeira vez desde que tínhamos chegado ali. Aliás, desde que tinha me tirado do refeitório.
- Eu sei que você acha que eu sou o pior cara da face da Terra, e eu sei que eu sou um idiota, babaca, e do que mais você quiser me chamar. Eu dei motivos pra muita gente pensar isso de mim, mas eu realmente... eu... Argh! – Olhou pra cima, frustrado, provavelmente. – Eu acho que realmente gosto de você.
Aquilo foi como uma facada no meu peito. Não, eu não esperava por isso. Não, eu nunca imaginei que isso fosse acontecer. Nem em um milhão de anos. Aquilo era desesperador, porque eu sabia que não sentia a mesma coisa, e sabia que dizer que eu sentia era errado.
- Eu sabia que não devia ter falado nada. Eu só, tava confuso. Provavelmente você não sabe, mas eu nunca te beijei a força. Naquele dia, naquele bar. Eu não te beijei. Eu não fiz nada. Eu só te levei pra fora, pra você tomar um ar e... e, bem, você virou pra mim como se eu fosse o melhor cara do mundo e me beijou. Eu deveria saber que você só tava bêbada. Provavelmente beijaria qualquer cara naquela hora. – Minha cara de espanto era tanta. Eu não conseguia assimilar as coisas. Nada daquilo parecia real, a não ser o rosto dele, que transparecia uma certa decepção.
- É, você não se lembra. – Com certeza era decepção. – Vamos fazer o seguinte? Esquece o que eu disse. Aliás, esquece que eu te trouxe até aqui. Finge que isso não aconteceu. – E levantou, deu dois passos e eu segurei o braço dele.
Chame de Síndrome de Herói, chame de covardia, pena ou desespero, mas eu olhei nos olhos dele e eu não aguentei aquilo e beijei ele. De novo. Eu sabia que estava errado, não era aquilo que eu sentia, e pior do que isso, alguma coisa, no fundo da minha cabeça gritava que eu não podia fazer aquilo.
John's POV
Quando eu vi a Lola saindo, sozinha, atrás do Alex só piorou a raiva que eu estava sentindo do cara. Porra, ela é minha irmã e ele é um idiota. Ela não faria nada imbecil, eu sabia disso, mas foi instintivo sair atrás deles. Kennedy me seguiu falando que eu não devia fazer isso, mas ele mesmo parecia inquieto com a situação.
- John, pelo amor de Deus, para de tratar a sua irmã igual criança. Tu não é guarda-costas dela não! – Ele dizia com uma pontada de nervosismo na voz dele. Eu estava furioso e preocupado ao mesmo tempo. E Kennedy continuava me seguindo.
Nos breves 5 minutos em que eles ficaram parados na entrada do colégio, ele tentava me convencer a voltar pro refeitório e "deixar a minha irmã em paz" "ela já era grandinha o suficiente pra se defender de um cara se ela quisesse". Mas quando ele levantou e ela puxou ele pelo braço, se a minha raiva foi grande, e eu quase sai correndo e pulei no pescoço do cara, o desespero do Kennedy foi maior. Ele estava falando compulsivamente pra gente voltar, até que ele parou, olhou fixamente pro que tava acontecendo, abaixou a cabeça e saiu. Sem dizer uma única palavra. A minha acessão de raiva foi substituída por uma dúvida eminente.
Aparentemente a Lola me devia muitas explicações.
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Waiting For My Sun To Shine
Hayran KurguArizona, 2007. Adolescentes querendo fazer música, a qualquer custo. Lola, Mona, Michelle e Annie são uma banda, John, Patrick, Kennedy, Jared e Garret são outra, todos com a exclusiva vontade de serem realmente felizes fazendo aquilo que gostam. Am...