A Colecionadora de corações

SEGUNDO CAPÍTULO

ELA

Eu gosto do que faço, sou projetista e decoradora de interiores, uma decepção para meu pai que é um renomado cirurgião, com maior índice de sucesso em transplantes de coração. Isso chega a ser irônico, levando em conta que tem uma pedra no lugar do dele.
Abandonei a faculdade de medicina sem pensar duas vezes, isso foi quando "me libertei", indo morar sozinha.
Acho que minha mãe deve ter morrido de desgosto, e infelizmente me deixou com o monstro com quem se casou, esperando ter amor e tudo que imã mulher espera do marido.
Ela era muito romântica e se iludida muito. Teve muitos anos de depressão e me abandonou para a morte, quando eu tinha doze anos.
O que aconteceu depois disso?  Você não gostaria de saber, nem estar na minha pele.
Eu posso dizer que também poderia ter sido modelo, mas não levo jeito para posar para a câmera. Odeio tirar fotos e tenho crise nervosa quando vejo imã câmera.
Mas detesto quando duvidam da minha capacidade de trabalhar, por ser "a riquinha linda e herdeira de uma boa fortuna. "
As pessoas criam rótulos, depois rotulam as outras e acreditam nessas imbecilidades.
Meu pai fazia isso, e ainda faz muito. Tento não me deixar abalar mais quando ele diz, "ninguém te ama, ninguém nunca vai te amar,nem mesmo eu."
Trabalho para uma fábrica de móveis, projetando móveis sob medida e também sou contratada para decorar interiores. Fui contratada pela Susan Turner, mãe de uma amiga que fiz na faculdade, quando cursava medicina. Amélia, minha única amiga verdadeira que fiz até hoje. Sou uma pessoa sem vida social, eu sei, mas não me importo com isso.
Fiz a faculdade que tanto queria e sou feliz vivendo com o meu próprio dinheiro.
Hoje recebi um projeto grande, vou decorar apartamentos que servem de mostruário para possíveis compradores. São dez no total. Estou muito animada, vou estar muito tempo ocupada, e me livrar por muito tempo do meu pai. Sinto calafrios só de pensar em uma possível visitá dele.

Meu celular toca, mas por falta de uma vida social, tenho certeza de quem é, mesmo sem olhar. Atendo.
_ Oi, Amélia!
_ O que você está fazendo, Nath? Espero não estar muito ocupada para almoçar comigo.
_ Claro! Estou livre agora. Acabei de fechar um belo contrato e precisamos comemorar.
_ Que ótimo! Mas minha mãe sempre está dizendo que você precisa descansar, trabalha demais e nunca tira folga ou férias. Quer se matar de tanto trabalhar? _ dou gargalhadas da sua maneira exagerada.

Combinamos de almoçar juntas no restaurante do padrasto italiano dela, sempre que me vê, faz questão de dizer que estou magra demais, que preciso comer mais. E tudo isso com aquele sotaque engraçado que ele tem.

Quando chego no restaurante, Amélia já está a minha espera no pequeno bar que funciona como recepção e lugar de aguardar vagar uma mesa.
O lugar é chique demais para mim, não gosto, mas ainda bem que tenho que trabalhar de uniforme. Um terninho moderno e ao mesmo tempo sexy. Ideia da Susan, para os clientes ficarem satisfeitos, desconfio que ela me use, como se fosse a garota propaganda, que traz mais clientes do que os outros, o que não é de todo uma mentira. Eu fecho mais contratos do que os outros funcionários. Já que sou a única mulher que trabalha lá, tirando a Susan, devo a isso toda a hostilidade para com a minha pessoa. Não me interessa o que os outros pensam, pois trabalho honestamente e já tenho um bom dinheiro só meu, sem tocar em nada que é do meu pai. Não quero o dinheiro dele. Não gosto de frequentar lugares chiques assim. Sempre acabo encontrando algum conhecido do meu pai, e ser reconhecida como filha, receber sorrisos e as perguntas básicas, me faz querer sair correndo.

Me aproximo dela e coloco minhas mãos sobre os seus olhos.
_ Adivinha quem é?
_ Bom, com essas mãos suaves e macias... Deixe-me pensar... _ Eu tiro a mão dos seus olhos e me sento ai seu lado.
_ Sua boba! _ digo. Ela sorri e eu retribuo.
Ela é tão linda, por dentro e por fora. Ela não precisa dizer o que sente por mim. Eu sinto, mas á fiz jurar. E a muito contra gosto, concordou. Já faz muito tempo isso, mas não a deixo esquecer dessa promessa.
Ela tem cabelos loiros, encaracolados, mais lindos que já vi. São longos e naturais, nunca pintou os cabelos, em compensação eu, já fiz tudo com os meus. Ela é mais alta do que eu, tenho um e sessenta e cinco de altura e Amélia tem um e setenta e oito, alta pra caramba! Ela não usa saltos muito altos, mas já eu, abuso disso. Minha amiga também poderia ser modelo, mas sua beleza é diferente, não é gorda, mas tem belas curvas, e o que chama a atenção, são os olhos negros que ela tem, apesar de ser bem loira.