ELA
Acordo de manhã, satisfeita com as pequenas dores no meu corpo, uma lembrança da boa noite que tive.
Sei que devo evitar sair mais vezes com o belo Francês, mas ao mesmo tempo sei que não conseguirei resistir.
Tomo um banho quente para relaxar meus músculos do corpo e não demoro a me aprontar para ir ao escritório. Estou tão animada de ter tantos projetos para trabalhar e me manter ocupada. Nas a animação não dura por muito tempo. Recebo a ligação do meu pai exigindo minha presença em um jantar da esposa de um grande amigo dele. Não existe pior tortura do que ficar ao lado dele por muito tempo, tentando não me contorcer por estar na presença de um ser repulsivo.
Mas sei muito bem o que pode me acontecer se me negar a comparecer. Não quero ver novamente tudo que ele tem guardado, a parte podre dele que me contaminou.
Eu me lembro daquelas mãos frias em minha pele, sempre que tenho a sensação de sentir seu toque, me sinto suja e tenho que tomar banho e me esfregar até ficar com a pele toda vermelha e ardendo com a força que uso para usar a esponja.
Eu era tão inocente. Brincava com minhas bonecas e lamentava a partida da minha mãe. Já eram sete da noite quando ele entrou em meu quarto e disse que precisava ter uma conversa comigo. Levou-me para seu quarto. Vou me arrepender para sempre de ter passado pela soleira daquela porta. Pois depois desse dia, começou o meu sofrimento e tortura.
Dor. Dor e dor. Meu corpo e mente irão doer para sempre.
Chego ao escritório e vejo Susan a minha espera com um belo sorriso em seus lábios. Me pergunto qual seria o motivo.
─ Bom dia, Susan! Qual o motivo desse lindo sorriso, além de eu ser sua melhor funcionária? ─ ela dá um gritinho e bate palmas, de maneira rápida e curta.
─ Por isso aqui, venha ver!
Quando entro em minha sala, vejo que recebi uma enorme cesta com pelo menos duas dúzias de rosas vermelhas, meu queixo praticamente cai.
─ São para mim? ─ pergunto chocada e ainda em dúvida.
─ Ah! Não fique aí parada, garota, leia logo o cartão. Estou morrendo de curiosidade para saber o que o Francês escreveu para você!
─ Você sabe quem foi? ─ pergunto atordoada. Mas é claro que ela deveria saber. Sua filha ou marido, já tinham aberto o bico.
─ Estou feliz que tenha saído com ele, me parece ser um amor e pelo jeito, ainda é romântico! Ah, os franceses...
─ Não esqueça que seu marido é Italiano.
─ Eu não esqueço, minha querida, nunca me esqueço. ─ ela me olhou com malicia e saiu rindo, me deixando a sós com minhas rosas vermelhas.
Fui até minha mesa e peguei o cartão, que por sinal estava perfumado e tinha uma caligrafia linda.
Obrigado por me proporcionar a melhor noite da minha vida, mon cher. Espero que goste das rosas, elas expressam o tamanho da minha paixão. De seu Louí.
Eu estava sem palavras. Ele estava dizendo que estava apaixonado por mim? Ou que já era apaixonado por mim? Será que era possível?
Bom, eu costumava a freqüentar o restaurante do Otto a muito tempo, e sempre via o Louí. Eu percebia as vezes que ele me olhava e sorria, mas nunca imaginei que pudesse estar a fim de mim. Eu nuca encarei seus olhos e nem sabia que eram azuis, até o dia de ontem.
Coloquei a cesta em cima de um armário do escritório, de onde eu poderia trabalhar e não perdê-la de vista.
O dia passou mais rápido que o esperado e enfim, o martírio ira começar.
Fui direto para casa depois do trabalho. Não tive cabeça nem para ligar para o Louí e agradecer pelas rosas. Mas me obriguei a ligar para o salão de beleza para marcar cabelo e unhas. Meu corpo estava completamente gelado, eu realmente queria estar morta.
Tomei um banho tão quente que quase queimou a minha pele, mas não mudou o fato de estar gelada.
Escolhi um vestido de festa chique e belos sapatos de salto. Deixei tudo em cima da cama e desci para o salão que fica em frente ao prédio do meu apartamento.
Olhei no espelho enquanto a cabeleireira segurava meus longos cabelos, castanhos claros. De súbito resolvi fazer algo inesperado. Seria muito chocante me tornar ruiva? Não faço a menor ideia, mas isso não me impede.
─ Espere. Eu gostaria que você tingisse meus cabelos.
─ Como a senhorita quiser, mas já sabe a cor que gostaria?
─ Vermelho. Cereja, é isso que quero.
Passei às duas horas seguintes, apenas observando o trabalho da cabeleireira. Ela teve trabalho, pois tenho o cabelo liso, mas tenho bastante, além de seu comprimento ser na altura da cintura.
Ela deixou liso com cachos nas pontas, ganhando um belo movimento. Meus olhos verdes ganharam mais destaque. E eu sei que o querido papai não vai aprovar, vou ter o prazer de ver isso em seus olhos azuis glaciais.
Deixei que a manicure escolhesse um esmalte vermelho escuro para minhas unhas, das mãos e dos pés. Ficaria perfeita com meu vestido azul petróleo. Isso seria uma piadinha para provocar meu pai, já que seu amigo ganha dinheiro através do petróleo.
Volto para meu apartamento e me ilho no meu espelho de corpo todo que tenho meu quarto e encaro a ruiva diante de mim, com um vestido belo de festa, até a altura dos joelhos, saltos altíssimos, vermelhos.
Uso meus brincos de pérolas negras. Eram da minha mãe, ele não sabe que estão comigo. Foi a única coisa que peguei de minha mãe, quando sai de casa.
Eu sei o que isso pode me causar, mas ele não seria capaz de nada contra mim em publico, em uma festa desse porte. E não pode me obrigar a acompanhá-lo a lugar algum.
Quando desço do meu apartamento, o taxi que chamei já está a minha espera. Sei que o maldito frio á estará me aguardando quando eu chegar. Vou ter que manter o controle para não sair correndo.
E como esperado, quando o taxi encosta, é ele quem abre a porta. Vejo a ira em seus olhos quando vê o que fiz com os meus cabelos.
Sorri ao segurar minha mão para me ajudar a descer, mas logo fala ao meu ouvido, me causando calafrios.
─ Você parece uma prostituta, vai se arrepender de me envergonhar. ─ segura tão forte em meu braço que posso sentir seus dedos contra meu osso do braço, mas respiro fundo e finjo ser indiferente a dor que sinto.
Entramos na imensa casa e somos recebidos pelos anfitriões. Um homem grisalho mas de aparência jovem e em forma, tem um sorriso cativante e uma mulher, que aparenta a mais bela delicadeza em pessoa.
─ Finalmente temos o prazer de conhecer sua filha, ela é linda. ─ diz o homem.
─ Oh, sim, muito linda, parece um anjo. ─ diz a mulher toda sorridente. Não tive como não retribuir.
─ Muito obrigada, vocês são muito gentis.
─ Vamos entrar, quero te apresentar algumas pessoas, Fred.
─ E você, venha comigo minha querida, assuntos de negócios me deixa com enxaqueca.
Eu segui a Eliza, esse era seu nome, para dentro da linda casa que estava cheia de convidados, muito bem vestidos. A cada passo que eu dava, sentia os olhos do meu pai em mim.
Escolhi me sentar em uma poltrona em um canto discreto, enquanto ela continuava a dar atenção para seus convidados.
Peguei uma taça de champanhe caro e fiquei a observar. Isso era chato e maçante, e sabia que a qualquer momento, meu pai voltaria para o meu lado para me atormentar. Quando eu estava na, feliz, sétima taça de champanhe, ele veio até mim.
─ Onde você estava? Tem que ficar ao meu lado, há pessoas que quero que conheça. ─ ele disse, olhando para mim com desprezo.
─ Eu não sou seu espetáculo, querido papai. Tem que para de me obrigar a comparecer sempre que deseja, por que não arruma uma mulher para isso. ─ digo de maneira desafiadora.
─ Você já está bêbada? Não acredito que perdeu o jeito com a bebida, me lembro que seu limite era bem maior. Pare de agir como uma prostituta barata e venha comigo. Ainda tenho alguns assuntos para resolver antes de ir para casa te dar uma lição.
Ele me levou pelo braço, com suas palavras ainda ecoando na minha mente. Eu tinha que arrumar uma maneira de escapar das suas garras, mas como?
Parece que Deus resolveu ouvir pelo menos uma vez, as minhas preces. Eliza estava me chamando por algum motivo e meu papaizinho não iria contrariar a dona da casa e aniversariante.
─ Faça a Eliza feliz e não me cause nenhum problema. Vá até ela e melhore essa cara.
Nem pensei duas vezes e fui logo sorrindo para ela, indo em sua direção muito feliz em poder respirar em paz.
Ela estava reluzente de felicidade, e logo vi o motivo de seu sorriso.
Um homem bonito, na verdade lindo de tirar o fôlego, vinha em sua direção, também sorrindo e seus lindos olhos azuis brilhavam ao vê-la. Eles tinham os mesmos olhos e os cabelos eram do mesmo tom lindo e castanho.
Eu fui até ela como queria e ela segurou em minha mão.
─ Querida, gostaria que conhecesse meu filho, Andrew Miller.
Eu fiquei completamente sem palavras em vê-lo de perto. Um verdadeiro espetáculo, ele deveria ter muitas mulheres aos seus pés. E não soube o que dizer, apenas baixei os olhos de maneira tímida, mas na verdade estava evitando encarar seus olhos. Eram da maldita e linda cor azul.
─ Mãe. ─ ele disse apenas isso. Sua voz era maravilhosa. ─ Você está maravilhosa. Quem é o anjo que você está segurando pela mão?
─ Ela é filha do Frederico Sanford, renomado cirurgião, amigo do John. Achei que poderia apresentá-la a você. A pobrezinha está perdida no meio de tantas pessoas desconhecidas e velhas. ─ ela disse dando uma gargalhada linda.
─ Não é verdade, a senhora é linda e nem um pouco velha.
─ Ah, querida, você é que é um doce.
─ E como esse anjo se chama? ─ perguntou ele, me obrigando a olhá-lo.
─ Meu nome é Nathalia.
─ Tenho que ir, meus queridos, tenho que rodar entre os convidados. Espero que cuide bem desse anjo, Andrew. Ela parece ser bem tímida e está perdida na festa.
A mãe dele, simplesmente, me deixou na presença dele e se foi. Fiquei pasma com a maneira que ela usou para me deixar com o filho.
Olhei a minha volta e consegui ver o olhar do meu pai sobre mim. Eu precisava de um motivo para escapar e acabo de ganhar um, e diga-se de passagem, que senhor motivo!
─ Então, você quer me acompanhar? Estou precisando realmente de uma bebida. Acabei de chegar e minha mãe já está tramando algo. ─ ele sorriu e meu coração disparou.
─ Bom, não sei o que ela pretende, mas hoje é aniversario dela, vamos fingir concordar. ─ ao me ouvir, ele sorriu novamente.
─ Então venha, vamos pegar uma bebida, e tenho que concordar com minha mãe, aqui só tem velharia!
Isso me fez soltar uma risada, que a muito tempo eu não conseguia. Claro que isso causou uma reação negativa na pessoa odiosa que não tirava os olhos de mim.
Andrew me levou em uma sala reservada, parecia um escritório e tinha muitos livros.
Achei que poderia parecer estranho, ficar em uma sala sozinha com um cara que acabei de conhecer e acho que ele viu isso em meu rosto.
─ Não vejo problemas em ficarmos um pouco aqui, não fico muito confortável em festas desse jeito, então John sempre me deixa passar um tempo aqui durante as festas. Não costumo comparecer a não ser que seja pela minha mãe.
─ Entendo, também evito se puder, mas hoje não foi possível.
─ Tive que vir apenas porque é aniversario da minha mãe, não poderia fazer uma desfeita. E você?
─ Bom, meu pai foi convidado e não pude recusar.
─ Então, vamos nos livrar dessa festa chata por pouco tempo. Veja, temos um pequeno bar aqui, o que gostaria de beber?
Olhei para onde ele apontava e vi um pequeno bar de canto co varias bebidas.
─ Uísque, por favor, e sem gelo. ─ ele pareceu chocado com a minha escolha.
─ Não é um pouco forte para você, não estava bebendo champanhe?
─ Você perguntou o que eu gostaria de beber e eu respondi. Vai me servir ou não?
─ Você tem ima aparência muito frágil, não acho que...
─ Não deixe a aparência de anjo enganar sua visão do demônio que eu escondo. ─ ganhei um sorriso safado e um olhar malicioso em troca das minhas palavras.
─ Opa! ─ ele levantou as mãos em sinal de rendição. ─ depois não diz que não avisei. Não quero ser culpado de deixá-la embriagada, ainda mais se estiver de carro.
─ Eu nunca dirijo, só ando de taxi.
─ È, mas eu estou de carro e tenho que trabalhar amanha. Bebi demais ontem e foi difícil se concentrar no trabalho.
─ Também tenho que trabalhar amanha cedo, mas não me importo, minha tolerância é alta.
─ Alta quanto?
─ Você vai ver.
Ele me serviu uma dose colocando o copo em minha mão e eu virei tudo de uma só vez e devolvi o copo indicando que colocasse mais.
Ele me acompanhou nas três primeiras doses, mas eu já estava na quinta dose quando ele resolveu comentar.
─ Caraca, você bebe pra caralho! Desculpe meu palavreado. ─ eu dei uma gargalhada.
─ Sem problemas, não sou uma das riquinhas frescas que você conhece.
─ Eu não costumo interagir com riquinhas, eu moro no subúrbio.
─ È mesmo? O que você faz?
─ Sou detetive de policia.
─ Hummmm. O homem das algemas.
Estávamos conversando e rindo muito a mais de uma hora e eu já tinha esvaziado mais da metade da garrafa, quando ouvimos uma pequena batida na porta. Pelo frio na espinha que senti, já sabia quem poderia ser.
Andrew abriu e lá estava o monstro a me olhar.
─ Eu estava à procura da minha filha.
─ Ah, sim, estávamos conversando e evitando a festa, é minha culpa, eu sei.
─ Sim, sua mãe vai cortar o bolo, acho melhor irmos para lá. ─ ele me olhava e eu podia ver o sombrio dentro deles.
─ Ah, sim claro. ─ ele me estendeu a mão e com isso veio o alivio, ele não me deixaria para trás com o monstro. ─ Vamos? Minha mãe disse para não sair de perto de você e pretendo cumprir a promessa. ─ ele sorriu lindamente para mim.
─ È claro, tudo pela sua mãe.
Meu pai não estava com uma cara boa, mas não fez nenhum comentário, apenas nos acompanhou para o salão ao meio de todos os convidados.
Passou tudo muito rápido, acabou antes do que eu gostaria e para minha sorte ou não, meu pai se retirou dizendo que em breve conversaríamos e que não poderia ficar até o fim da festa.
Achei muito estranho, mas meu alívio não me deixou ficar com medo do que ele pudesse fazer depois disso.
Eu realmente estava adorando a companhia do detetive, mas sabia que logo teria que ir embora. Para o meu desgosto, ele também tinha lindos olhos azuis.
E enfim os convidados começaram a ir embora e chegou a minha vez de me despedir da mãe dele.
─ Foi um prazer te conhecer, querida!
─ O prazer foi todo meu, e obrigado por me deixar em boa companhia. ─ pisquei para o detetive e ele sorriu.
─ Mas não se preocupe, eu pedi para que ele te leve para casa, não é seguro há essas horas.
─ Sim, mãe. Eu disse que iria levá-la.
─ Claro, se não for dar trabalho.
─ Trabalho nenhum, querida. ─ ela disse de maneira doce.
─ Então vamos? ─ ele me olhou indicando o braço para que eu segurasse e o acompanhasse até seu carro.
Caminhamos até o carro em silencio. Ele abriu a porta para que eu entrasse, com um sorriso, que eu retribuí.
Fomos falando de assuntos aleatórios, enquanto eu dizia para onde ele deveria ir.
Chegamos ao meu prédio. Eu agradeci e me virei para abrir a porta, mas antes que eu saísse, ele segurou a minha mão. Fiquei surpresa e dessa vez ele percebeu. ─ só para conversar, você é interessante.
─ Ah, não sei...
─ como amigos, só como amigos. ─ sorrio e ele também.
─ Tudo bem. ─ digo e pego um cartão com meu numero em minha bolsa e lhe entrego. ─ Ligue quando quiser. ─ lhe dei um beijo no rosto e desci do carro e não olhei para trás, caminhando para entrar em meu prédio.
Percebi que o porteiro não estava na recepção como deveria estar. Achei estranho, pois ele nunca fazia isso.
Ao entrar no elevador, recebo uma mensagem no meu celular e sorrio, era ele.
"tenha uma boa noite, anjo"
Se ele soubesse o demônio que existe dentro de mim e que sempre dá um jeito de sair...
Parei de sorrir e guardei o celular, peguei as chaves do meu apartamento e quando tentei abrir, vi que não estava trancado e me lembro perfeitamente de ter trancado antes de sair.
Meu corpo todo enrijeceu e meu sangue ficou gelado.
Eu já sabia quem poderia ser e provavelmente... O que iria acontecer. O inferno estava de portas abertas e o demônio dentro do meu apartamento.
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A Colecionadora de corações
RomanceVários crimes, um detetive lindo, inteligente e uma crimosa psicopata, com cara de anjo. Uma história que te fará odiar ou ter compaixão.