TERCEIRO CAPÍTULO

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ELE

Eu sabia que não deveria ter dormido, mas Cláudia poderia ter me chamado antes de sair e voltar pro laboratório. Já eram Quatro horas da tarde! Nossa, faz muito tempo que não durmo tanto, e durante o dia.
Vou para o banheiro e tomo uma ducha, rápida. Tenho que ligar para o Will, que deve estar uma fera, mas não pode reclamar, eu nunca tiro férias e nem falto ao trabalho. Sou um detetive exemplar, a não ser pelo fato de que acabei de transar com uma colega de trabalho.
Eu sei que não deveria fazer isso, mas faz muito tempo que essa mulher está me matando de tanto tezão.
Termino o meu banho, enrolo a tolha na cintura e volto para o meu quarto, que está uma desordem total. Preciso urgentemente de uma faxineira, não levo jeito mesmo para cuidar da casa. Ainda mais uma deste tamanho.
Me visto e procuro meu celular, e lembro que deixei no carro.
Olho no chão ao lado da porta, e encontro as chaves do meu carro, junto com as chaves da casa. Sorrio com a lembrança do que estava fazendo quando as deixei caírem ali.
Saio e vou até o carro, desligo o alarme e entro, pegando meu celular no banco do carona. Olhando para a tela vejo que tenho cinco chamadas perdidas e mais três mensagens. È, tem alguém muito puto comigo.
Ligo o carro e vou direto para a delegacia encontrar um chefe que vai arrancar minha cabeça. Nem chego a ler as mensagens. Mas bem que poderia, o transito está um inferno. Levo tempo demais para chegar.
Entro em minha sala e já vejo Will vindo atrás de mim. Ele entra e fecha a porta.
- Posso saber onde diabos você esteve? Estamos trabalhando duro para encontrar esse monstro e você some!
- Sinto muito, peguei no sono pesado e quando acordei, vim o mais rápido que pude, mas o transito estava um inferno. E não atendi ao celular, porque estava dentro do carro, deve ter caído quando cheguei em casa e nem percebi.
- Você realmente dormiu? Isso é inacreditável, a quanto tempo não fazia isso? Já estava na hora!
- Está feliz por eu ter dormido? Entendi bem? - eu tive que rir.
- Está rindo por quê? Sua cara fica horrível quando passa muito tempo sem dormir, só a base de café.
- Tudo bem, vamos trabalhar. Já temos alguma coisa?
- Bom, enquanto você dormia alguém estava trabalhando. A Cláudia ligou dizendo que tinha algo para nós.
- E então? O que ela achou?
- Não faço ideia, ela disse que só diria para você! - Will estava mesmo puto.
- Como assim? Isso é informação para a equipe, se não estou, mesmo assim as coisas devem continuar, por isso tenho um assistente. Onde ele está?
- Está ao telefone com a Cláudia, pedi que ligasse assim que você entrou.
Erick Wright era meu assistente a mais de dois anos e era muito eficiente. O problema ou a culpa foi minha, eu sabia que não deveria pegar uma colega de trabalho. Agora é provável que ela tenha feito isso só para querer minha atenção, mas não pensou que chamaria a atenção de todos ao mesmo tempo. Agora eu mesmo estou puto!
Abro a porta e avisto Erick ao telefone, pedindo para alguém esperar um momento. E vem até mim.
- Desculpa, eu tentei ao máximo, mas ela só quer falar com você. Eu tentei te avisar pelo celular, mas...
- Tudo bem, Erick, pode deixar que eu me entendo com ela, me passa o telefone.
Pego o telefone celular dele e o mando entrar em minha sala com o Will, em seguida entro e fecho a porta. E respiro fundo, para não perder o controle com uma mulher, mas acho que vou acabar dizendo o que ela não quer ouvir.
- Qual é o problema, Cláudia? Eu não estava presente, mas a minha equipe e chefe estavam aqui. Você sabe que nesses casos, cada segundo é precioso para que não haja outras vítimas?
- Bom, eu achei que, já que foi você a encontrar as pistas, que gostaria de ser o primeiro a saber.
- Pois pensou errado, está tudo parado aqui por causa disso. Eu gostaria de pedir que não fizesse isso outra vez. Agora, pode me dizer o que realmente temos?
- Eu prefiro que você venha ao laboratório com o Will. Vai ser melhor para explicar.
- Ok. Já estamos a caminho.
Devolvi o celular ao meu assistente e não gostei da cara do Will me encarando. Parece que fiz algo muito pior do que chegar fora de hora no trabalho.
Tinha alguma coisa acontecendo que eu não estava vendo. Pedi para que Erick sair. Tinha que saber o que estava incomodando o Will.
- Qual o problema, Will?
- Estou saindo com a Cláudia, já faz algum tempo e eu a pedi em casamento há uma semana.
Puta merda! Não acredito que não percebi o envolvimento deles, e pior ainda, ela é uma cretina! Como pode ir pra cama comigo?
Tento não mostrar reação alguma, me concentro, respiro fundo e olho para ele.
- E o que ela disse? - Estou realmente torcendo para que ela não tenha aceitado, mas isso não diminui minha culpa.
- Disse que gostaria muito, mas queria um tempo para pensar. Acho que é por isso que está me evitando.
- Bem, não sei o que dizer. Mas se ela pediu um tempo, em algum momento vai ter que falar com você e dar a resposta. Se for um sim te dou os parabéns, mas se for um não, eu vou pro bar encher a cara com você.
Will, não era muito de sorrisos e nem gracinhas, mas pela primeira vez, o vi gargalhar.
Mas se soubesse o que ela fez e o que eu fiz, iria quere matar alguém, e acho difícil que seja ela a escolhida para ser morta. Nossa! Tenho um caso importante para resolver e estou aqui divagando, sobre morte por traição, a única diferença é que eu nem sabia que estava traindo alguém. Hilário, não?
Ele se levanta e sua expressão muda para a profissional.
- Vamos para a tal reunião, para sabermos o que temos para ser usado no caso.
Confirmo com um aceno de cabeça e o acompanho.
Vamos até o outro lado do prédio, em uma sala em que a perícia usa para termos acesso a tudo que tem relação com os casos que investigamos.
Entrando na sala, vejo que a equipe já está toda lá. A Cláudia está com uma blusa colada, sem mangas e quase transparente, com uma calça jeans tão justa que não consigo acreditar que entrou nela. Evito olhar para o Will não perceber, mas é bem pior quando ela se vira e me encara. Merda!
Sorri como se eu fosse seu premio, isso não me agrada, pois o que aconteceu não vai se repetir, digo isso para mim repetidas vezes em minha mente, mas minha mente é traiçoeira e fica me mostrando cenas de nós dois em minha cama fazendo muito sexo, e pior, do bom. Desvio o olhar, mas ela se dirige a mim ao falar.
- Então, vou mostrar o que temos para o caso.
Ela vai até o quadro em que temos tudo que encontramos para o caso e cola as evidencias junto.
- Então, o que temos? O que você encontrou?
- Basicamente, isso aqui - ela aponta para uma foto ampliada - È uma fita adesiva mesmo, e tentamos identificar o que havia presa nela, como vocês podem ver aqui na ampliação, parece ser uma pequena fibra de cabelo, mas só identificamos o sexo, nada mais.
E na gota que você encontrou, era mesmo vinho e havia um componente anestésico, mas não consegui identificar ainda. Provavelmente é o que ela usa para dopar, anestesiar suas vítimas e retirar o coração.
- Quer dizer que é mesmo uma mulher? E está dizendo que ela faz isso com o cara ainda vivo?
- Sim, afirmativo.
- Então é só isso, não temos nada de concreto que podemos usar para encontrá-la e contê-la?
- Infelizmente, ainda não.
- Então não banque a sabe tudo e deixe uma equipe toda esperando por praticamente nada. Ninguém é mais especial do que as pessoas que devemos proteger. Fim de reunião. Obrigada.
Olho para Will, que não parece nada satisfeito, mas se não a tratar assim ele pode receber um não ao seu pedido de casamento e minha culpa vai ser ainda pior.
Vou para minha sala e faço minhas anotações sobre o caso e vou voltar para casa, vou tirar umas horas pra mim mesmo. Hoje está sendo um péssimo dia.
- O que foi aquilo, Andrew?
- Nada, apenas stress com tudo isso. Estou voltando para casa agora. Retorno amanhã pela manhã.
Saio dando um tapinha amigável no ombro de Will e vou até meu carro e adivinha quem está a minha espera, encostada em meu carro?
Mas não paro e nem falo com ela, abro a porta e ela segura em meu braço.
- Vai ficar me tratando assim? Qual é a sua, detetive?
- Qual é a minha? - olho para ela irado. - Você não me disse que estava saindo com o capitão e nem que ele te pediu em casamento, sabe em que tipo de situação você me colocou? E nem sei como consegue nos encarar depois disso. - me livro de seu aperto em meu braço, entro e ligo o carro saindo em seguida, sem ver se ela tinha se afastado.
Eu poderia ter esperado por explicações ou tentado ouvi-la, mas não aguento nem ouvir aquela voz, sem pensar em sexo. A distância é melhor.

A Colecionadora de coraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora