A Chegada

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Aos gritos o pequeno João anuncia:

— O Sinhozinho chegou!!

Dona Fátima reclama dos gritos de João e o manda calar a boca.

Ela vai até a sala para verificar se o que o garoto grita aos quatro ventos é verdade. Ao chegar à sala, ela vê o seu filho Henrique ajudando os escravos com as malas que são retiradas da carruagem.

Ao vê-la parada na entrada da sala, ele vai ao seu encontro.

— Sua bênção, minha mãe!

— Deus te abençoe, meu filho. Fez boa viagem? - Ela verifica seu estado, suado e com as roupas sujas e amarrotadas.

— Não foi uma das melhores, minha mãe, mas correu tudo bem. E onde está...

Sua pergunta é interrompida pelo barulho de uma das malas caindo das mãos de um dos escravos.

— Preste atenção ao que está fazendo, seu negro desgraçado! Quer acabar com as malas do meu filho?

A irritação visível na voz de sua mãe faz com que Henrique fique nervoso.

— Minha mãe, mande preparar um banho e algo para eu comer, deixe que eu resolvo isso.

Os negros ficam visivelmente nervosos com o olhar de Dona Fátima. Quando ela se retira, Henrique caminha até eles tranquilamente e diz:

— Vamos, terminem logo com isso antes que o senhor meu pai volte. Vosmecês sabem que as coisas com ele são muito piores.

Ele faz um gesto com a cabeça para que eles levem as bagagens casa a dentro.

Após todos os seus itens serem colocados em seus aposentos, Henrique vai ter com a mãe, que está na cozinha dando ordens para o almoço e o banho de seu filho.

— Senhora minha mãe, como está o banho? - Pergunta ele ao adentrar na grande cozinha, os escravos ao vê-lo baixam o olhar.

— Já era para estar pronto meu filho, mas é uma lerdeza dessas porcarias de escravos, ainda estão enchendo sua banheira - Diz ela com cara feia ao observar dois escravos que entram com baldes com água, indo em direção ao quarto de Henrique.

Ele vira-se para sair em direção a sala e diz :

— Volto em 10 minutos, vou dar uma olhada rápida pela casa. Espero que o banho esteja pronto ao retornar - Sai caminhando de cabeça erguida e corpo ereto.

— Ouviram suas bestas? Andem com isso! - Dona Fátima sai nervosa em direção ao seu quarto — Maria, venha comigo!

Maria vai ao seu encontro rapidamente. Ela sabe que a família Cordeiro de Sá odeia ser contrariada, tudo tem que ser exatamente no instante solicitado.

Ao chegarem ao quarto mais amplo da casa grande, Dona Fátima apanha dois frascos em seu armário e entrega a Maria.

— Tome, leve isto para o quarto de Henrique. Deixe ao lado da banheira dele, verifique se tem toalhas limpas, se não tiver, arrume! - Com um gesto, ela manda a serva se retirar.

Maria rapidamente coloca os dois frascos na mesa ao lado da banheira, troca a toalha e se retira.

Enquanto isso, do lado de fora da casa, Henrique está sentado em uma cadeira confortável na varanda, olhando o lindo jardim que se estende em torno da casa.

Passado alguns minutos além dos dez, Henrique volta para dentro da casa e vai direto para o seu aposento.

Ele verifica, sua banheira cheia, as toalhas no aparador ao lado da mesa em que estão os dois frascos, abre um e sente o aroma, alfazema. Ele sorri e coloca algumas gotas na água.

Entre o amor e Os grilhões.Onde histórias criam vida. Descubra agora