O SEGREDO

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Alana retorna para seu quarto após despedir-se de Paulo e Anastácia a acompanha.

— Alana, vosmecê parece estar aliviada e feliz.

— Sim, Anastácia. O Paulo é de verdade um bom rapaz.

— Que bom, eu ouvi parte da conversa. Ele a olha com muita ternura - Anastácia diz com voz embargada.

— Perdoe-me Anastácia, se estou feliz, vosmecê ainda sofre pelo Henrique.

— Tudo bem, vai passar, tenho tantas coisas ruins acontecendo comigo, essa é só mais uma.

— Tenho certeza que meu irmão te ama, Anastácia, ele disse isso para mim. Ele chorou em minha frente, disse até que pensa em fugir com vosmecê, mas que não se casará com a Camila.

— Ele fugiria comigo? - Anastácia limpa uma lágrima solitária que escorre pelo seu rosto.

— De certo que sim, mas eu o aconselhei a não fazê-lo, nosso pai caçaria vosmecês até no inferno, e sem dinheiro, vosmecês não iriam muito longe.

— Se ao menos... – Anastácia volta a chorar.

— Se ao menos o quê?

— Nada, esqueça. Nada mudará. Serei vossa dama de companhia até o seu casamento, depois disso, não sei o que vosso pai fará comigo.

— Será que ele fará o mesmo que seu antigo dono? Mas eu me casando peço ao senhor Paulo que me deixe levá-la comigo.

— Meu antigo dono?

— Sim, Anastácia, meu pai disse que vosmecê foi vendida para ele, porque a filha do seu antigo dono se casou e foi morar longe. Mas eu não vou morar longe, posso levá-la comigo.

— Antigo dono... – Anastácia senta-se na cama e começa a chorar, mas esse é de saudade.

— O que houve, sente falta de sua antiga dama?

— Alana, preciso dizer-lhe algo, mas é segredo. O segredo que guardo comigo, não pode contar a ninguém ou vosso pai irá cumprir com o prometido.

— E o que ele te disse?

— Que arrancaria a minha língua e depois me venderia a um traficante de negros. Eu não posso sair dessa casa ou nunca mais consigo minha liberdade.

— Eu prometo, se isso irá te ajudar, prometo não contar a ninguém e tentarei lhe ajudar de alguma maneira.

Então, Anastácia conta seu segredo para Alana, com todos os mínimos detalhes.

— Meu Deus, que horror! Como consegue ficar bem Anastácia ou devo lhe chamar de...

— Não! Nunca me chame dessa forma ou vosso pai vai saber a verdade e cumprirá com a sua palavra.

— Tudo bem, deve haver uma maneira de lhe ajudar, vou pensar e tentarei fazer algo. Vosmecê contou isso a Henrique?

— Não, de maneira alguma. Henrique é muito esquentado, sempre quer resolver tudo na hora e acabaria me prejudicando.

— Eu sempre desconfiei de vosmecê. Sabia que algo não se encaixava no que dizia.

Alguns dias depois, o coronel resolve voltar à fazenda, deixando dona Fátima com os filhos na cidade. Henrique retorna da fazenda e está péssimo, não se barbeia mais, está com olheiras, mais magro. Quando ele desce do cavalo, Alana e Anastácia estão no jardim, Anastácia o vê e fica chocada com o estado de Henrique.

— Meu irmão, o que houve com vosmecê, está bem?

— Não estou bem Alana, mas isso não importa agora. Como vai Anastácia?

Entre o amor e Os grilhões.Onde histórias criam vida. Descubra agora