Uma semana se passou desde que Henrique esteve na cidade com seu pai, agora, o mesmo deu ordens para que tudo ficasse pronto para sua viagem às Minas Gerais. O pai mudara de ideia não deixando que Henrique o acompanhasse na viagem. Exigiu que ele ficasse para cuidar da fazenda e de sua mãe e irmã.
Mesmo sabendo que seria um alívio não ter que acompanhar o pai numa viagem longa e com propósitos fora de seu agrado, Henrique também não estava feliz em ter que comandar a fazenda na ausência do pai.
O coronel Antônio mandou chamar Teodoro para a fazenda, para ajudar Henrique.
— Quem ficará no lugar do Teodoro, meu pai?
— O Osório me mandou por esses dias, o capataz dele. É tão bom quanto o Genaro.
Com essa fala Henrique percebeu o que o pai queria dizer na verdade, que o capataz do Osório era tão cruel quanto o Genaro.
Henrique passa horas com o pai na lavoura, como também no escritório.
— Vou trazer peças novas, assim como alguns condimentos que sua mãe utiliza.
Henrique recordou-se que sua mãe era mineira, mas nunca soube exatamente como ambos se conheceram.
Sua mãe certa noite, um pouco antes da viagem do coronel, comentou com Henrique que o coronel ficava sempre muito ansioso quando sabia que novos escravos estavam para chegar à fazenda. Mesmo ela achando que já havia muitos, nunca se deu ao luxo de falar nada a respeito com o coronel, pois sabia qual seria sua reação.
Era uma segunda bem cedo, quando o coronel, Genaro e alguns escravos de confiança do coronel, partiram rumo a Minas Gerais. Henrique levantou cedo para ao menos não dar motivos ao pai de falar. Após o café da manhã que foi servido após a partida do coronel, Teodoro chega à presença de Henrique.
— Doutor!
— Sim, Teodoro.
— Quais são as ordens?
— Meu pai disse que teríamos que terminar de ensacar o café do armazém para levar para a venda. Se bem que, pelo que sei, já está tudo vendido.
— O doutor vem comigo?
— Não Teodoro, eu vou ficar e verificar uma papelada aqui. Vá vosmecê e qualquer coisa, mande me chamar aqui.
— Certo.
Henrique observa o capataz sair pela porta do escritório. Assim, ele volta sua atenção aos papéis em sua mesa, são contratos, documentos de compra de escravos, dentre outros.
Ouve-se uma batida à porta, é Alana.
— Posso lhe falar, meu irmão?
— Claro Alana, entre.
Alana entra e senta-se na cadeira frente à mesa.
— O que quer?
— Está muito ocupado? Gostaria de saber sobre um escravo.
Henrique, que estava distraído, observando os papéis, levanta o olhar intrigado. O que será que a irmã quer saber sobre escravos? Ele não conviveu muito com ela, será que era como o pai? Gostava do sofrimento dos negros?
— Fale - Ela já tem toda a sua atenção.
— Não sei se vosmecê notou quando estivemos na casa amarela, um escravo jovem - Será que ela gosta de escravos como o pai? —, de nome João.
— Sim, o que tem ele?
— Ele me deixou curiosa. Será que a história de vida dele, que me contou, é real?
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Entre o amor e Os grilhões.
RomanceÉ possível amar quem nasceu para ser odiado? É possível odiar quem precisa de amor? Henrique só quer mudar a história, para que Ângela possa ser feliz. Entre desafios, dor, lágrimas e muito amor, Henrique abre mão de um futuro que nunca desejou, pa...