O PEDIDO

235 77 239
                                    


Henrique só retornou à fazenda na manhã seguinte, achou que seria mais seguro. Partiu bem cedo para estar na fazenda Santo Antônio antes do meio-dia.

Mesmo assim, chegou e a mesa já estava sendo posta para o almoço, já eram meio-dia e meio, estava exausto. Sua mãe e irmã receberam-no contentes.

— Como foi na cidade meu filho?

— A contento minha mãe, mas estou muito cansado.

— Vou mandar que lhe preparem um bom banho de asseio para que relaxe um pouco. Se quiser, aguardamos meia hora para o almoço.

— Não minha mãe, pode almoçar. Eu vou tomar banho, como algo mais tarde, estou querendo mais descansar do que comer.

— Entendo, o mesmo acontece a seu pai quando vem da cidade ou de outro local mais distante.

Como um bom banho é ótimo para relaxar, Henrique começa a pensar na casa amarela, como seria bom morar lá, mas seu pai jamais o deixaria ir, ele já deixou bem claro que o quer na fazenda.

— Enterrado nesse fim de mundo - Ele suspira ao imaginar o tédio.

Deitado em sua cama ele começa a pensar...

— Imagine as mulheres daqui... – Falando consigo mesmo, ele imagina como seria o tipo de garota que o pai iria querer com que ele se casasse.

Ouve-se batidas à porta.

— Quem é?

— A Lourdes, sinhozinho, vim para esvaziar a banheira.

— Entre, enquanto vosmecê faz isso, eu vou até a varanda, quando terminar me chame, quero descansar - Ele se vira para sair dos aposentos.

Sinhozinho, eu agradeço o que fez por eu e por Estevão...

— Cale essa boca! - Ele apressa-se a tapar a boca da escrava com a mão — Vosmecês dois me prometeram não contar sobre nossa conversa naquele dia. Não podem falar nada, com ninguém. Ou quer mesmo que eu os ponha no tronco ou mande arrancar suas línguas para que fiquem quietos?

— Mas sinhozinho, só tá eu e o senhor aqui.

— As paredes têm ouvidos, Lourdes, além do mais, o que não falta nessa casa são escravos, se isso for descoberto por qualquer escravo, o Teodoro vai saber e, meu pai vai brigar comigo e fazer muito pior com vosmecês, entendeu?

Lourdes concorda com um gesto de cabeça.

— Esqueça tudo aquilo e quando terminar me chame.

Ele sai do quarto em direção a varanda. Será que esse segredo vai durar? Lourdes é muito jovem para manter um segredo assim, se algo for revelado, ele terá que tomar uma atitude mais ríspida. Mas não consegue se imaginar açoitando ninguém, muito menos uma menina. Porém pode mandar assustá-la pra valer. Veremos como as coisas caminham.

A quinta-feira transcorreu sem problemas aparentes. À noite, Henrique já está em seus aposentos quando alguém o chama.

— Sim?!

— Sou eu, meu irmão, preciso lhe falar.

Ele abre a porta e Alana entra.

— Alana, vosmecê sabe que não fica bem uma jovem no quarto de um homem, mesmo sendo esse seu irmão.

— Sim, eu sei. Porém o que desejo lhe falar não creio que seja recomendado em presença de outros.

— Entendo. Sobre o que quer falar?

Entre o amor e Os grilhões.Onde histórias criam vida. Descubra agora