Menina Leblon

82 2 1
                                    

"Menina Leblon,

Vermelho batom,

Foi vista com Jão,

Malhando na praça..."

Prazer sou Gabriel Paixão nasci no Espírito Santo, em Piúma pra ser mais exato, cresci as margens do mar e da nova prefeitura, amava os dois, da janela do meu quarto no apartamento do terceiro andar eu dormia ouvindo as discussões dos vereadores sobre o futuro da minha cidade: "Devemos priorizar a segurança de nossa cidade!" e bum! Aquele soco na mesa! Isso me excitava, eu me entusiasmava com tudo aquilo... Política... Discussões... Afinal o destino da minha escola, da minha cidade, do meu bairro, etc. estavam todo nas mãos daqueles homens que discutiam como animais. Não sei se eu era muito novo na época ou se realmente não tinha, mas eu não via tantos problemas na minha cidade igual o povo reclamava.

Eu tinha uma rotina bastante legal, ia pra escola estadual que não ficava longe da minha casa, depois chegava, em casa demonstrava amor a minha mãe, almoçava, jogava vídeo game, fazia as atividades de casa, saia pra jogar bola com os amigos, voltava pra casa e meu pai já estava, brigava comigo pela sujeira e me mandava tomar banho, depois era só alegria na hora do jantar assistindo televisão...

Mas este ano as coisas não estão tão boas...

Meu pai chegou abatido hoje, coçando a cabeça, reparei logo de cara de cara que algo havia acontecido, ele foi conversar com mãe na sala eu fiquei escutando de canto:

- Como assim foi demitido?

- Muitos foram amor. - Meu pai disse desconsolado - parece que a crise é no Brasil inteiro...

- Santo Deus! E agora?

- Estou procurando outro emprego, mas está muito difícil... Ainda mais na construção civil... Com estas chuvas... Ninguém está construindo!

- O que faremos amor?

-Vou procurar bicos... Vamos começar a economizar.

Depois disso as coisas só pioraram, vendemos alguns móveis, meu pai e minha mãe discutiam muito, coisa que antes nunca acontecia com tanta frequência, minhas notas caíram drasticamente e eu repeti a quinta série.

Sinceramente isso me abateu, minha mãe chorou muito, meu pai levantou a mão para mim e me bateu... Pela primeira vez... Ele gritava: "A gente nessa situação! Você além de não fazer nada pra ajudar ainda dá mais problemas!"

Eu chorei... A noite inteira... Não sabia o que fazer. Se, era ajuda que meu pai queria, era ajuda que ele iria ter! No outro dia estava acordado na mesma hora que meu pai, ele então me perguntou aonde eu ia, eu simplesmente disse que iria ir trabalhar com ele no bico do dia... Ele deu um resmungo e falou pra que eu fosse calçar uma botina por que ele faria de mim um pedreiro a partir de hoje.

E assim foi eu adorei o ofício, sinceramente, ele me ensinou tudo: prumo, nível, reboco, chapisco, embuço, era tanta coisa! E eu amei! Quando as férias acabaram eu já tinha levantado a minha primeira parede... Mas tinha que fazer muito mais para minha família voltar ao normal.

Em fevereiro as aulas voltaram. Era a primeira vez que eu estudava com alunos totalmente diferentes dos com quem eu estou desde o pré escola... Eu tinha sido o único que tinha repetido, todos da classe eram uns anos mais novos do que eu, no começo me estranharam, acho que era o primeiro repetente que eles tinham visto. Eles devem pensar que sou um tipo de delinquente juvenil, por que olhavam para mim assustados, acabei incorporando o personagem sentei-me no fundo da classe, uma professora alta e, magra chegou e fez suas apresentações depois obrigou todos a fazerem também. A garota que se sentava na minha frente se chamava Alessandra, ela me chamou a atenção com seu jeitinho meigo de falar e os óculos enormes que portava no rosto e que toda hora consertava sobre o nariz, cutuquei-a por trás:

- Moça!

- Oi... O que você quer?

-Como a professora se chama mesmo?

Quando ela ia responder a professora disse:

- O "conversador" ai do fundo quer ser o primeiro da sua fila a se apresentar?

- Não "Fessora" não precisa...

-Vai se apresenta! Não estou lhe pedindo.

Vi que a ela não estava pra brincadeira e disse de pé:

-Bom dia classe... Sou Gabriel... Paixão...

Quando acabaram as piadinhas, sobre meu nome eu me sentei novamente. Alessandra se virou para trás:

-Paixão é? ...

-Sim... - Eu disse baixinho, mas confiante - Gabriel Paixão... Paixão por você...

Depois desse dia eu e Alessandra começamos a ficar sempre perto um do outro. Gostávamos de muita coisa em comum, principalmente música, eu adorava ficar olhando o brilho dos olhos dela quando olhava as estrelas da varanda de minha casa...

No mês de abril aconteceu uma coisa maravilhosa, estava inspirado tinha acabado de receber um dinheiro e liguei pra ela:

-Alessandra?

-Oi Paixão! Por que me ligou?

-Recebi hoje um dinheiro vamos comer uma pizza?

- Vou pedir pra minha mãe quando ela chegar ai eu te ligo pode ser?

-Pra mim. Está ótimo! - Eu disse segurando a empolgação

Acho que nunca tinha me arrumado tanto para sair, eu tinha um encontro! Estava muito empolgado! Isso por que ela nem tinha confirmado... Eu estava rindo à toa...

Quando recebi a confirmação foi quando eu realmente fiquei feliz, mas não fazia a menor ideia do que fazer na hora, então fui pedir um conselho ao meu pai:

- Pai?

- Oi Gabriel? Está precisando de alguma coisa?

- Sim... De um conselho...

- Pode dizer - Ele disse se virando de frente para mim

- Eu vou sair com a Alessandra hoje e eu não sei... Sabe? Como agir...

- Ah... Você tem que tratá-la com delicadeza, toda mulher é como uma flor puxe a cadeira pra ela, elogie-a, principalmente os olhos e o sorriso...

Meu pai era um péssimo professor, mas eu só aprendia com ele, as vezes ele dizia que me criava para ser um homem, um bom pai de família... E eu tinha certeza, mesmo tendo pouca idade, eu tinha certeza que não queria ser igual aos outros homens que conheci, por isso levo os ensinamentos do meu pai até hoje como mandamentos.

Fui a pé à casa de Alessandra, ficava um pouco longe da minha infelizmente. Quando eu cheguei sua mãe me pediu pra entrar e sentar no sofá enquanto Alessandra acabava de se arrumar, valeu à pena cada segundo sentado, ela apareceu linda na porta da sala, não acreditei que estava arrumada daquele jeito para sair comigo, usava uma blusa do Mickey e um short sandálias e o cabelo solto, normal, mas linda:

-Vamos? - eu disse lembrando os ensinamentos do meu pai

- Claro que sim...

Fomos de braços dados rindo até uma pizzaria que não ficava muito longe, estava calmo o local, como eu gostava de ver as pessoas imersas em suas conversas, nós escolhemos um lugar pra sentar e eu claro puxei a cadeira pra minha dama...

- Que cavalheiro... Obrigada...

Pedi uma pizza à moda da casa e nós conversamos muito, às vezes eu só parava e ficava olhando o brilho dos olhos dela... Sonhava naqueles olhos... Descobri muito sobre Alessandra naquela noite de abril, quando acabamos viemos andando devagar... De repente paramos e olhamos um para o outro, fomos nos aproximamos devagar e nos beijamos, o meu primeiro beijo... Um sereno fino caia sobre o casal apaixonado... Foi um momento mágico...

Expresso Vitória-MinasOnde histórias criam vida. Descubra agora