Minha Sereia

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"Quando o mar vier...

Trará nas aguas uma mulher,

Ela vem como quem não quer, Belém...

De alguém que lhe trate bem..."

Eu amava Alessandra... Namoramos alguns anos, sempre me lembro do jeito que olhava para mim, de como gostava de quando eu dizia que a amava. Mas um dia simplesmente ela saiu de férias com sua família e nunca mais voltou ou deu sinal de vida, pela primeira vez eu conheci a solidão, fiquei com o coração partido, como dói a primeira vez.

Com o passar do tempo o que eu sentia por ela diminuiu, mas nunca desapareceu. Eu gostava muito da minha nova sala de aula e o passar do tempo com eles me deram um novo sentido de amizade, tínhamos gostos bem diferentes, eu pensei, deixei então minha postura etnocentrista e experimentei as coisas novas como filmes, músicas, brincadeiras, amadureci bastante.

Mas infelizmente um dia cheguei em casa e uma péssima notícia me esperava:

- Mãe... Para com essa brincadeira.

-Filho. Não estou brincando. Ano que vem você vai morar com sua tia em Belo Horizonte, não terá outro jeito, eu e seu Pai vamos para o interior de São Paulo. A decisão já está tomada.

Ainda tentei argumentar com minha mãe, acabei por não falar mais nada, só fui para o meu quarto e chorei. Chorei muito. Quando sai do quarto nem passei pela sala, sai escondido. Enquanto descia as escadas rapidamente trombei com uma garota, por um momento parei e a olhei, ela tinha os cabelos brancos, cacheados, um rosto bem redondo e cheio de espinhas, uma voz suave... Gotosa de se ouvir, olhos pequenos e um belo corpo:

- Desculpe moça... – Eu disse sem graça - Machucou-se?

- Não moleque, estou bem.

- Está morando aqui no prédio?

- Só na temporada, vim passar férias aqui.

- Legal...

Ela então me olhou direito:

-Você estava chorando?

- Não... Não estava...

-Por que estava chorando?

Ela me perguntou com tanto carinho, que não aguentei e desabei ali mesmo nos braços daquela estranha, contei a ela tudo que tinha acontecido. Ela só ficou ali abraçada comigo até eu me acalmar.

Senti-me muito bem... Sinceramente.

- Vamos à praia?

- Se você primeiro se apresentar moça...

- Sou Fernanda. –Ele disse rindo – E você? Como se chama?

- Gabriel Paixão...

- Vamos então Gabriel?

Fernanda tinha um corpo muito bonito... Comprovei isso ao chegarmos à praia e ela tirar a roupa para entrar no mar:

- Venha! A água está uma delícia!

Eu entrei na água e nadamos juntos, jogamos água um no outro... Ela era muito legal. Saímos da água e fomos até um quiosque comer pastel, conversamos mais e voltamos para a casa. Por um momento havia esquecido todo o furacão que havia em minha casa.

Foi inevitável deitar a cabeça no travesseiro e não ficar lembrando o sorriso dela... A voz, os cabelos brancos... "Fernanda..." Era até bom pronunciar seu nome...

No outro dia fiquei mais fora do que dentro de casa, precisava vê-la de novo, mas o dia inteiro nada. Desisti de esperar e fui tomar banho, quando sai enrolado na toalha para o quarto escutei alguém falando:

- Hum... Que sensual...

Claro que me assustei com Fernanda na sala:

- Que faz aqui? Como entrou?

- Sua mãe pediu para te esperar aqui... Mas não sabia que você sairia desse jeito... – Ela disse maliciosamente - Vamos à praia de novo?

- Claro! Vou me vestir...

E foi assim durante a semana inteira, durante o dia ela sumia... A noite ela me chamava... Sempre para ir à praia... Mas teve um dia que está marcado até hoje:

- Gabriel...

Ela disse, vindo até a areia em minha direção:

- Oi moça.

-Meu biquíni desamarrou... Amarra pra mim?

Claro que estranhei o pedido, mas quando ela se sentou na minha frente de costas não tive como recusar. Amarrei normalmente e ela voltou para a água... Estava escuro onde tinha me sentado, olhei as estrelas, de repente ela volta segurando os seios de novo me chamando:

-Desamarrou outra vez, que droga.

-Vem aqui. - Ela se sentou de novo – Pronto! Agora não solta mais.

Ela se virou de frente agora:

- Vai soltar sim... Melhor tirar...

Dizendo isso voltou os braços para trás e desamarrou o biquíni, o retirou e jogou um pouco longe... Ela tinha seios tão lindos... Os primeiros que eu vi nesse sentido, ela deitou sobre mim me beijando, as ondas batiam em nossos pés, pela primeira vez segurei os seios nus de uma garota, ela desceu me beijando a barriga e fez um oral maravilhoso, depois vamos para a casa e eu nunca mais a vi. Mas isso não impediu que eu pensasse só nela até o dia da minha mudança.

Meu pai foi sério e sem dizer uma palavra ele era péssimo em falar o que sentia. Até a estação de trem em Vitória, minha mãe ora olhava para mim, ora suspirava triste. A rodovia ficava escura a medida que nos afastávamos, a radio tocava músicas leves, como Solitário Surfista do Gabriel Pensador. A curiosidade me consumia por dentro, eu não sabia o que encontraria em Belo Horizonte. Não gostava de pensar no fato de que ficaria muito tempo sem ver meus pais. Nem havia me separado deles e já me sentia extremamente só. Senti uma lagrima escorrer do meu rosto, se meus pais criassem raiz em São Paulo talvez eu nunca veria meu Espirito Santo novamente. Dizem que a vontade de voltar acaba sumindo, eu não queria que sumisse, "Meus filhos serão criados aqui!" Pensei. Perdido em meus pensamentos nem observei quando entramos em Vitória, a cidade já estava a todo vapor, pessoas ocupavam a rua com muitos agasalhos devido ao frio fora do carro. Daqui a duas horas ninguém mais sentiria frio, ônibus caminhões... Tudo parecia alheio ao meu sentimento de dor, o pior: tudo estava.

Chegamos incrivelmente cedo à estação onde meu tio Pedro me esperava. Ele me recebeu dizendo "Como você cresceu, e as namoradas?" Não estava a fim de conversar, mas tratei meu tio com educação, Meu pai me deixou cheio de recomendações. Minha mãe, cheio de lagrimas. Ao entrar no trem li em cima do vagão: "Expresso Vitória – Minas CVRD". Meu tio foi falando até o trem começar a andar sobre seus planos, histórias de família, de quando eu era pequeno, da Carolina Paixão, minha prima que eu nem lembrava como era, mas assim que o trem começou a andar ele se virou para o lado e dormiu, fiz a mesma coisa.

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