Está dando dó, sem saúde,
Trabalhador não vale nada,
Sem amor ao próximo,
Só mentira já desgastada...
Eu fui para o interior sim, uma cidade chamada Fernandópolis, uma região canavieira, o calor era insuportável... Eu era o único que nunca na vida havia morado em sitio, comecei a me arrepender de ter vindo pro interior. Pela minha idade e outros motivos que eu nunca consegui entender todos me subestimavam, o fato de eu comprar uma casa a vista espantou alguns, cheguei até ser parado na rua por policiais, será que o mundo inteiro era assim? Pessoas te julgando pela aparência, te menosprezando, tentando te ferrar sem te conhecer de verdade? Ninguém me conhecia de verdade e isso não os impediu de me julgar precocemente... Pode ser por eu ser negro, quem sabe? Na certa se eu fosse um cara branco que chegasse a uma super caminhonete de blusa xadrez e calça de peão, todos teriam beijado meus pés. Havia música sertaneja por toda a parte, nas rádios, nos caros, nos mercados, nos celulares, na boca das pessoas... Eu nunca tive nada contra, mas, escutar o tempo inteiro a mesma coisa quase me enlouqueceu. Sentia falta de quando fugia com Giselle para o Viaduto Santa Tereza para ver as batalhas de Rap e sonhar em subir lá em cima e cantar com mais força pra rasgar a boca... Como éramos felizes... Por que a deixei? Como sou burro!
Nunca me senti em casa em São Paulo e provavelmente nunca vou sentir. Guardei o resto do dinheiro, havia sobrado uma boa quantia.
Depois de alguns dias em Fernandópolis consegui emprego em uma padaria, acordava as quatro e meia da manhã para pegar serviço as cinco, ganhava pouco. Infelizmente... o sistema de folgas era chamado de cinco por um: Trabalhava cinco dias e no sexto folgava, eu nunca senti uma sobrecarga tão grande, uma pressa que se tinha que se trabalhar, senão poderia ser acusado de estar "enrolando" o que poderia me levar a demissão, não recebi nenhum tipo de EPI além de um avental e uma galocha. Recebi uma roupa para trabalhar no primeiro dia e só depois de dois meses que recebi uma troca. Fui intoxicado com cloro, picado por escorpião, queimado com soda cáustica caluniado... Não recebi nenhuma falta e nunca cheguei atrasado... Eu era zoado mais do que na rua e não ligava. Eu iria vencer, meu corpo não aguentava mais, e eu continuava. De vez em quando havia alguém ouvindo minhas músicas, os direitos delas enchiam minha conta no banco junto com meu salário. Com o tempo meus negócios começaram a me sustentar e a tomar todo o meu tempo o que me fez pedir demissão da padaria agradecendo a oportunidade.
Comprei uma casa, na verdade só dei entrada, os inquilinos praticamente estavam pagando as parcelas e não sabiam... O que estava realmente dando lucro eram as reformas e construções, eu só criava e liderava a equipe, aos poucos eu criava nome na cidade, por mais difícil que fosse eu aceitava o desafio, não temia, não podia ter medo de arriscar, o segredo era ser honesto, comecei a cursar Engenharia Civil agora eu sentia que estava indo no caminho certo, hora ou outra eu conseguia comprar, vender ou alugar uma casa ou outra. O que dava mais lucro eram os pequenos apartamentos que geralmente tinham quarto, cozinha, banheiro e varanda, eu os alugava a um preço bem acessível o que nunca me deixava sem inquilinos, tudo estava ficando muito grande para eu administrar sozinho, eu não conseguia confiar em ninguém além de não ter nenhuma noção de empreendedorismo: "Seria bom ter Giselle aqui..." Pensei. Ela sempre foi muito organizada, cuidadosa, competente: "Tudo o que eu nunca fui..." Pensei novamente sorrindo, se tudo continuasse dando certo em breve iriamos nos reencontrar... Fiquei fazendo planos até a hora de ir pra faculdade.
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Expresso Vitória-Minas
Roman d'amourUm jovem adolescente na flor da juventude procura um coisa, um motivo para viver, infelizmente essa procura não esta trazendo resultados tão bons... Ele procura tentar a sorte em outro estado, não consegue parar de pensar em sua amada Giselle, Ser...