A Grande São Paulo

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"Ei São Paulo,

Terra de Arranha-céu,

A garoa rasga a carne,

É a torre de Babel..."

Acordei com as luzes do ônibus acendendo no meu rosto de uma forma bem grosseira e agressiva, estava cansado, infelizmente um senhor um tanto obeso sentou-se ao meu lado no corredor ele roncou como um trator a noite inteira, eu fiquei impossibilitado de sair do meu assento sem acordá-lo, suas pernas estavam bloqueando totalmente a passagem. Quando ele desceu me foi um alivio, não sei quanto tempo mais eu aguentaria sem ir ao banheiro, o refrigerante na viagem não foi à melhor das minhas ideias.

O dia ainda não havia amanhecido quando eu desci. Desci na feira da madrugada na esperança de conseguir um taxi com mais facilidade, a feira é enorme, havia momentos que eu não sabia onde estava, para que lado ir, toda hora me paravam oferecendo todo quanto é coisas: relógios indestrutíveis, remédios milagrosos, a palavra de Deus, celulares... E tudo em um preço incrivelmente baixo. Acabei não resistindo por um momento e comprei um pen drive por quarenta reais, me decepcionei quando notei que a embalagem estava vazia, uma hora em São Paulo e já havia sido roubado. Eram quatro e meia da manhã quando consegui um moto taxi:

- Olá! Prazer sou o Gil...

- Prazer Gil, Gabriel Paixão...

- Então apaixonado... Para onde quer ir?

Surpreendi-me com a simpatia do rapaz. Logo confiei nele:

-Preciso ir a um hotel bem barato para dormir Gil...

- Então vamos...

Arrependi-me bastante de ter andado com o Gil, por várias vezes quase caímos no chão, ele corria muito, ultrapassava faróis vermelhos, andava na contra mão, buzinando e xingando toda a viajem... Quando desci de frente um hotel calmo e aconchegante não sei se tremia pelo frio que fazia naquela hora ou pelos sustos que passei com ele.

Na recepção do hotel aluguei um quarto com a esperança de acordar e procurar um emprego. Apesar de tudo eu estava feliz e esperançoso.

Acordei com muita disposição, levantei tomei um banho quente e desci a recepção para entregar o quarto. Sai para a rua, não fazia a menor ideia de onde estava isso tanto fazia na hora... Prédios, prédios, prédios, por toda a parte... As pessoas andavam com pressa e concentradas em seu egoísmo. Fazia calor, o céu estava incrivelmente cinzento, o ar é forte parecia quase sólido. Uma energia pesada pairava por toda a cidade. Era impossível atravessar a rua. O transito de carros não parava um segundo.

Demorei um total de cinco dias para arrumar um emprego, meu dinheiro não estava dando para tanto como eu achei, o emprego era de servente de pedreiro, salário baixo, mas dava para sobreviver. Consegui arrumar uma pequena casa de aluguel, infelizmente o preço era bem alto. A casa tinha algumas contas atrasadas e se eu quis ter água e luz, tive que pagar sem qualquer desconto no aluguel. Eu não tinha nenhum móvel quando comecei o que piorou ainda mais as coisas, logo consegui mostrar ao supervisor que apesar da pouca idade eu tinha um conhecimento avançado na construção civil, então fui "promovido" a pedreiro.

Os outros pedreiros me adoravam na obra, me orientavam também, eu sempre gostei daquela profissão e adorava aprender coisas novas, sempre ouvia frases como: "Se eu tivesse um filho queria que ele fosse como você..." ou: "Eu era como você na sua idade..." nisso fui fazendo verdadeiros amigos. Infelizmente não são todos que querem ver a minha felicidade ou colaborar comigo.

Expresso Vitória-MinasOnde histórias criam vida. Descubra agora