Capítulo 01

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Há um sol lá fora agora, que parece me convidar para fugir para algum campo ou praia... A euforia do trabalho hoje está tão estressante que mal posso apreciar a paisagem que este dia traz.

Incrível como nossas vidas, se bem analisadas, sempre estamos correndo em busca de alguma coisa para melhorar algum ponto crítico de nossa personalidade, seja esse o amor, o lado financeiro, a amizade...

Terminei um namoro faz já sete dias. Minha vida está uma confusão danada. "Quero me encontrar, mas não sei onde estou..."

Sou um garoto meio complicado, que por diversas vezes, perdi grandes chances de me dar bem, por puro medo, ou falta de iniciativa própria. Considero-me um cara de muita sorte, mas ao mesmo tempo, de puro azar por sempre ter as coisas que nunca quis. É estranho dizer o que penso, às vezes, me torno incompreensível, talvez, um dia, me transforme num cara de sucesso e é o que, neste momento preciso.

- Bom dia!

- Bom dia...

Mas um dia de trabalho e naquela sexta-feira onde tudo aconteceu como de rotina. Estressado, saía para ir a academia dançar Axé e fazer musculação... - aliás, "torturação", risos... -.

Ainda bem. Estava ansioso para sair de onde trabalhava, pois iria para um lugar onde trabalharia "menos" e ganharia o dobro. Era meio que um sonho. Estava me sentindo muito bem, porém, tive um mês de stress puro por causa disso.

- Bom, esse é o Jeferson que irá trabalhar conosco e fará parte da nossa equipe.

- "Seja bem-vindo"

- Obrigado...

Aquela semana foi demais, siglas me torturavam e noções de informática corporativa me deixavam a vontade de vencer ou morrer, mas fui aprendendo tudo de uma forma extraordinária. Veio o feriado, e com ele, já esquematizado, a primeira vez que conheceria algum garoto da internet afim de outros garotos. Até esse momento nunca tinha beijado ou ficado com alguém do mesmo sexo que o meu. Essa sensação de conhecer alguém, para um possível romance, me deixava ora alegre, ora indignado por ser quem em sou.

Desci no tubo e fui ligar para ele de um telefone público, e marcamos de nos conhecer em frente a um posto de gasolina. De longe, o vi caminhando, minhas mãos e pernas tremiam, e eu ficava pesando no que falaríamos, sobre que assunto conversaríamos, etc.

- E aí Cara...

- Olá, Tudo bem...

- Tudo. Quer dizer então que você é o Sr. Rafael...

Rimos

- Pois é...

Andamos por algumas quadras, trocando poucas palavras...

- Nossa, você é o primeiro cara que eu estou conhecendo, nem sei muito sobre o que dizer...

- Legal. Sabe, eu já conheci muita gente, mas a maioria eram "podres" e sem graça...

- Hummm... Tipo o quê?

- Ah, eu não descrimino, mas também não curto. Sabe aquelas pessoas afeminadas, que dá até raiva? E também tem muita gente feia que se conhece pela Net, outrora dizem serem lindas, mas no encontro você vê o quanto elas mentiram...

- Nossa, deve ser bem chato isso.

- E é sim.

- Quer dizer que sua mãe é evangélica também?!

(Ele já me havia comentado por e-mail isso).

- Pois é, incrível esse negócio, parece que todas as mães que têm algum filho gay são evangélicas.

Rimos.

- E você, vai a igreja com frequência?

- Não muito Jeferson e você?

- Eu toco guitarra e teclado. Sabe, eu não acredito que exista deus. Tenho como perspectiva a tal frase: "Se deus e o diabo estão jogando futebol, o estádio é o meu Destino e é nele que eu acredito..."

- Legal, eu também penso maios ou menos desse jeito.

Conversamos por mais algumas quadras, quando resolvi ir ao shopping. Nesse momento, não sabia direito o que fazer, tudo o que eu queria era poder estar sozinho com o Rafael e beijá-lo. Seguimos para dois shoppings e de lá, após algum tempo, fomos para um parque. Começou a cair uma fina chuva, mas isso não nos desanimou. Lá ficamos conversando debaixo de um quiosque.

Ao mesmo momento em que eu me sentia diferente, em minha mente começava a surgir o quanto que esse mundo era de loucuras para serem vividas. Como se um sol, num nascer esplendoroso começasse a aparecer com tal intensidade, nunca vista antes. Apesar de eu ter gostado do Rafael, ao conhecê-lo, ele me passava sempre uma sensação de muito medo, aflição e insegurança.

Estávamos para ir embora, quando, ao caminharmos pelas ruazinhas dentro do parque, entramos num carreiro. "Loucura" - pensava comigo: "O que estou fazendo?". Não me deixava mais guiar-me pela razão, apenas pela emoção de curtir um momento assim.

- Se eu te pedisse um beijo, você me daria?

- Claro... (Se ele soubesse, o quanto esperava por isso.)

Então, ele me abraçou e me beijou com uma tal intensidade que ainda consigo lembrar aqueles lábios. Aquela chuva fina, sob as arvores, tudo criava um clima de muita loucura. Era o que realmente sempre fiquei esperando.

- Rafael, quero te pedir uma coisa. Sabe, eu não quero que passemos dos limites. (Minha razão primitiva sobre todo o aspecto dessa homossexualidade me perturbava em pensar que ultrapassaríamos limites, que nunca pensaria em transpor. Ainda por que o lugar era público, e não me achava preparado para rolar qualquer coisa além de amassos e beijos).

Ele começou a passar a mão sobre a minha calça.

- Rafael, eu só quero um beijo... se fizermos alguma outra coisa, vai ser muito ruim e eu não tô afim!!!

- Tudo bem Jeferson.

Nos beijamos mais um pouco e ele voltou a passar a mão na minha calça, porém notando que eu realmente não queria, disse:

- Tudo bem né?! Você não quer nada... eu paro.

Então ele passou suas mãos sobre meu peito por debaixo de minha camiseta e por debaixo de sua blusa fiz o mesmo, porém, com uma mão segurava a pasta do colégio e com a outra passava por suas costas.

- Aqui é um lugar muito publico, apesar da chuvinha, pode ter algum guarda florestal por aí.

- Pode ser, mas é meio difícil Rafael.

- Acho melhor irmos embora.

- Tudo bem.

Saímos de lá com cuidado, e seguimos para o ponto de ônibus, onde uma garota me cumprimentou, sorrindo claramente num aspecto de atração; fiz o mesmo. Vendo-o, ele não gostou muito do que eu tinha acabado de fazer e no final, mal nos cumprimentamos ao se despedir. À noite, me senti muito angustiado, mal conseguia me tocar, minhas pernas tinham de ficar separadas por um edredom e eu, de forma alguma, conseguia me olhar no espelho.

Na segunda-feira enviei uma mensagem dizendo que adorei o que fizemos naquela quinta do feriado, antecipando já que eu queria namorar com ele, querendo saber quais as pretensões dele. Ele respondeu-me que naquele momento ele não poderia assumir nada, pois tinha algumas outras prioridades para fazer, e que namorar iria ser meio complicado.

Continuamos a conversar por emails e às vezes por telefone, porém depois de algum tempo, por fim, tudo acabou... Nunca mais nos vimos.

Anjos - Dois Destinos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora