Capítulo 03

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Era noite de natal e ainda estava em casa sozinho, sem ninguém para me incomodar. Convidei o Henrique para novamente passar a noite comigo. Aconteceu a mesma coisa que na primeira noite, porém, em vez de ficarmos no meu quarto, eu trouxe meu colchão até a sala, e próximos ao som, ficamos meio que conversando, se beijando e namorando. Ora estávamos completamente nus, ora eu cortava todo o embalo dele, vestindo-me para dormir, porém isso não demorava muito, pois ele voltava a tirar toda minha roupa. Não transamos em nenhuma noite, pois não me compreendia estar com um cara, na minha casa, fazendo todas aquelas coisas. Seu perfume, nas manhas eram deixados sobre minhas roupas, no que não me deixavam esquecê-lo. Algumas vezes, isso me dava uma raiva tão forte, que sentia o desejo de tirar-me a vida. Nunca fiz isso, pois sei a consequência que isso traz e toda a ideologia que provoca uma morte ocorrida através de um suicídio.

Ao som de Backstreet Boys, comecei a me indagar e indignar com tudo o que estava acontecendo. Imagens daquele garoto perfeito, sempre o orgulho dos pais, me pressionavam psicologicamente. Algumas lágrimas caíram, e meu comportamento mudou radicalmente com ele.

- Cara, você é muito estranho. Muda da água para o vinho sabia?

- Será que o que estou fazendo, é certo?

- Claro que sim.

- Sabe, nunca tive amigos, nem mesmo, nunca meus pais me deixaram namorar com alguma garota. Tudo isso parece um pecado mortal. Não consigo expressar tudo o que quero dizer, e estou com medo.

- Capaz Jeferson, se quiser eu vou embora.

- Não, é tarde... ir embora não vai ajudar, prefiro que você fique. (Afinal, fui eu quem o convidei, e não sentia ser justo ele ir embora quase as 3 da manhã.)

Ele, passou a mão sobre meus olhos, vendo se eu estava chorando - num jeito soberbo - virou-se para o outro lado. Fiquei olhando para o escuro do quarto me destruindo mentalmente.

Após alguns longos minutos ele voltou a abraçar-me e assim, dormimos...

Passado algum tempo, ele foi a uma viagem para a Ilha do Mel. Eu não quis ir por razões que ainda minha cabeça estava confusa. Quando ele chegou, disse-me que sentiu muito a minha falta, e que aconteceu um monte de problemas como brigas com seus amigos, descobertas de fofocas, etc. Saímos juntos para ir ao cinema e ao ver o filme, ficamos de mãos dadas apenas algumas vezes, e nenhum beijo rolou no escuro.

- Cara, eu tô muito chato hoje né? Essa viagem não me fez nada bem. Descobri que meu melhor amigo era também meu pior inimigo. E estou com uma raiva sobre isso e o pior de tudo é que estou sentindo que você está se chateando com todos esses problemas que estou te falando né?

- Capaz, acho que o problema sou eu.

- Sabe Jeferson, Eu queria muito te dar um beijo.

- Que bom.

Eu não estava com a menor vontade de beijá-lo, minha única vontade era de acabar com aquele namoro onde não estava me sentindo nada bem. Eu já mal conseguia olhar em seus olhos, quanto mais beija-lo.

- Sabe Henrique, estou meio que cheio de "neuras" com relação ao nosso namoro.

- Jefer, não tenha medo, saiba que eu gosto muito de você e te quero comigo.

- Eu sei que você gosta muito de mim, mas...

Ele me interrompeu dizendo:

- Mas, deixe o tempo falar... as coisas vão melhorar tanto para o meu lado, quanto para o seu. Será que eu poderia te dar um beijo?

- Sabe, E não tô muito afim. Vamos deixar para amanhã, beleza? Assim, a gente se encontra num lugar mais reservado e podemos namorar melhor. Acho que vou embora agora, tudo bem?

- Mas já?

- Tenho algumas coisas para resolver lá em casa, e acho que já vou. Eu ligo para você assim que chegar em casa, pode ser?

- Tudo bem Jefer, e foi mal eu estar sendo chato com você... Cara, eu gosto de você pra caramba.

- É, eu também...

Fui embora meio revoltado comigo mesmo, por não ter acabado todo nosso relacionamento naquele momento. No caminho para casa, conheci no ônibus duas meninas. Elas chegaram de um jeito diferente, e em uma delas, aquele jeito "teen" me chamou a atenção. Seu nome era Cláudia, e antes que eu chegasse em casa, fui parar num outro terminal, onde acabei ficando com ela. Foi uma tarde muito diferente. Ao mesmo tempo que eu queria ficar sozinho, sempre me aparecia algo de novo. Trocamos telefones, mas nunca liguei e nem mesmo ela me ligou.

No passar de dois dias, finalmente eu enviei um e-mail acabando com a nossa relação. Ele, ironicamente me mandou a tradução da música"Good Bye" da Madonna por e-mail confirmando que nosso relacionamento, havia mesmo terminado. Depois de algumas semanas eu envie para ele, por correio, seus CD's que ficaram comigo. Apesar de sentir uma vontade de encontrar com ele uma última vez, achamos melhor não nos vermos, e assim acabou acontecendo. Nunca mais tivemos contato. Esses momentos apenas ficaram na lembrança, que hora voltam à tona julgando-me se fui imprudente ou sábio? Ou se poderia ser diferente se minha vida, sem amigos, sem aquela conversa de desejos e vontades, ou qualquer forma de amplidão de pensamentos ocorresse de maneira mais normal. Toda essa falta de aspectos comuns, de certa forma corroeram minha visão de mundo.

Anjos - Dois Destinos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora