Capítulo 08

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Nos encontrávamos todos os dias, na maioria das vezes depois da faculdade. Sempre íamos no cinema, ou comer algo, para poder ficarmos juntos.

- Oi Jeferson.

- Oi Neto, nem acredito, hoje é Dia dos Namorados né?!

- Pois é, essa é a primeira vez que passo o Dia dos Namorados com alguém.

- Humm... Acredita que eu também.

Sorrimos

- Jefer, coloque sua mão na porta do carro, tem uma coisa para você!!!

Quando coloquei a mão havia um pacotinho e quando abri era um presente muito legal, um coração alado, todo vermelho. Dei um beijo nele e agradeci o presente, foi quando, de trás do banco ele tirou um cartão enorme, e ainda depois me deu um Duende do Amor, e um livro. Eu tinha comprado a ele um monte de coisas também, porém dei tudo de uma vez só e não em partes como ele. Quando abri o presente, e vi que livro era, comecei a dar risada. Coincidentemente, era o mesmo livro que eu dei a ele no meu embrulho de presentes. Rimos bastante. Fizemos, para cada livro uma dedicatória.

- Adorei o bonequinho que você me deu Jeferson.

- Legal né? Coloque o nome dele de "Pipoca"!

- Hehehe, legal, colocarei sim e você gostou dos meus presentes?

- Claro, adorei muito, tudo muito legal, principalmente o livro.

Rimos.

- Vamos aonde?

- Sei lá? Que tal comermos alguma coisa no Karina? Faz tempo que não vou lá.

- Claro... Também faz tempo que não vou lá.

Chegamos ao lugar, duas horas para ser atendido e mais três para pagar. Saímos de lá, com vontade de nunca mais voltar. Aquela noite foi muito legal, pois namoramos bastante, conversamos e ficamos olhando as estrelas e a lua que, naquela noite se fazia presente naquele céu de tão azul profundo.

Cheguei em casa, escondendo todos os presentes, entrei até o meu quarto e sem muito barulho, escondi todos dentro da gaveta da cama. Minha mãe viu o carro saindo e perguntou quem era. Disse a ela que era minha namorada, mas acho que ela desconfiou, e muito.

Nesse ponto, eu tenho certeza que minha mãe sabe que gosto de garotos, porém ela omite tudo isso, e finge que não é com ela. São em alguns momentos como esses, que tenho vontade de contar tudo a ela, e deixar que tudo se resolva por si só, porém, não me vem a coragem que necessito para que tudo isso realmente ocorra. Minha relação com os meus pais, nunca foi boa. Eu sempre fui o orgulho deles, e eles nunca tiveram de se preocupar comigo. Acho que, se houvesse algum dialogo em casa, ou pelo menos, minha mãe não me tivesse proibido de namorar com garotas até os meus dezoito anos, tudo poderia ser diferente. Meu pai, nem sabe qual a minha idade, muito menos o que se passa comigo. Chego a ficar pensando onde estão meus pais verdadeiros e o que estão fazendo. Se, meu pai tiver a mesma personalidade que a minha, com certeza estarão vivendo muito bem, em algum lugar por aí.

Sabe, todos estes problemas, de homossexualidade, de ser adotivo e prisioneiro em casa, de ficar querendo ser o melhor, mesmo não sendo feliz com o que faz e de ser o filho orgulho da família que nunca teve um membro gay, me distorcem e torturam minha ilusão e realidade em todos os meus pontos psicológicos. Ser o que realmente sou, e me aceitar com isso, certamente será um preço muito alto a ser pago.

Eu e o Neto realizávamos muitas coisas, e ele tinha muitos planos para ainda fazermos no futuro. Quase todos os dias, sonhávamos um com o outro, e essa magia de amar, e estar sendo amado se transformava cada vez num sentimento mais verdadeiro para ele. Eu, muitas vezes, queria fazer tudo o que ele me fazia, mas não conseguia sentir tanto amor quanto ele me passava. Ficava, nas madrugadas sem sonhos, meditando em tudo o que eu estava fazendo. Tinha a certeza de que ele não era a pessoa certa para mim, e eu estava cada dia sentindo menos amor por ele. Apesar de ele ser, um cara muito especial, não conseguia vê-lo como um namorado, e sim como um amigo distante. Eu ficava imaginando se realmente seria feliz com os garotos que me cercavam, caras mais jovens do que eu, e dessa forma, me afastava muito mais de realmente amar o Neto. O engraçado era que a qualquer coisa que eu visse, ou ouvisse, era sempre no sentido de "arriscar pelo seu amor" ou, "enquanto não encontramos a pessoa certa, nos divertimos com as erradas". Tudo estava tornando-se mais difícil, e a realidade estava mudando. Estar com quem eu não quero, era estar perdendo meu tempo em querer viver com quem eu realmente sentisse desejo de estar junto. Tudo isso ia contra meu propósito de viver a vida intensamente, na forma mais adolescente e louca de se sentir vivo.

Nosso namoro durou até o dia 17 do mês de Junho. Terminei com uma simples frase, que demonstrou tudo o que eu queria passar.

- Neto, o que você acha do nosso relacionamento?

- Você sabe que eu gosto muito de você, e quero ter você comigo. Eu amo você e quero estar junto em todos os momentos. No meu ponto de vista, nosso relacionamento é normal com seus altos e baixos. Eu acho nosso relacionamento muito legal.

- Eu vejo nosso relacionamento com duas velas (respirei fundo), porém acho que uma delas está se apagando.

Ele me olhou fixamente, e sentindo todo o clima que estava começando a acontecer, levantou-se foi até o carro. Pegou minha blusa e uma bexiga em forma de coração e olhando nos meus olhos, disse:

- Saiba bem o que você está dizendo. Você não sabe o que está perdendo. Pensa com carinho nisso.

Essa forma com que ele tratava a si mesmo, e ao nosso relacionamento, eu me continha em não dizer o tão prepotente ele se passava ser. Sempre dizendo que eu me arrependeria por toda a vida se o perdesse, que ele era o meu céu, o meu destino, que ele era muito mais do que eu poderia imaginar, que a lua e as estrelas eram apenas dele, e o sol, quando aparecia, era por que ele deixou que aparecesse.

Procurava não ligar para esses comentários, mas isso se acumulava de tal forma que eu sempre entendia como um estilo dele viver com confiança no que realizava. Muito prepotente, mas ao mesmo tempo, um cara muito especial na minha vida. No dia seguinte, um domingo, liguei para ele para andarmos de bike sem destino. Ele, surpreendeu-se com minha ligação já no dia seguinte, pois achou que eu demoraria a ligar porque no dia anterior, ele saiu com seu carro, de uma forma muito violenta, e me pediu desculpas por ter agido dessa forma. Ficamos, perto de minha casa, conversando sobre algumas coisas da nossa relação e por fim decidimos tornarmos simplesmente amigos.

Anjos - Dois Destinos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora