19- Little Black Dress

40 1 2
                                    

O seu carro voava por entre a estrada deserta. Por vezes eu penso se não tenho um anjo da guarda a olhar por mim, quando estou dentro de um carro a alta velocidade sem nunca me acontecer nada.

- Vamos onde?

- Cala-te!

Bufo e tento abrir a porta. Missão falhada: está trancada! Mas as possibilidades de sobreviver eram mínimas...

- Harry, vai por me de novo na discoteca! O meu irmão deve de estar preocupado!

Ele ignora-me.

- Onde me levas? Por favor, responde... estou com medo.

A velocidade diminui e sinto o carro parar. Ele olha para mim, com uma face cheia de confusão e desespero.

- Eu, a minha intenção não era provocar-te medo... eu apenas queria que ele não fosse teu.

- Ele quem Harry?

- O rapaz da discoteca...

Sinto pena. Ele parece um menino perdido em pensamentos negros. Eu abracei-o, com alguma dificuldade, mas senti que isso o acalmou e o fez... respirar de alívio.

- Eu só não te quero perder. Eu não quero perder mais ninguém...

Eu não percebi as suas palavras, mas elas magoaram-me. Foi ele que me abandonou e agora pede-me para não o fazer com ele?

- Tu não me vais perder.

- Eu sei que vou! Toda a gente se afasta de mim!

Ele grita dentro do carro, batendo com os punhos no volante.

- Calma, calma... eu estou aqui, não estou? Eu ainda não fui embora, pois não? Vamos com calma...

- Posso levar-te para minha casa? Para... falar sobre... o que há entre nós?

Eu assenti devagar, dando-lhe a perceber que podia ter carta-branca comigo.

...

Fiquei à sua porta mais de 20 minutos. Eu não posso acreditar que ele vivi aqui. Porque, não dá!

- Isabella? Por favor, vem para dentro...

Sou quase empurrada para dentro do minúsculo apartamento.

- Harry! Como é que raio tu tens um carro super caro e vives num apartamento num bairro perigoso de Londres! Harry! Tu compras obras de arte caríssimas e vives num apartamento minúsculo! Como é que a conseguiste por cá dentro?

Digo, apontando para o quadro que nos fez conhecer pela primeira vez. Ele apenas se ri, ligando uma pequena "lareira" elétrica para dar um ambiente mais quente e reconfortante.

- Apesar de o meu pai ser rico, não quer dizer que eu queira ser igual a ele. Eu apenas gosto de coisas simples e minhas. E, eu trabalho numa pastelaria...

- Oh, isso era verdade? Eu apenas pensei que dissesses isso para impressionar os meus pais. E tu ganhas bem a trabalhar lá?

Ele indica-me o seu sofá branco e fofo. Sento-me nele, colocando o meu corpo o mais confortável possível, vendo-o tirar o seu casaco e colocando-o de lado. Ele sorri para mim.

- Bem, o suficiente para comer e pagar as contas.

- E então, como conseguiste pagar aquilo?

Aponto de novo para o quadro. Ele brilha sobre nós, fazendo as pequenas gotas de tinta voarem por entre os nossos corpos e pelo ar aquecido da lareira.

Work of ArtOnde histórias criam vida. Descubra agora