Nick, um semideus sombrio

IV- As Profecias

Saí de casa e fui em direção ao lago.

No caminho fiquei pensando na minha antiga vida: como estaria Kelly – não que eu me importasse com ela, mas o que ela deve ter falado aos outros –, como as pessoas que me tratavam mal tinham lidado com meu sumiço, se os soldados civis estariam procurando por mim...

Lembrei-me da explosão do nosso antigo país, a dez anos atrás. Foi o dia em que meu pai foi embora, e me abandonou com Kelly. O estranho da explosão, é que o Brasil não estava em guerra com ninguém. Mas existe algo mais estranho do que ser filho de um deus? Não? Sim? Não!

Andei menos de três minutos e cheguei ao lago. Lá já estava Jenny, com um garoto que não reconheci.

Ele era loiro, usava uma camisa vermelha do acampamento e uma bermuda jeans. Eu não resisti quando vi o que eles estavam fazendo: se beijando. Era um beijo intenso e caloroso. Ele com as mãos no rosto da minha amiga, e ela com a mão em seu cabelo. O beijo foi se intensificando, até perceberem que eu estava ali.

— N-nick?— Ela gaguejou com vergonha, se soltando do garoto.

Ele deu um sorriso maléfico, como se estivesse querendo mexer com meus sentimentos. De fato eu gostava da filha de Nix.

Eu me virei e saí andando. Ela tentou vir atrás de mim, quando eu vi o tronco de uma árvore e corri na direção dele. Eu posso viajar pelas sombras certo? Mas será que posso permanecer nelas?, pensei. Quando cheguei no tronco, continuei correndo. Desejei sair dali e ir para outro lugar.

Então sombras me envolveram, revelando um lugar quase totalmente escuro, com um carvalho de madeira podre e folhas secas, e uma passagem. Imaginei que ela fosse para levar seres sombrios a outro lugar que desejassem, mas não ousei entrar.

Me sentei ao lado da árvore. Lágrimas escorriam de meus olhos para meu rosto, deixando-o todo molhado. De fato eu amava Jenny. Mas se eu sou o protegido de Afrodite, por que estou sofrendo com O AMOR?, fiquei pensando na minha tristeza. Eu nunca havia percebido que gostava da minha amiga, e apenas reconheci que a amava quando ela estava com outro homem. O menino parecia ter a minha idade, dezesseis anos, e a filha de Nix tinha quatorze.

Eu me lembrei do que Annie me falara, sobre um filho de Afrodite, Maxon. Ela tinha descrito completamente o garoto que tinha beijado Jenny, e agora eu entendi o porque dela ter ficado com ele. A filha de Atena também me falou que ele podia convencer os outros com seu charme – um poder que alguns filhos de Afrodite tem.

Fiquei um tempo na minha tristeza, quando ouvi um barulho de algo correndo, algo que tinha quatro patas. Levantei, e deparei-me com um tigre preto com alguns detalhes brancos, e dentes muito afiados. Seus olhos eram como os meus: tão pretos que pareciam refletir galáxias.

Então ele falou:

— Olá, filho do Submundo.

— Você fala?

— O que há de estranho em eu falar sua língua?

— É que... esquece. O que está fazendo aqui?

— Sou um ser sombrio, posso viajar pelas sombras. A propósito, seu pai me mandou aqui. Ele acha que você está muito... digamos... sozinho.

— Obrigado pai — falei baixinho — Mas... qual seu nome?