Capítulo 7

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"Harry! Harry! Harry! Harry! " O chamei em uma animação não cabia dentro de meu corpo "Olha a neve Harry! Neve" Falei ainda mais animado apontando para a janela em frente a nossa mesa.

O moreno estava encolhido em sua cadeira com uma expressão tanto irritada quanto emburrada, ele estava com, no mínimo, uns 15 casacos ocultando sua pele e ainda sim reclamava de frio como se fosse a Rose naquela porta flutuante no oceano.

"E daí? " Ele bufou e eu sorri mais ainda. Harry odiava frio e não suportava ter que ficar com muita roupa como ele estava naquele dia, era tão fofo...

"E daí que a gente vai aproveitar esse dia de neve, não é mesmo? " Perguntei utilizando minha técnica de Louis fofinho que eu sabia que ninguém conseguia resistia. Por ser início de dezembro, o frio havia chegado em nossa cidade e aqueles flocos que caíam do lado de fora eram os primeiros do ano.

"Huf! Você é tão irritante" Harry resmungou se levantando e eu o segui com um sorriso gigante no rosto.

Logo chegamos ao jardim do hospital que também já havia se tornado um ponto de encontro para nós. No meio do caminho, uma enfermeira nos parou para recomendar que eu estivesse cuidado, pois não estava com a saúde lá em cima nesses dias, porém isso são apenas pequenos detalhes que eu não dava a mínima importância.

Assim que passei pela porta, passei na frente de Harry e comecei a correr por todo o perímetro do jardim coberto superficialmente de branco. Era tão bonito ver os flocos caindo do céu, era tão puro.

Corri mais um pouco antes de sentir meu coração bater mais rápido que o normal, me fazendo parar para recuperar o folego antes que fosse obrigado a voltar para dentro do hospital.

Me joguei no chão de braços e pernas abertos a seguir comecei a movimenta-los tentando fazer anjinho na neve, mas infelizmente a neve ainda era muito leviana para constituir uma forma firme de anjo. Ainda assim era divertido então continuei mesmo que sentisse a grama raspando no meu braço coberto pelo casaco grosso que eu usava.
Quando finalmente me cansei daquilo, me lembrei de Harry e percorri o olhar pelo local o procurando, logo o encontrei em pé no mesmo lugar que estava quando eu resolvi bancar a criança louca por neve, com um sorriso de lado me observando como se fosse a coisa mais divertida.

O chamei acenando a mão em sua direção e de olhos verdes entendeu o sinal, prontamente vindo em minha direção, fazendo uma pequena careta ao sentir flocos caindo em seu nariz.

"Não vai aproveitar o dia de neve? " Perguntei quando ele estava próximo demais para conseguir me ouvir

"Não gosto muito de neve ou frio e você sabe disso, só estou aqui por sua causa" Ele se agachou para ficar em minha altura, já que eu continuava deitado.

"Que bonitinho" Falei com uma voz implicante tentando disfarçar o fato de meu coração bater mais rápido com a sua afirmação. Levantei o dedo indicador da mão direita e fiz um gesto para ele se aproximar, o mesmo não entendeu, mas mesmo assim se aproximou poucos centímetros. Novamente fiz o mesmo gesto e com a expressão ainda mais confusa ele chegou ainda mais perto, mas não o suficiente para mim. Outra vez simbolizei para ele e dessa vez ele falou:

"Louis para de gracinha! O que foi? "
Aumentei meu sorriso -como se isso fosse possível-, segurei seu rosto entre meus dedos frios e selei nossos lábios o pegando de surpresa, porém não demorou mais que alguns segundos para ele retribuir de maneira mais intensa utilizando sua língua de um jeito que apenas ele sabia fazer. Depois de determinados minutos, quebrei o osculo e acariciei sua bochecha vermelha tanto pelo frio que fazia tanto pelo beijo recente.

"Beijo na neve" Disse animado e ele riu em sua voz rouca.

Harry tentou juntar mais uma vez nossos lábios, se sentando ao lado do meu corpo e levantando meu tronco para nos deixarmos em uma posição mais confortável, entretanto eu tirei uma das mãos de suas bochechas e a enfiei discretamente na neve abaixo de nós, juntando um monte na minha palma, colocando em seu capuz e o tampando com o mesmo em movimentos rápidos demais para uma pessoa como eu.

"Louis! " Ele gritou se afastando rapidamente em reflexo. Ele tentando tirar a neve de seus cabelos enquanto falava palavrões xingando-me só me fazia gargalhar de maneira mais escandalosa "Não tem medo do perigo pirralho?! "

"Não vejo nenhuma ameaça aqui" Debochei me recuperando dos risos excessivos

"Ahh você está brincando com fogo"

"Fogo no inverno fica fraco demais para machucar alguém" Disse jogando minha cabeça para trás e rindo ainda mais sem poder me controlar, meu abdômen já doía como inferno, mas eu não conseguia parar.

Cortar o contato visual com ele foi o meu erro, pois isso deu a oportunidade de ele preparar uma bola de neve e jogar bem em meu rosto fazendo-me assustar e até engolir um pouco de neve por estar com a boca aberta gargalhando quando ele me acertou

"Ah seu... " Dei um sorriso maligno e enfiei mais uma vez minha mão na neve. E assim começou nossa pequena guerrinha de neve onde eu e Harry riamos mais que bebes assistindo vídeos infantis de galinhas azuis com uma voz estranha que se tornava insuportável depois de certo tempo ouvindo a mesma.

Nossa brincadeira não se estendeu muito, pois um dos funcionários do local apareceu e nos xingou por estar quebrando quase todas as regras do jardim mesmo que não houvesse ninguém além de nós naquele lugar. Não se pode ser feliz nesse ambiente? Existe uma regra quanto a isso? Pelo amor de Deus.

Nos sentamos na arvore marcada como nossa e ficamos ali trocando caricias e conversando sobre algumas besteiras enquanto observávamos o branco cair do céu. As vezes Harry reclamava do frio, mas não vai menção de sair dali, apenas me abraçava mais forte e falava o quão quente eu era.

Não sei o que tínhamos, nossa relação não era nomeada, mas eu sabia que não éramos simples amigos -até porque amigos não se beijam e ficam abraçados de um jeito extremamente gay- e também sabia que havia algo mais intenso e profundo no modo como tratávamos um ao outro, o cuidado e preocupação que tínhamos era muito mais forte que a maioria dos casais com uma longa carga de tempo nas costas.

"Sabe" Comentei após um tempo em silencio "Eu ouvi dizer que se pode falar qualquer mentira no dia onde cai a primeira neve de dezembro. Toda mentira que você falar neste dia será perdoada, pois os primeiros flocos inspiram a pureza"

"Onde ouviu falar isso? "

"Minha mãe" Suspirei sentindo uma pontada de tristeza em meu coração "Então, qual é sua mentira Harry?

"Hum... fale-me a sua primeira"

"Eu estou muito feliz mesmo sabendo que em breve morrerei"

"Não diga isso Lou" Ele olhou para mim, seus olhos verdes se destacavam ainda mais com a paisagem branca atrás de si, levando sua mão ao meu queixo me impedindo de cortar o contato visual "Você não tem noção do quanto isso me deixa-" Ele se interrompeu como se fosse falar algo que não devia.

Ele tinha essa mania, não gostava de expor seus sentimentos nem mesmo para mim. Talvez por medo de ser julgado, eu realmente não sei.

"Me fale sua mentira Harry"

"Eu quero passar minha eternidade com você" Ele disse soltando meu queixo e olhando para o nada a sua frente.

Meu coração se apertou de uma maneira que eu nunca tinha sentindo antes, era horrível e doía, eu tinha vontade de chorar e gritar, mas apenas me desvencilhei de seus braços que não estavam mais apertados em minha volta e me levantei indo em direção a entrada do hospital.

Não escutei Harry me chamando de volta e isso só fez meu coração se apertar ainda mais e as lagrimas caírem quentes por meu rosto.
Meu coração começou a bater mais fraco e minhas pernas bambearam, quando eu estava entrando no hospital tudo pareceu confuso demais, vago demais, borrado demais.
Meu corpo chocou com o chão e gritos confusos foram captados por meus ouvidos, eu não entendia o que estava acontecendo.
Tudo escuro.

You Gotta Help MeOnde histórias criam vida. Descubra agora