Não era apenas eu que tinha que lidar com crises e problemas de saúde.
Harry também era um paciente naquele lugar, a única diferença entre nós é que ele estava ali por causa de ações idiotas de sua parte, ele quis se destruir enquanto eu me encontrava no hospital por uma desavença do destino e uma complicação em meu corpo.Ele gostava de falar sobre seus vícios tanto quanto eu gostava de falar de minha doença. Quando estávamos juntos, fazíamos de tudo para evitar assuntos relacionados a nossos erros e defeitos de nossos corpos e mentes.
Nos dias que as coisas ficavam mais difíceis para mim, eu me recusava a vê-lo mesmo que Harry pedisse para as enfermeiras que liberassem a entrada para ele me encontrar. Eu não queria que ele me visse em um estado debilitado, não queria que ele me tratasse como um doente.
Entretanto, Harry também tinha seus dias ruins. Em dias assim, ele se trancava e não falava com ninguém. As vezes ficava agressivo e me mandava ir embora, eu obedecia, pois, sabia que ele precisava de um tempo. Eu sei o quão difícil é o vício, que ele tem que lidar com a abstinência e isso não é algo simples. Mas teve um dia onde eu não consegui ignorar aquilo.
Sai do meu quarto em direção ao refeitório onde sempre achava Harry sentado sempre na mesma mesa, porém não o encontrei quando cheguei lá. Perguntei a uma das senhoras que servia comida se elas haviam visto o jovem de cabelos longos, com cara de mau que sempre fica sentado naquela mesa e as mesmas me responderam que ele apareceu pela manhã, mas que por algum motivo saiu irritado e até chutou uma das lixeiras.
Agradeci pela informação e até pensei em voltar para o meu quarto ou caminhar e conversar com as senhoras da ala de idosos -que por acaso eram muitos legais e simpático, uns amores- mas alguma parte minha falava para eu ir vê-lo.
Chaguei a ala de dependentes químicos em recuperação. Se eu achava o lugar que eu ficava doentio, aquilo seria o próprio inferno. Várias pessoas com rostos acabados, cheios de olheiras e rugas, algumas destas sentadas olhando para o nada e outras conversando sem animo umas com as outras, ao longe dava para escutar o grito de pacientes pedindo para tira-los dali ou que lhe dessem determinada substancia implícita. Minha ala deveria ser o próprio paraíso comparado ali.
Pedi informação para uma das mulheres que trabalhava ali onde era o quarto dele e a mesma me apontou uma porta no final do corredor.
Cheguei a mesma e dei três batidas fracas. Silencio. Bati de novo e ninguém veio me atender. Segurei a maçaneta e abri lentamente a porta, o quarto estava escuro e tudo que eu conseguia ver era o que era iluminado pela luz do corredor que passava pela porta, agora, aberta.
"Harry" chamei sem receber nenhuma resposta "Harry, sou eu, o Louis" apalpei a parede ao lado até achar o interruptor e acendi a luz, podendo ver finalmente o se passava naquele quarto. A cena qual eu vi era a pior de todas, Harry estava sentado em um canto com a cabeça entre os joelhos e seu quarto estava todo revirado, todas suas coisas estavam jogadas no chão e algumas destas quebradas e roupas rasgadas.
"Sai daqui! " Ele gritou sem levantar o rosto
"O que aconteceu aqui?! " Corri até ele e tentei o levantar para ver se estava com algum ferimento
"Eu já falei para sair daqui! " Harry levantou seu olhar. Seus orbes estavam vermelhos e inchados pelo choro, sua bochecha direita tinha um corte raso e sua boca estava ressecada."Pelo amor de Deus! O que é isso? Sai do chão, vamos para a cama" O segurei e ajudei a levantar, mesmo com ele dificultando um pouco as coisas, e o coloquei sentado na cama "Olha essa bagunça! "
"Por que está aqui? "
"Porque eu estava preocupado com você" Respondi me afastando e começando a juntar as coisas espalhadas no chão, tentando arrumar pelo menos um pouco aquela bagunça no quarto. Não foram todas as roupas dele que foram rasgadas, mas uma boa quantia teria que ir para o lixo.
"Louis..." Ele suspirou atraindo meu olhar para si. Harry parecia estar tendo dificuldades para respirar e seu corpo tremia, aquilo me deixava extremamente angustiado com seu estado.
"Vou ir pegar uma agua para você" Disse passando por ele, indo em direção a porta ou pelo menos iria se não fosse sua grande mão em meu pulso impedindo qualquer movimento de minha parte.
"Por favor" ele choramingou de um modo indefeso que eu nunca havia visto "N-não me d-deixe Louis"
"E-eu.." Fui interrompido por um Harry largando meu pulso, colocando a mão na boca e correndo para o banheiro em movimentos rápidos demais. Corri atrás dele e o encontrei de frente ao vaso, vomitando tudo que tinha em seu estomago. Segurei seus cabelos para não se sujarem e levei minha mão a suas costas, o afagando ali tendo de passar conforto para ele.Minutos depois, aquilo pareceu ter finalmente parado. Ajudei ele, que parecia tonto e abatido demais para se mover sozinho, a ir a pia e lavar a boca, logo depois o levei novamente para cama e o deitei da forma mais confortável possível.
"Durma. Você se sentirá melhor se dormir. " Falei o olhando com uma dor no coração que só havia sentido na época em que minha mãe ainda era viva.
"Não consigo dormir. Meu coração está batendo rápido demais. " Respondeu angustiado. Sem saber o que fazer, procurei sua mão em meio aos cobertores e a segurei com força, e a outra foi para seus fios macios onde comecei um singelo carinho.
"Se concentre em mim, esqueça tudo relacionado ao que você sente falta, apenas foque em mim. "
"Louis, eu não sei se eu consig-"
"Apenas preste atenção em mim. Tente, eu sei que você consegue" Sorri de modo confiante e sincera, tentando passar segurança para ele, mas não pareceu ter tanto efeito. Me abaixei e toquei meus lábios nos seus com carinho "Você vai conseguir Harry, você sempre consegue. É uma das pessoas mais fortes que eu conheço, não a nada que você não consiga fazer. "
Aquilo pareceu funcionar e eu arranquei um daqueles sorrisos simples, mas verdadeiros e felizes de Harry. Ele apertou mais minha mão contra a sua e me puxou para si. Deitei ao seu lado e continuei o acariciando até que percebi que o mesmo dormia, ou pelo menos eu achava que ele havia dormido.
"Obrigado Lou" Ele disse baixo para que, mesmo que só estivesse nos dois no quarto, apenas eu escutasse. E assim, me permitir adormecer ao seu lado com um sorriso no rosto.
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You Gotta Help Me
Hayran KurguOnde Louis é diagnosticado com Leucemia ,E Harry é um viciado em drogas.