Hello my friend we meet again

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Dias atuais...


Vasculhou os armários com uma brutalidade desnecessária, em busca de uma aspirina. A tosse seca, a febre alta e a respiração acelerada, o deixavam agoniado demais para lembrar-se de um detalhe tão insignificante quanto fechar as portas dos móveis com cuidado. Com as mãos trêmulas, segurou a barra do blusão amassado e enxugou as gotículas de suor que escorriam em ziguezague de suas têmporas até as bochechas pálidas. Vencido, tomou o chá que tinha preparado sem a pílula e cobriu-se com o pesado edredom, agradecendo mentalmente ao seu chefe por aquele ser o seu dia de folga. O corpo jazia dolorido sobre o colchão macio, ele tinha a sensação de que todos os seus ossos estavam triturados. Inspirou longamente, enchendo os pulmões de ar, demorando-se para expirar. Continuou com esse procedimento numa tentativa vã de normalizar a respiração descompassada. "É só um resfriado", pensou incerto das próprias palavras. Passaram-se vários dias desde que chegara do trabalho com um cansaço incomum e sentia que os sintomas se intensificavam, mas não iria num hospital. Nem que sua vida dependesse disso.

Permaneceu por mais alguns minutos deitado, mas as crises de tosses frequentes faziam suas costelas doerem, tornando a sensação incômoda demais. Sem alternativa, decidiu ir até a farmácia mais próxima.

Incerto, olhou para o chuveiro e depois fechou os olhos, prevendo o impacto agonizante das grossas gotas geladas deslizando lentamente por sua pele quente. Entretanto, o banho frio não o fizera sentir-se melhor como imaginara. Enrolou uma toalha na cintura e com outra enxugava os cabelos que um dia fora de um castanho brilhante, mas agora permaneciam opacos.

Nu, olhou-se no espelho. A imagem o desagradara um pouco. Emagrecera muito nos últimos meses, o trabalho como personal trainer ao invés de ajudar-lhe a ganhar mais massa muscular, resultou numa perda de peso considerável. Observou as enormes bolsas roxas abaixo dos olhos, os lábios levemente secos.

Vestiu uma calça jeans gasta e um casaco preto de capuz por cima de uma camiseta branca. Decidiu ir caminhando. Talvez o ar fresco o fizesse sentir-se mais disposto e, dissipasse, de uma vez por todas, a súbita sensação de asfixia.

Algumas pessoas o cumprimentaram durante o rápido trajeto e Liam retribuía com um sorriso fraco, sem ao menos se lembrar de quando e onde vira esses rostos. Nunca fizera questão de ter amigos. A única companhia a qual realmente apreciava era a si próprio. E pra ele, apenas isso bastava.


***


— Perrie, eu não posso ir. Por quê? Eu vou ficar de plantão hoje, lembra-se? – Zayn tentava de todas as formas findar aquela conversa inconveniente com a ex-noiva, e agora 'amiga'. Inconveniente em todos os sentidos possíveis. Inconveniente no lugar, o assunto e a hora.

Só a garota para fazer com que o cara politicamente correto falasse ao celular naquele trânsito infernal.

— Você sabe o quanto isso é importante pra mim! – ela repetiu a frase pela quinta vez seguida naquele diálogo. — Nós já tínhamos combinado que você iria me acompanhar nesse jantar beneficente que estou organizando – replicou com a voz esganiçada.

Zayn tinha certeza de que agora a mulher andava de um lado para o outro, desesperada, fazendo gestos exagerados. Apesar de fútil, era uma excelente pessoa. Só não media suas palavras.

— Desculpe, eu realmente sinto muito! – lamentou-se. Odiava desapontá-la, mas naquele momento sua razão obliterava suas emoções. — Não posso simplesmente faltar hoje.

My Sacrifice » ziamOnde histórias criam vida. Descubra agora