It's safe to say that I'm stuck again

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"Preciso voltar ao médico", Liam pensou.

Olhou-se no, grande e redondo, espelho do vestiário para funcionários, constatando o quão abatido e pálido o seu semblante estava. O cansaço, as náuseas, e as dores musculares e de cabeça eram máculas que o atingiam moderada, mas persistentemente. Desde que trocara a leva dos medicamentos antirretrovirais, sofria com os efeitos colaterais. Orientado por um farmacêutico, aquelas reações produzidas por seu organismo eram normais e as adversidades diminuiriam por sensibilização, reduzindo a dose de medicação aplicada.

Abriu a torneira. Sentiu um alivio imenso o percorrer quando a água gelada colidiu em seu rosto. Terminada sua higiene, apoiou a mochila preta sobre a enorme pia de granito, e retirou dali seus comprimidos.

Tinha acabado de ingeri-lo, quando alguém adentrou o recinto abruptamente. E ainda restavam dois.

Merda.

Sobressaltou-se e tentou esconder a caixa entre suas mãos, mas seus reflexos não foram tão rápidos. Um homem o encarava um semblante indecifrável. Myles.

— Payne... Você está se drogando em pleno local de trabalho? – a pergunta soou com a gravidade de uma salva de tiros. Feita de maneira tão direta que ele demorou bons segundos para conseguir absorvê-la.

Ponderou.

Um comprimido. Poderia inventar uma desculpa suficientemente coerente para ludibria-lo, uma dor de cabeça, talvez. Porém, ele havia sido pego com três. Estava encurralado em sua própria condição.

Poderia contar aquilo a Myles? Mantinha uma relação amena e de confiança, todavia eram colegas de trabalho e não amigos. Mas não somente em jogo estava o seu trabalho, uma torrente de sérios fatores também estava envolvida.

Psicologicamente, não estava preparado para assumir sua nova condição. Era ainda mais difícil do que imaginava. Proferir aquelas palavras não era o que o preocupava, entretanto o impacto que aquilo causaria nas pessoas. Sabia que o preconceito era um problema latente que se mantinha fortemente em ativa.

— Estou esperando uma explicação plausível – a voz baixa e grave ressoou agora ameaçadora. — Não vou considerar o fato de que somos amigos para limpar sua barra.

Se aquele momento não fosse tão delicado, teria esculpido em seus lábios um sorriso cínico.

Fechou os olhos fortemente e tentou articular claramente o turbilhão de pensamentos que atravessavam sua mente. Se Myles era ético o suficiente para denunciar uma pessoa que cometeu um erro, embora seu amigo, talvez não fosse de todo mal conta-lo. Obviamente sua teoria era infundada, mas preferiu enganar-se quanto ao voto de confiança. Seria menos doloroso. E bom, evitaria prováveis escândalos e um desemprego futuramente.

— Bom, eu realmente preciso tomar os medicamentos nestas quantidades. Eu sou soropositivo – ouviu-se dizendo. E o pressuposto aconteceu diante de seus olhos.

Observou que Myles abria e fechava a boca várias vezes, como se tivesse se esquecido momentaneamente de como era que se falava. O semblante sério moldou-se em pena e ele foi obrigado a mudar o foco visual. Não poderia suportar.

— Eu preciso ir – murmurou e apanhou seus pertences rapidamente.

— Liam! Espera – ele o chamou com voz esganiçada, as feições estagnadas. Se os papeis fossem inversos, talvez tivesse a mesma reação. — Eu realmente sinto muito. Não queria te deixar numa situação constrangedora.

My Sacrifice » ziamOnde histórias criam vida. Descubra agora