My Sacrifice » ziam

Well i just heard the news today... It seems my life is going to change

Fechou os olhos fortemente e ignorou, a principio, o calafrio que subira–lhe pela espinha. Reprimiu uma exclamação de dor, mas tinha certeza de que suas feições emolduravam todas as sensações que, inutilmente, tentava ocultar.

"Você é soro positivo."

A frase soara cortante, a voz masculina tornara–se grave, os lábios moviam–se disformes e arrastando as vogais numa lentidão agonizante. Era como se estivesse em câmera lenta, o tempo congelado.

Os efeitos pioneiros surgiram. Sentiu seus músculos contraírem-se como se houvessem o golpeado no estômago, as palavras proferidas pelo homem soaram aos seus ouvidos com a gravidade de uma salva de tiros. De imediato, lágrimas acumularam-se em seus olhos, os batimentos cardíacos e a pulsação estavam tão rápidos que poderia sentir seus reclames em cada poro do seu ser.

Fungou. Fazia um enorme esforço para impedir que parte de sua dor fosse expelida em humilhantes lágrimas. Ele era vazio. Como algo poderia tornar-se mais vazio ainda?

Liam processou lentamente a informação e uma súbita tonteira o atingiu. Sentiu-se vagando sem rumo em um universo paralelo, a visão turva marcada por borrões pretos e figuras desfocadas, um leve tremor em suas mãos. Definitivamente, as emoções em frangalhos.

Não era possível. Deveria ter algum erro, aquele veredito só poderia ser fruto de um erro.

Tentou convencer-se, mas quando abriu os olhos e fitou o semblante terrivelmente sério do médico, suas esperanças simplesmente cairiam por terra, acumulando-se aos seus pés um futuro sombrio. Imaginou-se numa luta desenfreada pela vida, respirando através de aparelhos, magro, abatido, vegetando, agonizando... Morrendo.

Dois sentimentos opostos o assolavam, mas para o rapaz sobrepunha o sombrio. Ele encarou o homem de jaleco impecavelmente branco, tentou articular algumas frases, mas as palavras simplesmente não saiam. Inspirou longamente, tentou manter-se calmo e fez uma nova tentativa:

— Não pode ser verdade – o murmúrio saíra quase imperceptível, aprumou-se na cama dura e imediatamente uma enfermeira ajeitou-lhe os travesseiros, retirando-se do quarto, em seguida.

— Eu sinto muito – o homem olhou-o diretamente, observando as feições moldadas em desespero e descrença. — Fizemos alguns exames, apenas para assegurar – comentou num tom comedido entre sério e cauteloso, mexendo as mãos freneticamente. — Com o acidente, você perdeu muito sangue e tivemos que fazer uma transfusão. Através de exames no seu sangue, detectamos anticorpos anti–HIV.

Um silêncio fleumático instalou-se no ambiente, tornando-o constrangedor. Louis supôs que aquele não era o melhor momento para articular explicações cautelosas. Antes das informações o paciente deveria aceitar sua nova condição, estando ciente de que apesar de se tratar de uma doença grave, sem cura, certos procedimentos deveriam ser adotados, de modo que garantiriam certo controle.

Uma vida de qualidade e longevidade não era impossíveis a uma pessoa soro positiva.

Liam repudiou-se do seu descaso para com sua própria saúde, do tempo em que perdera ao recusar-se ir a um hospital e fazer os exames de rotina tal como qualquer pessoa normal.

Digeriu todas aquelas informações angustiado, incerto do próprio futuro. Valeria a pena lutar? Mesmo sendo um homem com a vida inteiramente ferrada? Sem sonhos, perspectivas, sem motivação. Talvez a morte o acolhesse melhor. Sentia-se cansado da vida monótona e teve certeza de que a felicidade plena era apenas um mito inventado por filósofos, simplesmente uma utopia.