VIVO OU MORTO (capítulo atualizado)

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E D G A R   F E R R A R I

Quando cheguei em casa, depois da festa de casamento, já era bem tarde.
Com quase todas as luzes apagadas, indicando que elas estavam dormindo, eu tentei fazer menos barulho possível. Em silêncio eu abri a porta e entrei nas pontas dos pés, tentando não fazer nenhum movimento brusco para não atrapalhar o sono delas.
Na sala mesmo, tirei meus sapatos e subi a escada de meias em passos leves até meu quarto.
Consegui entrar, sem fazer barulho, tirei o terno, jogando na primeira cadeira que vi e caí na cama, exausto.

Quando meu celular despertou, eu tive vontade de jogar ele contra a parede. Se eu consegui ter quatro horas de sono, foi muito, mas infelizmente precisava levantar para ir trabalhar.
Depois de tomar banho e me arrumar eu tive uma surpresa ao chegar na cozinha.

O meu tio Jefferson, irmão do meu pai, estava na bancada da cozinha, preparando um prato de salada de frutas com carinhas para a Ellen, que estava ao seu lado, quase grudada nele e super entretida ao vê-lo fazer o artesanato divertido com a comida. Minha avó, também estava animada com a visita, pois a mesa de café da manhã estava caprichada como nunca, com bolo de milho, sonhos, torradas, café, leite, achocolatado, misto quente e outras coisas. Isabella ajudava nossa mãe a fazer panquecas doces, que Ellen pediu após ver seus personagens de desenho animado comendo, ambas também estavam animadas com a presença do tio Jefferson.

O clima em casa estava pesado desde a recaída da minha mãe, na semana passada...
Apesar de eu ter convencido a minha avó a dar uma segunda chance antes de enviá-la de volta para a clínica de reabilitação, ela e Isabella estavam sempre com um pé atrás. Controlando os passos da minha mãe, o que ela comia, o que ela poderia beber, tentando evitar outro tipo de recaída.
O que só piorou as coisas, deixando as três mais estressadas ainda e eu no meio tentando apaziguar as coisas. Com sorte, a pequena Ellen era a nossa válvula de escape, melhorando o clima com sua risada infantil e contagiante.

No entanto, hoje as três estavam exalando bom humor, como se só a presença do tio Jefferson, as fizessem esquecer de todos os problemas.

— Uau... Que milagre é esse? — falei ao entrar na cozinha e atrair os olhares para mim.

— Bom dia, meu filhote! — minha mãe veio me abraçar animada, beijando o meu rosto. — Diz oi pro seu tio!

Sorri indo na direção do meu tio, ele veio animado me dando um abraço forte e apertado.
— Quanto tempo, meu garoto! — ele falou sorrindo ao me soltar do abraço e segurar meu rosto com as mãos, me olhando emocionado. — Meu Deus! Você está se parecendo muito com ele. — beijou minha cabeça, carinhoso, antes de me soltar — Que saudade que eu estava de vocês.

— Nós também estávamos, tio. — falei sincero.

O tio Jefferson trabalha na BOPE, assim como o meu pai era.

— Quem milagre é esse que veio nos visitar? Nem é natal... — indaguei com um sorriso brincalhão — Está em operação aqui perto?

— Edgar! — minha mãe me repreendeu.

— Eu o chamei. — Minha avó começou a atrair nossa atenção — Convidei seu tio para ficar aqui com a gente e nos ajudar a manter a casa.

— Vó... — pisquei surpreso e me virei para o tio Jeferson — Tio, não precisa disso. Estamos dando conta. O senhor não precisa se preocupar com a gente.

— Edgar, meu querido, você pediu pra dar uma segunda chance pra sua mãe... e mesmo com todo o seu esforço, as contas não batem... — ela se aproximou de mim, tomando minhas mãos nas suas — Sua irmã procurou um trabalho de babá, para nos ajudar, filho... até ela está percebendo que só com o seu salário e minha aposentadoria não está sendo o suficiente. A verdade é que eu sou uma velha, que precisa de muitos remédios e sua mãe está doente e precisa de cuidados, de remédios para controlar as crises... Temos a mensalidade da escola das suas irmãs, seus gastos com a faculdade, as contas de água, luz, gás... O supermercado, a internet, os cartões de crédito e agora o prejuízo do da vidraça da loja que temos que pagar, para o homem não dar parte da sua mãe a polícia, por dirigir bêbada... Meu filho, sozinho não tem como você arcar com tudo isso e ninguém mais contrata uma advogada da minha idade. — ela soltou as minhas mãos e foi sentar. — Seu tio aceitou nos ajudar... Com tudo, as contas, a cuidar da sua mãe. Ele conhece um grupo de AA que acredita que pode ajudar sua mãe a se recuperar.

— Vó, isso não é justo com ele... Jogar os nossos problemas em cima dele assim...

— Não foi justo quando deixei vocês desamparados, quando meu irmão morreu. — o tio Jefferson falou me encarando com pesar, a voz quase baixa — Fui um covarde, abandonando vocês em um momento tão difícil, mesmo sabendo que ele gostaria que eu cuidasse de vocês... Eu tinha perdido o meu irmão, o meu melhor amigo, mas vocês tinham perdido um alicerce, um marido, um pai e vocês três eram tão pequenos.... — meu tio abaixou a cabeça, tentando secar as lágrimas — Ajudar agora é o mínimo que eu posso fazer por vocês e pelo meu irmão... Edgar, sei que você e sua avó que mantiveram essa casa de pé, sozinhos, mas agora não precisa mais ser assim.

— Tio...

— Filho... Eu quero fazer isso, por vocês e pelo Jonathan... Por favor, me deixe ajudar...Sei que posso ajudar sua mãe a se recuperar... — Tio Jefferson me pediu ao me olhar nos olhos — Depois da morte do Jonathan, eu também me entreguei a bebida, tive que me afastar do trabalho e levei dois anos para me recuperar por completo, isso com a ajuda desse grupo do AA, que o pessoal do trabalho me indicou... E com o apoio da família... — ele abaixa os olhos envergonhado — Sei que a nossa parte da família, se afastou...

— Sua mãe nunca aprovou meu relacionamento com o Jonathan... Não foi surpresa... — minha mãe falou, desviando o olhar magoada.

— Mas foi errado... Como o que eu fiz também... Você era a esposa dele, com filhos deles...

— A avó Janaina veio, no começo, perguntou se eu e as minhas irmãs queríamos morar com ela... Mas eu nunca iria deixar a minha mãe para trás... Então eu mentia, quando era dia de visita, eu sempre deixava a mãe dormindo no quarto, a casa arrumada e fingíamos que estava tudo bem... Apesar de disfarçarem na nossa frente, eu sempre soube que a relação delas não era das melhores... Tinha medo, dela tentar nos separar... Depois ela acabou parando de visitar e só ligando... — falei...

— Foi melhor assim, eu que tinha que cuidar da minha filha e dos meus netos.

— Bom, agora vocês tem a mim também. — o tio disse sorrindo — Isso é, se Edgar concordar. Ele é o homem da casa.

Instantaneamente, todos os olhares delas se voltaram contra mim, esperando a resposta.
Como não tinha muita escolha, e a gente estava mesmo precisando de ajuda, eu cedi.

— Seja bem-vindo, tio Jefferson. — falei sorrindo.

Foi um estrondo em comemoração, elas pularam animadas me abraçando, abraçando o tio Jefferson.
Ele também veio me abraçar, feliz e bagunçou os meus cabelos.

— Você sabe que acabou de perder o título de homem da casa com essa decisão, né?

— Ei! — Isso não estava no contrato. — Resmunguei rindo, tentando arrumar o meu cabelo.

— Vai acabar se acostumando. — fala brincalhão, piscando.

JOGO EXPLOSIVO - O Bombardeador ( EM REVISÃO E EDIÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora