Capítulo 01

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     Eu estava lavando a louça do jantar, perdida nos meus pensamentos. Perguntava-me o significado da minha vida; o significado de tudo.
     Continuava em meus pensamentos quando vi um vulto colorido passar pela janela da cozinha que dava para o quintal.
Larguei os pratos e fui ver o que tinha la fora. Deparei-me com meu irmão mais velho, Matew, colocando vestido de palhaço para ir se animar uma festa infantil. Mas o vulto que eu vira tinha cores diferentes. Devia estar ficando louca. Não era a primeira vez que eu via aquele vulto e provavelmente não seria a ultima.

                           ★

     Fui para a cama naquela mesma noite pensando no vulto que eu havia visto poucas horas antes.
     Eram umas 23:47h, eu não conseguia dormir. Fiquei mexendo no celular, até que vi um vulto passar pela porta, o mesmo vulto. Cheguei a pensar que seria Matew.
Me levantei, abri a porta, olhei no corredor, e vi um palhaço. Um palhaço com a maquiagem toda borrada. Nunca fui muito fã de palhaços, mas, também nunca tive medo, porém, naquele momento, senti os cabelos da minha nuca se eriçarem. Fui tomada de medo. Ele sorria e olhava pra mim friamente. Não sabia ao certo o que fazer. Voltei pro quarto para pensar no que eu faria. Voltei para o corredor e não havia palhaço nenhum.
- Anne? - A voz da minha mãe me tirou de meus pensamentos.
- Mãe... eu... vi um palhaço, no fim do corredor... e el...
- Oi? Um palhaço? Ah querida... você deve estar delirando! Devia estar sonhando!
- Mãe... eu tenho certeza do que vi. E tenho certeza de que não era um sonho!
- An... certo. Vá dormir... e...  amanhã conversamos. Ok?
- Certo.
- Boa noite! - ela me dá um beijo na testa e volta para o seu quarto.

     Entro no meu quarto, não sabia o que tinha acontecido. Não sabia o que fazer. Para onde aquele palhaço havia ido? Tantas perguntas sem resposta. Me deitei e depois de muito tentar, dormi.

                          ★

     Acordei e vi a hora no meu celular:  8:27h. Decidi me levantar e escovar meus dentes.
Fui em direção a cozinha e ouvi meus pais conversando baixo antes de eu entrar:
- Não podemos fazer isso Amélia! - disse meu pai com um tom de voz claramente preocupado.
- Não temos outra escolha! Ela está tendo alucinações. Você acha isso normal? - minha mãe rebateu.
- Ela viveu desde que nasceu até os 3 anos em um orfanato Amélia! Você acha justo pra ela?
- Nada nessa vida é justo. Você sabe muito bem a história da minha vida!
- Sim, eu sei, você se divorciou do seu marido e perdeu seu filho. Mas você tem que se lembrar que eu também não tive uma vida fácil! Quer que eu repita a história da minha vida pra você?
     Minha mãe permaneceu calada.
- Amélia, minha ex-mulher me abandonou com o Matew ainda bebê.
- Eu sei, não precisava me lembrar de nada disso.
- Agora, você quer prender nossa filha em um hospicio, quer que ela tenha uma vida injusta igual a nossa?
- Não vejo outra opção Carlos.

     Não tinha acreditado no que eu havia ouvido. Minha mãe realmente iria me colocar em um hospicio? Não, eu tinha que fugir. Para aonde? Não sei. Mas eu tinha que fazer alguma coisa.

                          ★

     Fui até ao meu quarto e comecei a jogar todas as minhas roupas dentro de uma bolsa. Prescisava de comida também.          
     Fui até a cozinha. Meus pais não estavam lá. Peguei tudo o que eu gostava e joguei em outra bolsa.
     A parte mais dificil do meu plano mirabolante havia chegado.
     Como eu iria sair?
     Decidi procurar meus pais pela casa. Minha mãe estava fazendo o almoço e meu pai em seu escritório lendo um livro.

     Minha hora de fugir havia chegado.

     Peguei minhas bolsas e fui sem fazer barulho em direção a porta da frente. Estava chegando quase la quando alguém me chama.
- Pra onde você vai senhorita Anne? - disse Matew me encarando.
- Mamãe me pediu pra eu ir comprar algumas coisas pra ela!
- E as bolsas? - disse ele cruzando os braços.
- Ora Matew, pare de encher a paciência, não te interessa pra onde eu vou. - falei abrindo a porta.
- Vai fugir.
- O que?
- Vai fugir. Vi você ouvindo a conversa dos nossos pais e aproveitei para ouvir também!
- Vai me impedir?
- Não.
- Não?
- Não. Quero te ver feliz! Agora vá logo. Antes que eles percebam!
     Estava quase saindo quando ele se aproximou de mim e me olhou nos olhos.
- Não acho você louca. - falou ele me dando uma piscadinha e fechando a porta atrás de mim.

Eu estava livre.

   

O PalhaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora