Lisboa, Portugal — Treze anos depois
Lorenzo
Caí de costas na cama e olhei para o teto do meu quarto.
Estou cansado, porra!
Amanhã eu ia pegar estrada e voltar para o Norte em direção ao Porto. As aulas iam começar em menos de um mês e, para mim, isso aconteceria em uma nova escola. Aquele era o meu último ano antes da Universidade e, desta vez, eu estava disposto a vencer tudo e todos para alcançar meus objetivos. Agora era vencer ou vencer. Para mim não havia mais espaço para meios-termos.
Fechei os olhos e lembrei-me dela. A única pessoa que havia significado algo para mim e acreditado que eu podia vencer. Seus olhos doces e sorriso meigo. Seus cabelos longos e castanhos. Sua alma cheia de luz. Que saudades, mamma!
Ela partiu e, mesmo sabendo que eu ainda tinha uma tia-madrinha que me amava como se fosse minha própria mãe, parecia que mais ninguém neste maldito mundo conseguia me fazer sentir completo.
A dor rasgava o meu peito nos últimos dois anos, sempre que lembrava dela, e, mais uma vez, percebia que nunca mais a teria ao meu lado. Sentia falta de ouvir a sua risada alegre quando me abraçava após cada pequena vitória que eu conseguia, após cada mínimo esforço que eu fazia para colocar o meu mundo em equilíbrio. A solidão nunca foi um problema para mim quando eu a tinha ao meu lado, mesmo durante o período em que ficamos os dois sozinhos.
Fechei os olhos e transportei-me para o passado, ouvindo sua voz carinhosa ao me consolar nos meus momentos mais difíceis. Ela era a única que conseguia me acalmar quando eu colocava o inferno para fora de mim e agredia quem estivesse no meu caminho.
Fui uma criança emocionalmente explosiva e, apesar de ter uma inteligência acima da média, o meu percurso escolar foi de altos e baixos. Sempre que eu achava que tudo estava normal, um novo episódio de agressão surgia do nada e jogava todo meu esforço na merda. E ela sempre estava lá, dando-me uma explicação para tudo.
Para mim, minha mãe é que era o meu anjo, mas, se ela dizia que havia um outro, eu só podia acreditar. Eu já tinha vinte anos e ainda não havia encontrado nenhuma garota especial na minha vida que fosse aquele anjo que ela tanto falava, apesar das namoradas que tive na Itália e outras aqui em Portugal. Agora, minha mãe já não estava mais perto de mim, desde que o câncer de mama a levou, mas eu ainda honrava sua memória acreditando em suas palavras.
Sentei-me e retirei as botas. Mantive as meias, a calça jeans e o meu moletom azul. Voltei a deitar na cama, apoiando a cabeça no travesseiro e passando as mãos no rosto.
A noite já ia alta e, pela janela do quarto, vi que o tempo esfriara bastante. Tinha certeza que nos arredores do Porto fazia uma noite de denso nevoeiro. Eu gostava de ver as brumas tomando conta da rua e escondendo tudo nas sombras. Normalmente, saía em noites assim para andar pelos arredores, quando poucas pessoas se aventuravam a enfrentar o frio e o nevoeiro do litoral. Já estava acostumado com a solidão e até gostava de estar sozinho nestas ocasiões.
Olhei para o meu labrador estirado preguiçosamente em frente à minha cama, seu pelo castanho se sobressaindo em contraste com o padrão escuro do tapete. Deitando de lado, estendi a mão e acariciei suas orelhas macias, vendo-o abanar o rabo alegremente.
— Nada de passear hoje, amigão! Com essa viagem amanhã, vamos ficar em casa e tentar relaxar de outra forma.
Ele ainda era quase um bebê, com pouco mais de um ano, mas estava ganhando rapidamente tamanho, peso e altura. Minha tia Teresa me presenteou com ele alguns meses após a morte de minha mãe e fez-me um bem incrível.
— Será uma longa viagem, Thor, e você não vai gostar nada de ficar preso no carro por tanto tempo — provavelmente eu teria que parar em algumas Estações de Serviço para deixá-lo correr e aliviar-se.
Peguei o celular sobre a mesa de cabeceira e digitei rapidamente uma mensagem para o meu primo Pedro.
"Confirmado amanhã às oito horas?"
Não demorou muito e recebi sua resposta.
"Sim, cara! Vem me pegar em casa. Não deixe esse cão tolo sentar no meu lugar!"
Ri a valer. Thor sempre fazia uma tremenda festa quando o via. Não hesitei em enviar uma resposta.
"Vocês que são cães que se entendam :-) "
Como eu esperava, ele não disse mais nada. Voltei a pousar o celular na cabeceira e abri a gaveta em busca do controle do meu som. Lá dentro, vi a caixa do alprazolam e puxei-a para fora junto com o controle, jogando-a dentro da minha mochila. Tinha que levar a merda do medicamento comigo.
Levantei-me, abri a calça e a desci pelas pernas. Joguei sobre a poltrona próxima à janela e apenas de boxer e moletom, voltei a me deitar. Com o aquecedor ligado e debaixo do edredom, o frio não me incomodaria.
Coloquei o despertador para tocar às sete horas da manhã, peguei o controle e coloquei uma de minhas bandas de rock favoritas, que costumava ouvir com minha mãe. Logo, começou a tocar o Aerosmith.
Deitei, puxei as cobertas e ouvi os primeiros acordes de guitarra da música "Angel". Depois, veio o vocalista Steven Tyler com aquelas palavras que há anos não saíam da minha mente inquieta.
"Angel, I'm alone yeah I don't know if I can face the night
(Anjo, estou sozinho, eu não sei se consigo encarar a noite)
I'm in tears and the crying that I do is for you
(Estou em lágrimas e o choro é por sua causa)
Baby, You're my angel come and save me tonight
(Baby, você é meu anjo, venha e me salve esta noite)
You're my angel come and make it alrigh
(Você é meu anjo, venha e deixe tudo bem)
Coloquei a música em repetição automática e fechei os olhos. Mesmo sentindo o sono chegar, lembrei das palavras da minha mãe.
"Nesta tua vida, vais encontrar um anjo.... Ela será a tua salvação e tu serás a dela".
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LINHAS DO DESTINO (Prêmio Wattys 2016) - Angélica & Lorenzo - Livro 1
Romance✅ PRÊMIO WATTYS 2016 ✅ COMPLETO ✅ Registrado na CBL e BNB (Brasil), na IGAC (Portugal) e no AVCTORIS. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução (total ou parcial) de qualquer parte deste livro, incluindo adaptações. SINOPSE: Angélica sai do...