💖 Capítulo 6

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Angélica

Abri os olhos e vi o teto do meu quarto. Suguei o ar com força e me sentei abruptamente. Os meus cabelos caíram sobre o rosto enquanto tentava levar ar aos pulmões bloqueados. O meu peito soltou um chiado feio e só depois de mais duas tentativas foi que senti o alívio de voltar a respirar normalmente.

Levei a mão à garganta para ter a certeza de que não havia nada enrolado ao pescoço, sufocando-me.

Eu sabia que não havia nada. Nunca mais voltei a usar nenhum tipo de cachecol, echarpe ou qualquer outro adorno no pescoço. Ainda assim, uma coisa era saber que não havia nada e outra totalmente diferente era fazer a minha mente traumatizada acreditar naquilo.

Senti uma vontade louca de chorar, mas controlei-me por causa da minha mãe. Não queria de maneira alguma que ela desconfiasse que eu ainda tinha pesadelos por causa do que havia acontecido há mais de dois anos.

Foi quando lembrei que aquele era o dia da apresentação no colégio, quando os alunos conheciam os novos colegas de turma, os professores, todas as regras do ano letivo e mais um monte de blábláblá.

— Oh, Deus! Não quero ir à aula hoje! — suspirei, tremendamente cansada de tudo.

Caí para trás e afundei de novo no travesseiro. Só de pensar que aquele era o primeiro dia de um ano letivo inteiro, já me sentia mais cansada ainda.

Olhei para o relógio na mesa de cabeceira. Eram sete e meia da manhã e as aulas começavam às oito e meia. Eu precisava me levantar, mas a minha vontade era de ficar em casa e não ter que aturar ninguém daquele colégio estúpido!

Ainda pensei em negociar com o relógio alguns míseros minutos a mais para descansar, mas infelizmente estava no limite do horário de me levantar da cama. Não demoraria muito para a minha mãe vir me chamar.

Virei-me na cama e procurei pelo Thor por debaixo dos lençóis. Depois de umas apalpadelas aqui e acolá, encontrei-o e mergulhei o nariz no pescoço macio, adorando o calor suave sobre a pele do meu rosto.

— Humm, amo o seu calorzinho com este frio. — Entreabri os olhos na penumbra do quarto e olhei-o com carinho.

O meu ursinho de pelúcia devolveu o olhar em silêncio, continuando com a cabeça no travesseiro.

De súbito, tive flash do sonho daquela madrugada e arregalei os olhos.

Como pude me esquecer?

Tentei me lembrar apenas das partes boas do sonho, esforçando-me para esquecer todas as outras coisas que faziam aqueles sonhos serem um pesadelo.

Ele havia estado lá outra vez! Eu tinha a certeza daquilo, só não conseguia me lembrar dos pormenores.

Agarrei o Thor com mais força e sussurrei no ouvido dele.

— Você viu que voltei a sonhar com ele? — Encostei o nariz no focinho castanho. — É uma pena que nunca consigo ver quem é ou que às vezes até me esqueça dele.

Eu ainda não sabia como era possível encontrar apenas em sonhos o único rapaz que fazia o meu coração bater acelerado. Para minha grande tristeza, aquilo acontecia comigo há bastante tempo. O pior de tudo era que eu não conseguia namorar outros rapazes, sempre à espera de que algum deles balançasse o meu coração daquela maneira.

Quase em cima de fazer os meus memoráveis dezoito anos, tudo o que eu mais queria era que ele aparecesse na minha vida real. Eu já estava me tornando motivo de zombaria entre os meus colegas por não viver pendurada no pescoço de um rapaz diferente a cada verão.

Oh! Vão todos à merda!

Eu não pretendia me agarrar com qualquer um só para calar a boca daqueles idiotas.

LINHAS DO DESTINO (Prêmio Wattys 2016) - Angélica & Lorenzo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora