💖 Capítulo 4

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Angélica

A minha primeira sensação foi de sentir no corpo aquele frio implacável do inverno europeu, um frio que não perdoava nada nem ninguém, por mais agasalhos que se usasse. Pensei que deveria ter vestido algo mais quente antes de sair de casa e olhei para o meu corpo, tentando ver o que esqueci de vestir para sentir tanto frio.

Espantada, percebi que estava usando a minha antiga camisola branca com flores amarelas, como se ainda estivesse em pleno verão brasileiro. O problema era que eu não morava há anos no Recife e aquela roupa de dormir não fazia sentido algum. Também não era mais uma menina de dez anos! Tinha dezessete e em pouco tempo faria dezoito. Depois, entraria na universidade e seria uma mulher adulta.

Continuei olhando para o meu corpo, como se assim pudesse encontrar alguma explicação lógica para o fato de estar em plena Avenida dos Aliados no centro do Porto, vestida com a mesma camisola infantil que usava quando ainda morava no calor da Avenida Boa Viagem no Recife.

Os meus pés estavam descalços no chão molhado e eu tiritava de frio. Os cabelos soltos pingavam com a água da chuva que caía. A camisola grudava no corpo, deixando-me exposta. Eu tremia com um frio que ia até o fundo da alma.

A Avenida dos Aliados estava cheia de gente andando apressada, fugindo do frio e da chuva no final de um dia de trabalho. Diferentes de mim, todos estavam bem agasalhados com pesados casacos impermeáveis, cachecóis e botas de inverno.

Assustada, forcei-me a sair daquele estado de paralisia. Primeiro, comecei a andar. Depois, passei a correr no meio da praça, tentando chegar à minha casa, onde estaria protegida e segura. Eu queria a minha mãe!

Corri desesperadamente para me afastar daquele lugar. Só que quanto mais eu corria, menos distância alcançava. As minhas pernas começaram a pesar como chumbo, pareciam presas ao chão, fazendo aumentar a minha angústia e o meu medo.

Tudo aquilo era o meu pior pesadelo. Quis gritar e pedir ajuda, quis chamar a minha mãe, mas os gritos ficaram presos na garganta. Ofegante e cansada de fazer uma força enorme para sair do lugar sem sucesso, olhei para trás e vi três homens seguindo-me. Usavam sobretudos longos e pretos que voavam com a força do vento frio do Norte.

Inspirei fundo, aterrorizada. Eu sabia quem eram!

Chorando, expeli um grito mudo garganta fora, apavorada. Continuei correndo, dobrei a esquina e vi uma estação do metrô envolta na escuridão da noite chuvosa. Não havia ninguém lá.

Escondi-me nas sombras, tremendo de frio e pavor, até ver a luz central do primeiro vagão aproximar-se. Não hesitei em entrar nele assim que parou na estação. Corri e sentei-me no último banco, esperando não chamar a atenção de ninguém e ficar escondida onde não me vissem.

Fechei os olhos e comecei a rezar para as portas se fecharem antes que eles entrassem.

Por favor, meu anjo, não deixe que me peguem. Por favor! Por favor! Por favor!

Esperei, mas nada aconteceu e a minha vontade de chorar aumentou horrivelmente.

Com o coração disparado no peito, assustei-me quando um homem alto, de ombros largos e compleição forte se levantou de um assento no outro lado do corredor e se colocou em frente à porta. Ele abriu os braços e segurou firmemente os apoios laterais, bloqueando a entrada com o corpo.

Com o rosto coberto pelo capuz do casaco preto, era uma figura intransponível que impedia a entrada dentro do vagão.

Os três homens que me seguiam pararam subitamente do lado de fora. Senti a raiva deles estourarem na minha direção, mas não avançaram. O líder aproximou-se na intenção de entrar, mas não houve nem um milímetro de recuo daquele que havia se transformado no meu salvador.

Eu não sabia quem ele era, nem conseguia ver o rosto dele para o identificar, mas a sensação de segurança e o alívio que senti levaram-me quase a desfalecer sobre o banco. Com lágrimas silenciosas caindo pelo rosto, agradeci a Deus a intervenção desconhecida, mas muito bem-vinda.

Observando-o, a minha atenção se desviou para a mão esquerda que segurava o suporte de metal perto de mim, onde tinha uma tatuagem. Inclinei a cabeça para o lado, tentando ver melhor, e notei que havia uma letra tatuada em cada um dos cinco dedos da mão dele.

A. N. G. E. L.

Formam a palavra angel!

Eu quase podia ouvir o que a minha mãe sempre me dizia: "Nada na vida é por acaso, Angel. Tudo tem um motivo e uma razão para acontecer."

Fiquei paralisada, com os olhos arregalados e fixos naquela mão. Minutos, segundos ou horas poderiam ter passado enquanto eu olhava para aquela tatuagem.

Ergui o olhar para ver o rosto dele, mas o capuz escondia-o quase por completo, só deixando ver a ponta de um nariz aquilino. Foi quando ouvi, dentro do vagão, o som agudo que precedia o fechamento das portas do metrô. Ninguém havia entrado.

Naquele instante, soube que estava salva e o alívio correu forte nas minhas veias.

Uma vertigem inesperada me dominou e tudo ficou escuro à minha volta. Quando voltei a abrir os olhos com um arquejo de susto, percebi que o apito da porta do metrô era agora o som do meu despertador, que tocava o alarme das seis e meia da manhã.

Foi quando percebi que estava deitada na cama, na segurança da minha casa. Engolindo em seco e imersa em uma mistura de sentimentos de alívio, dor e medo, percebi que havia sonhado e que tudo aquilo não passou de um pesadelo.

Mais um pesadelo.

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LINHAS DO DESTINO (Prêmio Wattys 2016) - Angélica & Lorenzo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora