Capítulo 24

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- Você tá com medo gata? - o terceiro cara se aproximou colocando a mão na minha coxa e levando até a cintura, apertando a mesma. Meu medo está mais do que aparente. Meu corpo inteiro treme, as lágrimas parecem desabar com a mesma intensidade que a chuva cai. O pânico está fazendo meu cerébro se manter acordado. O puxão do homem que me segura fica mais firme. Não tenho como me livrar de três homens fortes, mas vou tentar até minhas forças acabarem. Então chuto o ar já que meus chutes não chegam á atingir nenhum dos agressores. O terceiro homem coloca a mão na frente do meu vestido e rasga a parte de cima até a parte da cintura, fazendo meu sutiã ficar totalmente á mostra. Tento me livrar, mas parece em vão, a única coisa que eu consigo é fazer com que a mão do homem que está me segurando se afrouxe. Então eu mordo ela com toda a minha força sentindo o gosto metálico na minha boca e saboreando o grito de dor que o meu agressor urra me soltando em seguida. Mas, mesmo que eu corresse não teria chance pra ir muito longe, e óbviamente eu nem chego a correr, já que o segundo homem me agarra pela barriga enquanto o homem que eu mordi a mão me xinga de mil formas diferentes. Então eu grito, o mais alto que posso, um pedido de socorro. Grito até ser impedida por um soco no estômago que faz escorrer sangue pela minha boca e minha visão fica turva. A dor lacinante se irradia por todo o meu corpo, como se fossem correntes elétricas. A única coisa que eu consigo distinguir é o barulho de um motor se aproximando de nós com uma arrancada forte pela rua. Minhas pernas fraquejam mas eu luto pra ficar de pé, ainda sendo segurada por um dos agressores. O carro se aproxima e eu ouço uma porta se abrir, tento enxergar com clareza além dos pontinhos pretos e pequenos e do embaçamento que se espalha pela minha visão, mas eu decido apenas lutar pra ficar acordada e me manter de pé.

- Larga ela - ouço uma voz familiar carregada de fúria. E logo sou empurrada pra frente caindo nos braços de alguém que me coloca dentro do carro e bate a porta me deixando lá dentro. A dor se irradia mais profundamente e eu tento controlar minha respiração. Tudo acontece muito rápido, ouço três vezes um barulho insurdecedor e tento mais uma vez, continuar acordada. Com meu pouco raciocínio, ouço alguém entrar no carro e apenas uma voz distante.

- Você tá bem? - ouço vagamente e em seguida sinto algo confortável em cima de mim. A única coisa que lembro depois disso é o barulho do carro. E então não consigo mais lutar contra minha própria mente, até mergulhar totalmente na escuridão.

(...)

A primeira coisa que consigo sentir é dor. Uma dor bem forte no estômago. Faço uma careta ainda de olhos fechados e me lembro de tudo o que aconteceu. Abro os olhos depressa, ainda com o medo tomando conta de mim, e vejo que não reconheço o lugar onde estou. O quarto tem uma cama de casal, um criado-mudo, um guarda-roupa, duas portas e uma fraca luz solar que ilumina o quarto por uma janela de vidro, o chão é de madeira polida. Sento-me, ignorando a dor idiota que faz eu me sentir fraca, e estou preparada pra levantar quando alguém abre a porta do quarto. Fico em alertada caso tenha que tentar correr, quando vejo... Josh Ashton. Ele está com um copo de água na mão e um kit de primeiro socorro. A regata preta contorna os seus músculos e ele me estuda com o olhar. De primeira apenas fico sem reação.
- Como você está se sentindo? - ele me pergunta e se senta na cama, perto dos meus pés.

- Como você me achou? - pergunto.

- Perguntei primeiro - ele disse sério.

- Acho que quando alguém leva um soco no estômago nunca fica bem - dei nos ombros e ele se levanta vindo até mim. Em seguida se senta ao meu lado, abre o kit, e tira um pano colocando algo nele que está em um frasco.

- O que é isso? - ele direciona ao meu rosto mas eu o impeço segurando o seu braço - o que é isso? - pergunto em um tom mais exigente.

- Água - observo sua expressão neutra e relaxada e me permito confiar. Ele passa o pano cuidadosamente no meu queixo e eu fico observando suas feições. O maxilar delineado, o olhar arrogante que agora se tornou concentrado. Sinto o pano acariciar minha pele enquanto ele faz movimentos delicados e cuidadosos como se estivesse com receio de me machucar.

- Encarar os outros é um péssimo hábito seu - vejo a sombra de um sorriso em seu rosto. Fico sem graça.

- Desculpa - sussurro.

- Toma, você precisa beber algo - ele pega o copo de água e coloca na minha mão. Eu tomo e espero pra iniciar minha série de perguntas.

- Onde eu estou? - pergunto.

- Na minha casa - ele responde diretamente.

- Como você me encontrou? - ele me encara por um tempo que parece infinito.

- Você precisa tomar um banho - e então ele se levanta e abre o seu guarda-roupa, tira uma toalha e me entregando. Eu franzo o cenho.

- Por que você não me responde? - eu meio que grito. Mas me controlo.

- Acho que isso não vem ao caso agora - ele fala extremamente calmo, o que me causa raiva - eu aprecio que deve estar se sentindo confusa. Mas você tem que estar totalmente estável pra conversar comigo, e não em cima da minha cama. Apesar de apreciar a cor do seu sutiã, não acho que isso seja confortável pra você - eu olhei pra mim mesma e vi que estou de calcinha e sutiã, com um lençol confortável me cobrindo até a cintura. Fico vermelha em questão de segundos e puxo o lençol pra me cobrir completamente.

- Onde está a minha roupa? - pergunto franzindo o cenho. Aposto que se eu podesse ver o meu rosto, me sentiria pior do que eu já tô me sentindo. Se alguém me colocar em uma banca de legumes na parte dos pimentões, aposto que ninguém saberia diferenciar.

- O banheiro fica aqui, pode usar o que quiser - ele aponta pra uma porta de madeira e sai em seguida. Penso em ir atrás dele e exigir minhas respostas, mas ele está completamente certo, preciso de um banho. Fico olhando pra porta embasbacada por cinco minutos, até decidir levantar e ir até o banheiro.

O banheiro não chega a ser do tamanho do meu, mas é um banheiro bonito. Tem chuveiro elétrico dentro do box, uma pia de mármore com detalhes simples, e um espelho. Vários produtos estão em um lugar da pia, mas eu não me dou o trabalho de olhar o resto do baheiro, apenas preciso tomar um banho com urgência. Vou me despindo e tomo um susto quando vejo o roxo na parte do meu estômago. Apalpo e sinto a dorzinha, então paro. Lágrimas ameaçam cair dos meus olhos mas eu não deixo cair, não posso chorar, não aqui. Me olho no espelho e vejo um pontinho de sangue embaixo do meu queixo. Argh, eu realmente preciso de um banho.

Entro no box e ligo o chuveiro deixando a água quente molhar meu corpo. A água me acalma, e em questão de tempo me sinto bem melhor. Imagino Josh, aqui no meu lugar e afasto o pensamento em segundos. Vejo seu sabonete líquido e passo, sentindo a fragância de menta. Cheira a Josh. Não consigo impedir um sorriso, pensando no quanto os meus pensamentos são idiotas. Termino o meu banho e me enxugo, vendo o meu próximo desafio, uma roupa. Me enrolo na toalha e abro a porta do banheiro. Por sorte o quarto está vazio. Mordo o meu lábio inferior pensando em uma maneira de não descer só de toalha. Olho pro guarda-roupa e reprimo uma risada. No filme, as garotas sempre pegam uma camisa do garoto, ou descem de toalha mesmo. Penso mais uma vez e acabo desistindo de pensar, abro o guarda-roupa pensando no quanto é estranho, ver minha vida como se fosse um filme ou um livro. Como já era esperado, o guarda roupa só tem roupas de homem. O que eu esperava também né? Procuro algo confortável e escolho a maior blusa que vejo. Visto e fico me olhando no espelho que fica ao lado da cama.
Me sinto engraçada e estranha. Cabem duas de mim aqui dentro. Ignoro as sensações estranhas e antes de abrir a porta, fico com medo. E se os pais dele estiverem em casa? Eles sabem ao menos o que aconteceu? Faço uma careta e tomo a decisão de uma vez por todas. Abro a porta.

Continua...

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