Meu ipê amarelo

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Procuro o silêncio porque dele me alimento. Gosto do vazio, do inexistente que há entre você e eu. Fujo do barulho e do entulho. Ando desgovernado a procura de abrigo, de um canto para chamar de meu. Nada especial, apenas uma casinha de sapê e um ipê amarelo. O poder da solidão é algo que muitos ignoram e temem por acreditarem que o distanciamento do outro é a maior dor desta vida. Na ausência do que está fora, todo e qualquer fragmento oriundo das muitas explosões internas são evidenciadas. Tudo aparece, porque por tudo me interesso. As feridas são curadas, os medos superados, os erros perdoados. O olhar para quem somos é a verdadeira medicina da alma. Todas as respostas estão dentro, não do outro, mas de cada um de nós.

A vida é uma eterna construção em busca da simplicidade. Um bebê, ao nascer, chora pela complexidade de uma vida que se inicia. Mas ele, na essência, é simples. Desnudo das vestimentas da maldade, dos julgamentos e tentações, cresce aprendendo o que, na simplicidade de uma vida bem sucedida, terá que desaprender. É o ato de esvaziar para preencher. Permitir com que o antigo dê lugar ao novo. Morrer para tornar a viver.

Ainda hoje o silêncio é ensurdecedor. Existem dias em que clamo aos céus para que alguém venha romper este meu invólucro já rachado por dentro. Quero sair, mas quero ficar. Ser e estar. Eterno "verbo to be" de um inglês que não flui. Muitos me apontam caminhos, direções ditas como possíveis, mas meu mapa é impossível. Não existem ruas, mas ranhuras na terra já batida. Por vezes um desanimo toma conta de todo o meu ser. Procuro significado no insignificante. Ver o invisível. Mas quer saber? Se não existem ruas, trilhas eu farei. Molharei com as lágrimas do meu pranto este árido coração. E na esperança de que meu canto me traga flores, sementes de amor eu jogarei em meu próprio canteiro. Um dia, eu sei, estarei diante de uma casinha de sapé e de um ipê amarelo. Um cantinho para chamar de meu.

Fragmentos de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora