Mãos limpas não contam histórias

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Outra folha arrancada do calendário e nada de novo aconteceu. Tudo é cinza, porque até o preto desbotou. Olho para os lados e não vejo nada além de uma mosca se batendo contra o vidro fechado da janela. Não acho mais graça no riso alheio, porque isso alheio à mim está. Estou cansado desta vida de questionamentos, de pressões e de ditos de certo e errado. Por que preciso da aprovação de pessoas que sequer aprovam à elas mesmas? Quem são elas para ditarem minha vida, escolherem meus passos e me tirarem os abraços? Chega, basta disso tudo. Lavarei minhas mãos, não como Pôncio Pilatos, omisso e entregue à vontade alheia, mas como um homem que não quer mais a sujeira de um outro alguém. Se eu voltar a me sujar, um dia, então que seja construindo minha própria estrada.

Toda e qualquer opinião tende a ser autobiográfica. Respondemos de acordo com aquilo que experienciamos e com forte influência das nossas crenças. Dizer o que pensamos é de grande responsabilidade e merece todo cuidado e carinho. Podemos, sem querer, contaminar a decisão de quem nos pede ajuda. Infelizmente, a atitude de falar dos outros é bastante comum. Verdade ou mentira, não importa. O bom é falar e apontar. Mas atenção, nós só notamos o defeito do outro quando somos portadores dos mesmos defeitos. O desconhecido não é reconhecido. Vemos no outro o que há em nós. Derrubar o inimigo é permanecer na invisibilidade de nós mesmos.

Carl Jung disse: "Não há despertar de consciências sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão".

Há alguns dias, em uma conversa com um velho amigo, pedi alguns conselhos sobre um assunto que muito me incomodava. A resposta: "Eu não lhe direi o que fazer porque não posso calçar seus sapatos. Mas, no final do dia, depois de você ter caminhado com as próprias pernas, poderei ajudá-lo a se descalçar".

É preciso acreditar em si e parar de temer o erro, pois ele é o primeiro passo de uma caminhada vitoriosa. Siga em frente e, com as mãos imundas, construa sua própria estrada.

Fragmentos de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora