Final Feliz

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Eu me lembro de você. Como eu era feliz quando estávamos juntos. Éramos inseparáveis, você se lembra? Deliciosamente unidos. Por alguma razão isso foi se perdendo. Fomos nos distanciando... e eu me esqueci de você. Me envolvi com muitas outras pessoas, mas todas elas tinham um grande defeito: não eram você. Por muito tempo eu me senti sozinho, mesmo acompanhado. De mãos dadas eu me perdia. Minhas conversas eram sem som. Meu sorriso, sem riso. Os carinhos que eu por vezes recebia eram gostosos e acolhedores, só na hora. O conforto e a sensualidade de um toque de cetim se transformavam em uma cama de faquir momentos depois. Me sentia cortado, apunhalado e ferido pela ilusão de encontrar no outro algo que me preenchesse, que me trouxesse um motivo para ser. Doía todas as vezes que te sentia saindo pelos furos das minhas chagas. Quantas vezes me penalizei, me puni... Como fui tolo nas minhas andanças. Sofri por me sentir só, impotente, sem coragem, sem fé, sem você. Obrigado por não ter me julgado, mas esperado. Na busca pelo que julguei estar no outro, me perdi. Tudo o que eu verdadeiramente precisava estava em você, em mim. Porque o maior encontros que podemos ter nessa vida é conosco. Me aceitar da forma como sou, sorrir para esta imagem refletida e dizer "eu te amo e respeito", é tudo o que eu preciso. Por isso eu lhe pergunto: Espelho, espelho meu, existe alguém mais feliz do que eu?

Em um tempo onde somos vistos como entregadores de resultados, sentimentos e sensações, levamos uma vida de expectativas. Esperamos do outro, o outro espera de nós. Atendemos a demanda criando não um, mas vários personagens de nós mesmos. Vivemos em um grande e eterno baile de máscaras. "Para ser aceito aqui, tenho esta. Para agradar o outro, tenho aquela". Infelizmente, toda festa acaba, mesmo antes de estarmos prontos. Saber quem é o ator (atriz) deste eterno e doloroso interpretar se torna cada vez mais necessário. Porque no momento em que nos virmos sem audiência, para que servirão tantos papeis? Não seria melhor criarmos uma única história, onde um único personagem seja forte e persistente a ponto de não desistir diante das dificuldades, flexível e adaptável para se ajustar aos muitos momentos contraditórios da vida, sensível ao belo e intocável ao sem escrúpulo? Um personagem que é feliz, porque consigo está, mas que ao mesmo tempo compartilha sua alegria com que ama e quer por perto? O nome da peça é você quem decide, porque sua vida quem dirige é você. Não é?

O maior e melhor aplauso é aquele que vem de dentro. Seja o ator de uma história verídica. O final, eu garanto, será feliz!

Fragmentos de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora