11 - Shaun, a Besta

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Não havia muito o que fazer na sede. Dem passava muito tempo lendo inúmeros livros, eram volumes grandes, com mais de mil páginas cada um. Ele era rápido, em um só dia devorou três exemplares com centenas de páginas. Richard até chegou a ver os títulos "Mágica & Magia: Um Curso Literal de Magia" por Martin Cupperstone, "A Evolução das Raças Sobrenaturais – Reedição Especial" por Maxwell Courtese e, por fim, "Prima e o Belo" por Leonardo Da Vinci. O último havia chamado um pouco mais de atenção por ter sido escrito por Da Vinci, mas Demétrius não deu muita atenção às perguntas de Richard sobre o renascentista.

Em algum daqueles dias, ele havia descoberto que, na verdade, a entrada da casa tinha um jardim. O bar pelo qual entrou era apenas uma das passagens que levavam até à sede, mas a oficial era em uma rua comum, com um jardim na frente, onde ficavam muitas flores e uma macieira. Infelizmente, as maçãs não estavam boas para se comer, mas ele ficava encostado no tronco da árvore simplesmente esperando o tempo passar e deixando a brisa escorrer por seus cabelos, aquilo o acalmava de toda aquela tensão que vivia. Sentia uma vontade dentro de si para ler algum livro scion, mas Demétrius dizia que não podia entrega-lo nenhum volume sequer, não tinha maturidade para tal atividade, precisava aprender mais sobre o que era ser um scion.

Quanto à Freya, passava o dia inteiro meditando em uma sala. Era um lugar cheio de panos presos ao teto, como se fossem várias cortinas. Ela ficava entre os panos meditando, sentada no chão e dizendo palavras indecifráveis. Richard não se sentia bem dentro daquele local e também não conseguia meditar, o que o fazia se manter longe daquele recinto desconfortável. Os outros permaneciam em suas salas trancados o dia todo trabalhando arduamente e não permitiam que ele entrasse nem sequer para dar um oi. A única que permanecia dentro da casa e deixava que algumas palavras fossem trocadas era Tina, mas ele nem sempre a achava para conversar. A empregada era muito rápida com seus instrumentos de limpeza na hora de passar de um cômodo para o outro e sumia em um piscar de olhos. Richard preferia não tentar segui-la ou poderia acabar entrando onde não era bem-vindo, descobrindo alguma coisa muito perigosa ou ativando uma bomba. Os scions escondiam coisas demais dele o que o fazia temer até mesmo uma colher, pois ela poderia fazer coisas muito extraordinárias para o seu pequeno saber.

Os dias passavam se arrastando e a solidão o dominava por dentro e por fora. Ninguém falava com ele. Todos pareciam máquinas entretidas em seus trabalhos, como se não soubessem fazer outra coisa e não fossem nem mesmo humanos – e, de fato, não eram. Só paravam de se dedicar à alguma atividade na hora do jantar, onde todos – ou quase – se reuniam em torno da mesa para trocar algumas poucas palavras e comer. Isso irritava Richard profundamente. Ele estava acostumado a ter companhia sempre por perto que lhe davam atenção, até demais como no caso de Claire. No almoço, no colégio, todos conversavam. De manhã, quando estava se arrumando para ir para o colégio, sua avó conversava com ele. O resto do dia todo tinha seus amigos. De noite, ainda tinha seus amigos e sua avó para se relacionar. Porém, agora, dentro daquela casa não tinha absolutamente ninguém. A solidão era devastadora.

Giana voltou a aparecer cedo do dia. Desta vez, veio acompanhada de um novo instrutor: o maior de todos. Era um homem muito grande, de uma altura inestimável e com costas larguíssimas. Seus cabelos eram louros queimados, ondulados, e um pouco grande, até a altura dos ombros. Tinha um nariz quebrado, boca cheia de cicatrizes, um olho cego e branco, além de ter metade uma orelha decepada. Parecia uma monstruosidade e, de imediato, Richard já sabia o que ele ensinaria.

— Luta. Ele ensinará luta, Richard. Um scion não se faz apenas de forja e livros, mas também deve saber lutar bravamente. Para isso, você será instruído por Shaun, a Besta. Não há nenhum melhor que ele quando o assunto é lutar.

Eles seguiram até um compartimento da casa, onde existia um grande galpão. Richard já havia percebido que os tamanhos internos dos cômodos não respeitavam o tamanho das estruturas da casa, havia magia envolvida no processo de construção do local, havia mais espaço que o disponível realmente. Era um longo galpão cinzento, em puro concreto. No meio, havia um ringue laranja sem qualquer proteção, tinha um formato quadrado. Nas colunas, ficavam painéis cheios de facas, adagas e outros instrumentos de lutas. No fim da sala, ficavam os arcos e os alvos.

A Saga Scion - O Diamante NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora