12 - Gnomos

5 0 0
                                    

Ela entrou pela passagem que ficava debaixo de uma antiga ponte, que quase não era mais utilizada. Era um local extremamente perigoso, onde muitos viciados em drogas iam para fumar livremente sem nenhuma interferência da polícia ou de qualquer outra pessoa.

Bastou um feitiço de ingresso, como o que ela havia usado no elevador das Burcas, e pronto. Ela passou por um portal colorido – amarelo, rosa e verde – e se encontrava, em um só passo, em uma praça não tão grande. Parecia que nos limites da praça, existia um céu. Não era como um lugar que se projetava até o infinito, onde céu se encontrava com chão. Era diferente. Bastava que o limite da praça fosse encontrado e já repousava o céu como um abismo esperando por um desavisado qualquer que quisesse cair.

No meio da praça, ficava uma espécie de obelisco de tonalidade bege. No topo do obelisco, jazia uma estrutura de metal dourado muito escuro. Era uma peça que se erguia e sustentava por um cilindro fino que no seu topo ligava-se com uma semiesfera, que ao chegar no meio tentava se completar, mas em vez de forma uma esfera, formava um cone. Aquilo tudo fazia parte do Mercado de Gnomos, era uma geratriz. As geratrizes eram criações mágicas que geravam campos de proteção e uma realidade alternativa, sem causar dano a existência daqueles que se encontravam nessa realidade. Na verdade, nada daquilo que Dominica via existia, mas graças a geratriz, ela conseguia tocar, sentir, ver e até tirar coisas reais de um campo irreal. O trabalho da geratriz era imenso, criar uma irrealidade para juntar a realidade.

As geratrizes foram proibidas desde muito tempo. No início de tudo, os scions a usaram para tentar se rebelar contra os Ancestrais, prendendo-os dentro das criações das geratrizes, mas eles saíam facilmente. Depois da Guerra do Exílio, quando os Ancestrais foram expulsos de Epheria e foram presos na Terra Escondida – ou Terra Esquecida – para sempre, aqueles que queriam os seus Mestres de volta usavam as geratrizes para tentar criar uma ponte entre o Exílio e Epheria, para traze-los de volta. O Rei criou a Lótus, uma organização, para caçar aqueles que tentavam trazer os Ancestrais por meio das geratrizes. Foi nesse período onde muitas delas foram jogadas em depósitos do Rei ou destruídas. Muitos anos depois, quando a Lótus adormeceu por não ter mais o que fazer, pois a maioria dos aspirantes a salvar os Ancestrais já haviam sido capturados, nasceu a Guerra Civil. Os rebeldes invadiram muitos armazéns e recuperaram várias geratrizes para fazer experiências. Com o fim da Guerra, elas continuaram espalhadas por muitos cantos e os gnomos não perderam seu tempo em tentar captura-las para criar campos irreais, para armazenar mercadorias e criar mercados inteiros. Antes, eles usavam encantamentos em objetos que deixavam os clientes desacordados, o que poderia ser um perigo para alguns – principalmente, os mais odiados.

Dominica andou pela praça olhando de um lado para o outro, tentando achar a tal ou o tal de Janet. Por todo os lados tinham barraquinhas improvisadas, feitas com bambus amarrados e lonas, algumas tão sujas que mais pareciam pano de chão. Vendia-se de tudo, peixes, caixas mágicas, livros, feitiços, instrumentos, varinhas, bichos, artefatos, relíquias e comida. Os vendedores eram criaturas pequeninas, com no máximo 1,20 metros de altura. Tinham bochechas rosadas, orelhas grandonas, pele parecida com plástico, olhos grandes e roxos, além de usarem muitos adereços e serem bastante risonhos.

Aqueles foram os únicos Ancestrais que sobraram. Se é que se podia chamá-los de Ancestrais. Quando os scions chegaram pela primeira vez em Epheria, os gnomos já existiam, por isso os consideram como Ancestrais, mas esses sempre foram diferentes. Viviam sempre nas periferias, não gostavam muito de Epheria, eram cheios de peripécias, além de serem exímios comerciantes. Os gnomos eram tão diferentes dos outros Ancestrais, que durante a Guerra do Exílio, eles foram esquecidos. Puderam permanecer em seus trabalhos, um pouco intimidados, claro, pois muitos scions queriam que eles fossem expulsos. Diante das pressões, o Rei assinou o Tratado da Sebe, que proibia os gnomos de ficarem em Epheria, mas os concedia a permanência na Terra. Desde então, eles vivem dos comércios em seus mercados e mesmo sendo um pouco criminosos com suas vendas, permanecem esquecidos por uma boa parcela dos scions – até que precisem deles.

A Saga Scion - O Diamante NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora